O discurso golpista do presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, é de quem está consciente de que será derrotado nas urnas de outubro próximo. A forma persistente com que o chefe do Executivo ataca a democracia e o Estado de Direito, colocando em xeque a confiabilidade das urnas eletrônicas e do sistema eleitoral, não deixa dúvidas de que o fracasso de seu projeto político é uma questão de semanas. Estivesse certo de que fez o melhor pelo País e tivesse o que mostrar ao eleitorado, Bolsonaro não precisaria do palavrório insano que todos conhecem.
Não obstante, com os seguidos ataques ao ex-presidente Lula, seu principal adversário na corrida presidencial, Bolsonaro acabou por se transformar no principal cabo eleitoral do petista, que, a depender do desenrolar do período oficial de campanha, poderá vencer no primeiro turno.
A situação de Jair Bolsonaro, gostem ou não seus adoradores e bajuladores, é extremamente desfavorável e incômoda. E tem piorado com o passar dos dias. Cercado por meia dúzia de “generais de pijama” que diuturnamente sonham com o golpe, o presidente tem insistido em estratégia que há muito deu sinais de falência.
Com o Brasil mergulhado em profunda e múltipla crise, Bolsonaro se preocupa em participar de eventos de campanha e de “motociatas”. Não por acaso, o presidente disse há dias a apoiadores que gostaria de estar em uma praia, algo que fez com impressionante frequência ao longo do mandato.
O pacote de bondades decorrente da PEC do Desespero ou PEC Kamikaze dificilmente produzirá o efeito esperado pelos palacianos, mesmo ao custo de R$ 41,2 bilhões. Na verdade, Bolsonaro, ciente de que a derrota eleitoral já bate à sua porta, decidiu arrebentar a economia para deixar um país ingovernável, situação que pode prejudicá-lo enormemente caso saia vitorioso da eleição. Mas o objetivo é inviabilizar o governo do sucessor.
No campo do golpismo, Bolsonaro começou a ser abandonado inclusive pelo que chama de “meu Exército”. No encontro com diplomatas estrangeiros, na segunda-feira (18), os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica foram convidados para o evento, mas preferiram não participar. Se a política é campo minado onde impera o pragmatismo e “meia palavra basta”, como prega a sabedoria popular, o núcleo duro do governo talvez não tenha compreendido o recado dos militares. Resumindo, em um eventual golpe o presidente não poderá contar com os militares.
Enquanto a caserna se recolhe ao papel que lhe designa a Constituição, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, se presta ao papel menor de reverberar as intenções golpistas de Bolsonaro. Contudo, no pífio encontro com representantes diplomáticos, o ministro Paulo Sérgio estava pronto para apresentar aos participantes um patético arquivo “Powerpoint” com mentiras e informações distorcidas sobre o sistema eleitoral, mas optou pelo silêncio obsequioso. Talvez tenha percebido que nos últimos meses escreveu as piores páginas do currículo como militar.
Depois do fiasco internacional em que se transformou a reunião com diplomatas, integrantes da Polícia Federal divulgaram nota oficial rebatendo as declarações de Bolsonaro sobre as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral. No documento, agentes, delegados e peritos afirmaram: “É importante reiterar que as urnas eletrônicas e o sistema eletrônico de votação já foram objeto de diversas perícias e apurações por parte da PF e que nenhum indício de ilicitude foi comprovado nas análises técnicas”.
No Congresso Nacional, onde o Centrão blindou o presidente da República contra pedidos de impeachment e outras ameaças políticas em troca do orçamento secreto, cargos no primeiro escalão do governo e outras benesses que passeiam pelo Código Penal, a situação de Bolsonaro também não é das melhores. Isso porque, apesar do bilionário valor cobrado pela blindagem política, a base aliada já admite nos bastidores que o ex-presidente Lula está mais próximo da vitória do que Bolsonaro.
Migrando para o terreno do idioma oficial de Pindorama, Jair Bolsonaro é a mais completa tradução daquilo que a ensandecida horda de apoiadores grita quando ele se faz presente: mito. Para quem desconhece o verdadeiro significado da palavra, mito é algo que passa a léguas de distância da realidade. É o caso de Jim Jones, fundador da seita “Templo dos Povos”, considerado mito por seus seguidores, até o suicídio coletivo de 917 integrantes do grupo, na Guiana (1978), que concordaram em ingerir suco de uva com cianureto.
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