Bolsonaro defende os desvarios de Daniel Silveira, mas não aceita ser chamado de “tchutchuca do Centrão”

 
Milton Viola Fernandes, o genial e saudoso Millôr, escreveu certa feita: “Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim.” A citação encaixa perfeitamente no conceito de democracia do presidente Jair Bolsonaro, um ditadorzinho covarde que ousa falar em respeito à Constituição.

Candidato a mais uma temporada no Palácio do Planalto, Bolsonaro aposta na radicalização como forma de manter unida a horda de apoiadores, que agora são responsáveis por entoar o discurso golpista.

Quando defende o direito à livre manifestação do pensamento, Bolsonaro o faz para justificar sua verborragia insana e truculenta, que encontra eco na porção radical da sociedade, a mesma que defende o golpe e o retorno da ditadura.

O chefe do Executivo confunde liberdade de expressão com senha para o cometimento de crimes, duas situações distintas e diametralmente opostas. Para Bolsonaro, liberdade de expressão serve para justificar os ataques ao Judiciário e as ameaças à democracia, algo que em qualquer país democrático e civilizado já teria resultado em impeachment.

Bolsonaro vez por outra sai em defesa do deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado a oito anos e nove meses de prisão por ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ameaças aos ministros da Corte. Silveira foi beneficiado por decreto de perdão da pena, editado pelo presidente da República.

O chefe do Executivo também já defendeu de forma enfática o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, que teve a prisão preventiva decretada no âmbito da investigação que apura suposta organização criminosa para a produção de notícias falsas contra ministros do STF. Allan dos Santos está foragido nos Estados Unidos, fuga que pode ter contado com a ajuda de um dos filhos de Bolsonaro, mas até agora o seu nome não foi incluído na lista de procurados da Interpol.

 
Em novembro de 2021, após visita à Academia Militar de Agulhas Negras (AMAN), em Resende (RJ), Bolsonaro postou-se no acostamento da Via Dutra para acenar aos motoristas que passavam na rodovia que liga São Paulo e Rio de Janeiro. Uma passageira de determinado veículo gritou “noivinha do Aristides” ao ver o presidente.

Cumprindo ordens de Bolsonaro, a Polícia Rodoviária Federal deteve a mulher, que, segundo consta em boletim de ocorrência lavrado pela Polícia Federal, teria disparado palavras de baixo calão contra o presidente da República. A mulher foi liberada pela PF após assumir o compromisso de comparecer em juízo.

O sargento Aristides teria sido instrutor de judô à época em que Bolsonaro cursou a Aman. A revelação foi feita há muitos anos por Jarbas Passarinho, que foi ministro durante a Ditadura Militar. Jarbas, que também foi senador, desprezava Bolsonaro.

Na quinta-feira (18), Bolsonaro se envolveu em uma polêmica quando deixava o Palácio da Alvorada e parou para conversar com apoiadores. Gravando com o celular em meio a apoiadores do presidente, o youtuber Wilker Leão questionou Bolsonaro sobre a sanção ao projeto que delimitou a delação premiada. Ato contínuo, Wilker foi jogado no chão pelos seguranças do presidente.

Na sequência, o youtuber chama o presidente de “tchutchuca do Centrão” e o xinga de “safado”, “covarde” e “vagabundo”. Ao se aproximar novamente, Bolsonaro agarrou Wilker pela camisa e pelo braço e tenta tirar o celular de sua mão.

É difícil afirmar que o termo “tchutchuca do Centrão”, que faz alusão à música “Bonde do tigrão”, é o mais adequado para adjetivar o fato de Bolsonaro ser refém do que há de pior na política brasileira, mas é preciso reconhecer essa relação espúria e criminosa entre o chefe do Executivo e o bloco parlamentar informal.

O UCHO.INFO é contra qualquer manifestação desrespeitosa e que ultrapasse os limites do bom-senso, mas defende a liberdade de expressão, desde que exercida com responsabilidade. De igual modo, defendemos a tese de que “o pau que bate em Chico, bate em Francisco”. Se Daniel Silveira pode xingar ministros do STF e permanecer no terreno da impunidade, Wilker Leão não pode ser jogado ao chão por seguranças presidenciais por ter chamado Bolsonaro de “tchutchuca do Centrão”.


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