(*) Carlos Brickmann
O ex-presidente Jânio Quadros era mestre nisso: pendurou chuteiras na porta de sua sala (para indicar que não pretendia mais disputar eleições), apareceu com uma calça em cima da outra, a de cima arregaçada para mostrar a de baixo, simulando distração. O então prefeito César Maia, no calor do verão carioca, saiu de casa todo agasalhado, entrou num açougue e pediu sorvete. Doidos? Não: doido é quem pensa que isso é para valer.
Na verdade, queriam manter-se nos holofotes e escolher o tema das discussões.
A reunião de Bolsonaro com os diplomatas para falar mal das urnas em que se elegeu por mais de vinte anos foi absurda. Ou não: para o presidente, é melhor que discutam o inglês mambembe de sua assessoria e a ideia boba, e não o preço do leite e da carne. Alta de preços é tema de interesse de toda a população. Uma chatíssima discussão cheia de fatos duvidosos não causa prejuízo eleitoral nenhum. Quem não é bolsonarista critica, quem é fará tudo para explicar como aquela atitude foi brilhante ou correta, e ninguém vai mudar de ideia por causa disso. Boa parte dos eleitores não vai perder seu tempo discutindo fragilidades cibernéticas e como corrigi-las.
Ah, confirma que o presidente pensa num golpe? De novo, os bolsonaristas negam que ele pense num golpe e, se ele tentar o golpe, descobrirão um bom motivo para o apoiar. E os antibolsonaristas estão convencidos de que ele só pensa nisso.
Esse tipo de discussão serve apenas para ocultar o que deve ser discutido.
A pesquisa oficial
O PL, partido do presidente Bolsonaro, mostra uma pesquisa em que Lula tem cinco pontos de vantagem no primeiro turno. Como a margem de erro é de 2,5%, no limite há empate técnico. E como só agora entrarão em vigor as medidas do pacote eleitoral (Auxílio Brasil aumentado, vale-diesel), espera-se que Bolsonaro alcance e supere Lula. Esta pesquisa é a melhor de todas, até agora, para o presidente da República.
A pesquisa de agora
Pelo levantamento Exame-Ideia, Lula tem hoje 11 pontos percentuais de vantagem sobre Bolsonaro: 44% a 33%. No segundo turno, a vantagem de Lula se mantém: dez pontos percentuais de vantagem.
A pesquisa de amanhã
O trabalho da XP-Ipespe deve ser divulgado na segunda-feira. Não existe qualquer ligação da pesquisa com partidos: seu objetivo é trazer informações aos clientes da XP para orientar seus investimentos.
A fofoca
Há um caso de amor entre dois personagens brasilienses, ambos casados. Há vídeos e fotos de ambos, em lugares públicos, trocando beijos. Como os dois não se preocupam muito em manter segredo, em algum momento tudo deve transpirar. Conforme o momento, será mais uma fofoca, ou poderá ter alguma importância política.
Rir, rir…
Tarcísio de Freitas (um polivalente, que ocupou altos cargos com Dilma e Bolsonaro) já tem vice: ao que tudo indica, Felício Ramuth, ex-prefeito de São José dos Campos, indicado pelo PSD, que em São Paulo se aliou ao PL e a Bolsonaro. Ainda lhe falta o candidato ao Senado. Janaína Paschoal, que se elegeu deputada estadual com a maior votação do país, quer o posto, mas é vetada por grupos bolsonaristas que a acusam de vez por outra discordar do chefe.
Segure-se firme na cadeira: Bolsonaro quer lançar seu ex-ministro Marcos Pontes, o Astronauta – aquele que prometeu onze vacinas contra a Covid e não entregou nenhuma. Mas ele tem uma vantagem: quando esteve no espaço, levado pela NASA, parece ter visto São Paulo lá de cima, o que significa que conhece o Estado melhor do que Tarcísio, líder da chapa. Os evangélicos pensaram em lançar Carla Zambelli; mas Bolsonaro lhes deu a suplência do Senado, com Cezinha da Madureira. E há quem pense em lançar o ex-socialista e hoje bolsonarista Paulo Skaf, ex-presidente da Fiesp.
…rir
De Bolsonaro, garantindo que o Brasil é neutro na guerra entre Rússia e Ucrânia: “A OTAN é o local adequado para solucionar esse conflito”.
Alguém precisa contar a Bolsonaro que a ONU é uma coisa e a OTAN é outra. Se a OTAN interferir na guerra, provavelmente os arsenais nucleares acabarão não apenas com o conflito mas também com o resto do mundo.
Não dá para rir
Este colunista leu um anúncio inacreditável: um banco pequeno está oferecendo empréstimos e falando das vantagens que oferece. A que custo? “Taxas a partir de 12,9% ao mês”. Os 12,9% já são estratosféricos – e as taxas são “a partir” disso. São juros que derrubam qualquer cliente.
Matar e morrer
Em menos de um ano o Rio assistiu a três das quatro mais violentas ações policiais de sua história. O governador é candidato à reeleição.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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