Ao convocar apoiadores para irem “às ruas pela última vez”, Bolsonaro reforça a possibilidade de golpe

 
Em 2018, ao longo da campanha presidencial, afirmamos que o então candidato Jair Bolsonaro, se eleito, em algum momento daria um “cavalo de pau” na democracia. À época, a turba de apoiadores de Bolsonaro usou de todos os métodos espúrios para nos atacar, mas, como sempre, o tempo mostra-se senhor da razão. Não temos vocação para adivinhações nem para profetas do apocalipse, mas é impossível negar que a democracia brasileira corre risco.

Em que pese as alegações dos apoiadores de Bolsonaro, a iminência de um golpe torna-se cada vez mais nítida. No dia 18 de julho, quando Jair Bolsonaro se reuniu com diplomatas estrangeiros para, ameaçando a democracia, atacar as urnas eletrônicas, o sistema de votação e ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os comandantes das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) se recusaram a participar do evento.

No dia seguinte, os comandantes militares e o Alto Comando do Exército procuraram ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para externar confiança no sistema eleitoral, o mesmo que deu a Bolsonaro e aos filhos inúmeros mandatos legislativos.

A decisão dos comandantes militares deixou claro que as Forças Armadas não reconhecem em Jair Bolsonaro a figura de “comandante em chefe”. Além disso, a ausência dos comandantes no evento com diplomatas mostrou que o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, está abandonado.

Esse quadro aponta para um impasse entre as Forças Armadas, que ratificaram o compromisso com a democracia, e uma eventual e intempestiva reação de Bolsonaro caso o resultado das urnas não lhe agrade. Isso levaria a um cenário de crise preocupante, inclusive com a possibilidade de prisão de quem desrespeitar as balizas democráticas.

Na convenção do PL que oficializou sua candidatura à reeleição, Bolsonaro mais uma vez ameaçou a democracia, mesmo que sua fala não tenha sido explícita. No evento que teve lugar no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, o presidente da República convocou seus apoiadores a saírem às ruas pela última vez no próximo dia 7 de setembro.

 
“Nós somos a maioria, somos do bem e temos disposição para lutar por liberdade e pátria. Convoco todos vocês agora para que todo mundo vá às ruas no Sete de Setembro pela última vez. Vamos às ruas pela última vez”, bradou Bolsonaro.

Não é preciso ser especialista em interpretação de texto para compreender que Jair Bolsonaro intimou a turba de apoiadores para o que pode ser o golpe contra a democracia.

Considerando que o presidente há muito insiste no discurso de que pode não haver eleição, a convocação dos apoiadores soa como prefácio do golpe, que foi tentado na mesma data em 2021, mas acabou fracassando.

Em outra ponta do golpismo bolsonarista, o ministro da Defesa deve assinar na próxima quinta-feira (28) uma declaração com o compromisso de respeitar a democracia no Brasil.

O compromisso consta do esboço da “Declaração de Brasília”, documento que deverá ser assinado por todos os participantes da 15ª edição da Conferência de Ministros de Defesa das Américas, que começou nesta segunda-feira (25), na capital federal.

O texto preliminar da “Declaração de Brasília” tem como primeiro item a reafirmação do “compromisso de respeitar plenamente a Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA), assim como a Carta Democrática Interamericana e seus valores, princípios e mecanismos”.


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