O primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, renunciou ao cargo nesta quinta-feira (21), após fracassarem os esforços para evitar o esfacelamento de sua coalizão de governo.
Draghi, de 74 anos, ocupava o posto há um ano e meio e entregou formalmente sua renúncia ao presidente italiano, Sergio Mattarella, a quem agora cabe ajudar o país europeu a superar a crise política.
Mattarella provavelmente dissolverá o Parlamento e convocará eleições antecipadas para setembro ou outubro, avaliam analistas políticos. Draghi poderá permanecer na chefia de governo até lá.
Pesquisas apontam uma vitória folgada nas urnas da aliança direitista liderada pelo partido de extrema direita Irmãos da Itália (FdI), que tem raízes neofascistas.
Economista de prestígio e ex-presidente do Banco Central Europeu, Draghi foi convidado em fevereiro de 2021 por Mattarella para liderar uma coalizão heterogênea que reúne quase todos os partidos representados no Parlamento. A única exceção é o Irmãos da Itália, que permaneceu na oposição.
Nesta quarta, Draghi havia tentado salvar o governo, apelando à coalizão que, pelo bem do país, deixasse de lado suas divergências. No entanto, três partidos – o Forza Italia, de Silvio Berlusconi; a Liga, de extrema direita, e o populista Movimento Cinco Estrelas – não participaram de um voto de confiança no Senado, frustrando os esforços de Draghi para solucionar a crise política.
Numericamente, Draghi venceu o voto de confiança por 95 votos a 38, mas não pôde declarar vitória diante da abstenção de dezenas de senadores desses três partidos.
Draghi havia dito que o apoio de partidos de todo o espectro político era essencial para acabar com um impasse com potencial de desestabilizar a terceira maior economia da zona do euro, enquanto o país enfrenta pressões domésticas e geopolíticas, como a guerra na Ucrânia e a crise no fornecimento de energia.
Em um discurso antes da votação, Draghi disse que estava preparado para ficar, mas com uma condição: se os partidos se comprometessem com uma agenda comum. Mas a Liga e a Forza Italia disseram que era impossível recuperar a confiança perdida após uma crise provocada pela decisão do Movimento Cinco Estrelas de não participar de um voto de confiança na semana passada.
Draghi já havia oferecido sua demissão na última semana, mas foi convencido por Mattarella a não renunciar imediatamente e a tentar negociar com os partidos.
“Tempestade perfeita”
O comissário da União Europeia (UE) para economia, Paolo Gentiloni, escreveu no Twitter nesta quarta que o impasse criado por partidos “irresponsáveis” poderia “criar uma tempestade perfeita”, e que a Itália teria “meses difíceis à frente”.
Laurence Boone, ministro francês para Assuntos Europeus, afirmou que a renúncia de Draghi abriria um “período de incerteza” e significaria a perda de uma “pilar da Europa”.
Pesquisas recentes indicaram que a maioria dos italianos queria que Draghi continuasse à frente do governo até as próximas eleições gerais, programadas para maio de 2023.
“A centro-direita entrará para a história como aqueles que se livraram de Mario Draghi”, afirmou Francesco Galietti, analista da Policy Sonar, à agência de notícias AFP. Ele ponderou, porém, que “Draghi não fez concessões. Ele foi muito duro”.
Draghi havia “repreendido seus parceiros de coalizão por lutas internas” nos últimos meses e traçado uma política governamental que “contém medidas às quais a Liga ou o Movimento Cinco Estrelas se opõem firmemente”, disse Wolfango Piccoli, da consultoria Teneo. “Ao não fazer novas concessões a nenhuma das partes, Draghi não facilitou a vida da Liga e do Movimento Cinco Estrelas.”
Apesar de o Irmãos da Itália estar à frente nas pesquisas, o partido precisaria do apoio do Forza Italia e da Liga no Parlamento, e as três legendas frequentemente entram em confronto. Se tal coalizão saísse vencedora, “ofereceria um cenário muito mais perturbador para a Itália e a União Europeia (UE)”, escreveu Luigi Scazzieri, pesquisador do “think tank” Centre for European Reform.
O Irmãos da Itália repetidamente culpou a UE pelos problemas da Itália. Mas ao apoiar uma “resposta forte e comum da UE” à guerra do presidente russo, Vladimir Putin, contra a Ucrânia, a presidente do partido, Giorgia Meloni, já a distanciou de outras legendas de direita na Itália e na Europa, considera Holger Schmieding, economista-chefe do Banco Barenberg. (Com agências internacionais)
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