(*) Gisele Leite
Ainda nos dias contemporâneos ouço alguns se manifestando em prol da volta da ditadura brasileira, algo insano de se ouvir. Não podem estar falando sério. Inicialmente, acredito que seja uma mistura de ingenuidade com ignorância.
Parte expressiva – tanto homens como mulheres – não deve saber, exatamente, o que realmente se sucedeu nos anos de chumbo. Havia crianças torturadas. Mulheres torturadas e outras tantas desaparecidas. Sem contar os homens. Nem os cadáveres dos presos e presas políticos eram entregues para suas respectivas famílias para que pudessem dar-lhes, ao menos, um funeral e um enterro. Qualquer opinião dissonante gerava a pecha de ser chamado de “subversivo”. E, daí para ser preso, como dizem os paulistas: – eram dois palitos!!
Havia censura, tortura e toda sorte de violação dos direitos humanos. E, a pergunta que não quer calar: a troco de que? Havia corrupção, havia vilania e toda sorte de negociatas, tanto que os militares ainda sonham em retornar ao poder e manter suas garras firmes no Estado. Num Estado Policialesco e sem liberdades ou democracia.
Agora, lá vem a ladainha da fragilidade das urnas eletrônicas, as mesmas que elegeram tanto o atual Presidente da República como seu clã em diferentes cargos eletivos. O mais cruel de tudo, foi a memória arquivada nas crianças da ditadura, o horror que significou aquele momento histórico. Por essa razão: ditadura, nunca mais!
Um deles, mesmo depois de adulto, perante homens fardados não consegue até hoje parar de tremer… Algumas vítimas, foram “suicidadas” … convenientemente.
Sinceramente, como cidadã brasileira não quero acreditar que outro Golpe de Estado se avizinha e, que as forças armadas participarão desse enredo trágico. Sublinhe-se que as Forças Armadas servem ao Estado e não a qualquer pessoa que ocupe a Presidência da República.
Confesso quem não conheço bem os brasileiros e brasileiras que rogam pela volta da ditadura, nem os que clamam por intervenção militar como não significasse uma grande vergonha, além de ser indignidade e até crueldade. A ignorância da história não pode ser um troféu, nem desumanizar tanto ao ponto de fazer crer que a melhor linguagem é da força, da violência e da submissão.
No próximo dia 10 de dezembro, comemoraremos o Dia Internacional dos Direitos Humanos, a Comissão Nacional da Verdade descreveu a história de 434 mortos e desaparecidos políticos, a partir de elementos informativos que foram examinados.
Infelizmente, a verdade não vem a promover o resgate da memória social, por isso, é indispensável haver a conscientização de que um Golpe de Estado será sempre ilegítimo, cruel e antidemocrático.
Desejo aos defensores fervorosos da ditadura que leiam, estudem e, que se informem, corretamente, do significado que teve mais de duas décadas de ditadura militar. E, mais, que se engajem como cidadãos livres e decentes.
O primeiro ditador militar que o mundo moderno conheceu foi Napoleão Bonaparte quando se autoproclamou Primeiro-Cônsul da França. Outro tipo de ditadura são as chamadas socialistas, alinhadas com os discursos de esquerda, enquanto as militares são alinhadas com o pensamento de direita. Nenhuma ditadura é boa e salutar.
Na ditadura utiliza-se da violência e do controle estatal para que manter no poder. E, independentemente, do matiz ideológico, suas características comuns só fazem vilipendiar a dignidade humana.
Em verdade, existem semelhanças com o que aconteceu meio século atrás, na ascensão do conservadorismo e suas pautas morais e na participação militar na tomada de decisões ou não dos países. Porém, os tempos mudaram, há muitas diferenças, em relação ao passado, como por exemplo, a falta de apoio do norte-americano para a instalação de ditaduras.
Rezemos que o atual golpismo seja um mero arremedo.
(*) Gisele Leite – Mestre e Doutora em Direito, é professora universitária.
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