Centrão sinaliza que Bolsonaro poderá ser abandonado caso a possibilidade de derrota persista

 
Mentir é algo tão comum no campo da política brasileira, que seus atores tratam com espantosa normalidade as declarações dadas à sombra da mitomania. Mesmo assim, ressaltamos que há enorme e sensível diferença entre comum e normal.

Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) sequer cora a face ao mentir de maneira acintosa. Nesta sexta-feira (19), Lira, em discurso durante evento na capital paulista, afirmou ter orgulho de fazer parte do “Centrão”, o que há de pior na política nacional.

“Tenho muito orgulho quando me chamam de Centrão, porque o Centrão que eu faço parte não achincalha, não faz o toma lá dá cá”, disse o parlamentar alagoano, que cobrou muito caro para barrar os mais de 140 pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro.

A fala de Arthur Lira aconteceu um dia após Bolsonaro se envolver em polêmica à porta do Palácio da Alvorada, onde o chefe do Executivo foi chamado “tchutchuca do Centrão” pelo youtuber Wilker Leão, jogado ao chão pelos seguranças presidenciais.

Afirmar que o Centrão “não faz o toma lá, dá cá” é desdenhar da capacidade de raciocínio do cidadão, pois sabe-se que o bloco parlamentar só vota a favor do governo após acertos espúrios e nada republicanos, ou seja, depois de combinado o butim.

Na quinta-feira (18), em evento organizado pelo banco BTG Pactual, Lira disse que discussões sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas prejudicam o Brasil. “Ficar discutindo urna eletrônica não vai levar a canto nenhum. Isso só levará à insegurança e instabilidade no país”, declarou.

 
Lira também afirmou ter aconselhado Bolsonaro a interromper os ataques às urnas eletrônicas, já que a insistência no discurso poderia comprometer sua campanha à reeleição.

“Todos têm que se juntar, para que, neste momento, a gente esqueça essa polêmica e siga em frente sem maiores provocações, para que a gente possa passar a discutir, neste momento eleitoral, o que verdadeiramente importa para o Brasil”, afirmou.

Um dos próceres do Centrão e ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI) se posicionou contra os ataques de Bolsonaro às urnas eletrônicas. A declaração aconteceu evento para empresários organizado pelo grupo “Esfera Brasil”.

“Eu mesmo confio nas urnas brasileiras, confio no sistema eleitoral. Agora, eu acho que ele não é inviolável para sempre, nós temos que a cada dia aprimorar o nosso sistema eleitoral, coisa feita até pela própria Justiça Eleitoral, que ao longo do tempo tem aprimorado”, disse Ciro.

Na tentativa de camuflar a verdade e evitar uma linha de confronto com Bolsonaro, o ministro da Casa Civil abrandou a própria fala na sequência. “Às vezes se quer fabricar crise onde não existe. Nós vamos sair de um processo eleitoral que eu não tenho dúvida que o nosso país, não vai retroceder. O processo eleitoral está começando agora e eu não tenho dúvida que a população brasileira irá tomar uma decisão soberana e que será respeitada por todos nós”, frisou.

Quem conhece minimamente a política brasileira sabe que o Centrão não permanece ao lado de perdedores, até porque prejudica a essência do informal bloco parlamentar, que é alugar apoio ao governante da vez. Analisando as declarações de Arthur Lira e Ciro Nogueira é possível concluir que o Centrão está pronto para deixar Bolsonaro falando sozinho com aqueles que defendem o golpe.


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