Candidato à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro mudou o discurso golpista e agora diz que respeitará os resultados das urnas caso não consiga um novo mandato. Quem conhece Bolsonaro sabe que tal declaração é farsesca e não representa o seu pensamento. O discurso amainado entrou em cena por imposição do núcleo duro da campanha, que se preocupa com efeitos dos ataques ao sistema eleitoral.
“A gente está nesta empreitada buscando a reeleição, se for o entendimento. Caso contrário, a gente respeita”, afirmou Bolsonaro, no último sábado (20), durante vista à cidade de Resende (RJ).
Acreditar na repentina versão “paz e amor” de Bolsonaro é passar atestado de inocência, pois a insanidade verborrágica e de pensamento continua intacta no íntimo do presidente da República.
Diante do fato de que o Auxílio Brasil e outros benefícios pontuais – todos turbinados por interesse eleitoral – não surtiram os efeitos esperados nas pesquisas, a estratégia por trás desse recuo de Jair Bolsonaro consiste em deixar para a militância os ataques truculentos às urnas eletrônicas e a integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Não é preciso qualquer esforço do raciocínio para perceber que esse plano já está em marcha. Basta ver as mensagens trocadas por empresários bolsonaristas que preferem um golpe de Estado ao retorno de Lula ao Palácio do Planalto.
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. Centrão sinaliza que Bolsonaro poderá ser abandonado caso a possibilidade de derrota persista
Além do movimento golpista que cresce nas redes sociais, outro episódio confirmou a terceirização do plano de golpe. O serviço de inteligência do Exército detectou a possibilidade de apoiadores radicais de Bolsonaro se infiltrarem no desfile de “Sete de Setembro” para provocar tumulto e defender a intervenção militar. Isso fez com que as Forças Armadas desistissem de um evento com armas na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro. O habitual desfile no centro da capital fluminense também foi cancelado.
Considerando que qualquer transgressão cometida por Bolsonaro a partir de agora colocará em risco sua candidatura, até porque o presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, deu um duro recado durante cerimônia de posse na Corte eleitoral, a ordem é ter cautela nas declarações. Até quando Bolsonaro ficará contido não se sabe.
Aliados do presidente se animaram com sua nova postura, mas tudo não passa de armadilha eleitoral para ludibriar a parcela desavisada da população. Por outro lado, os aliados, em especial os do Centrão, não descartam a possibilidade de abandonar Bolsonaro caso a derrota nas urnas seja inevitável.
Destacamos tal possibilidade em matéria publicada na edição da última sexta-feira (19), mas apoiadores do presidente preferiram nos atacar, afirmando que se trata de notícia falsa. No domingo (21), em artigo publicado no jornal “Folha de S.Paulo”, Celso Rocha de Barros, Doutor em Sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra), afirma que é grande a chance de Bolsonaro ser abandonado por aliados. Segundo Barros, “o Centrão não banca perdedor”.
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