Paulo Guedes avilta os mais pobres ao dizer que “é mentira” que 33 milhões de brasileiros passam fome

 
Que o governo de Jair Messias Bolsonaro afunda na vala da delinquência intelectual todo brasileiro coerente sabe. O perigo está na insistência do presidente e de assessores na divulgação de dados que não condizem com a realidade.

Ao discursar na abertura da 77ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, Bolsonaro transformou sua participação em um misto de comício eleitoral com espetáculo de mitomania. A enxurrada de dados inverídicos sobre a realidade brasileira surpreendeu.

Nesta quarta-feira (21) foi a vez do ministro Paulo Guedes (Economia) recorrer à sua insana e preconceituosa verborragia para reverberar uma mentira que tem sido vociferada pelo chefe do Executivo. Guedes disse, durante evento, ser inverídica a informação de que há no País 33 milhões de pessoas passando fome.

“33 milhões de pessoas passando fome é mentira. Nós estamos transferindo para os mais pobres, com o Auxílio Brasil, 1,5% do PIB, 3 vezes mais do que recebiam antes”, afirmou o ministro em evento da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

“É impossível ter 33 milhões de pessoas passando fome. Por mais que tenha havido inflação, não foi 3 vezes mais. O poder de compra está mais do que preservado por essa nova transferência de renda”, completou.

Apresentado ao eleitorado, em 2018, como “Posto Ipiranga”, Paulo Guedes se transformou ao longo do tempo em “borracharia de beira de estrada”, tantos são os erros cometidos na condução da economia do País. Sem ter como justificar o fracasso de sua gestão, o ministro distorce os fatos com desfaçatez nauseante.

 
Guedes tem direito à livre manifestação do pensamento, mas como agente público, responsável pela condução da economia, não pode ignorar a realidade. Turbinado temporariamente para tentar melhorar o desempenho de Jair Bolsonaro nas pesquisas eleitorais, o Auxílio Brasil é um deboche se comparado com os preços dos alimentos.

Além disso, pesquisas realizadas por entidades respeitadas mostram que a fome avançou sem cerimônia no Brasil. Em junho, a segunda edição do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, da Rede Penssan, apontou que 15% dos brasileiros, ou 33 milhões de pessoas, estão em insegurança alimentar grave no País. Tal patamar é semelhante ao registrado há três décadas.

Pesquisa do instituto Datafolha realizada presencialmente nos dias 27 e 28 de julho apontou que um em cada três brasileiros afirmou que a quantidade de comida em casa nos últimos meses foi insuficiente para a família.

Relatório da ONU divulgado em julho revelou que no Brasil 61,3 milhões (cerca de 3 em cada 10 habitantes) convivem com algum tipo de insegurança alimentar, sendo que 15,4 milhões se encontravam em insegurança, passando fome, no período de 2019 e 2021.

Apesar de as citadas pesquisas tratarem do mesmo tema, as metodologias são diferentes, o que impede qualquer tipo de comparação. Mesmo assim, a fome é uma dura realidade no Brasil.

Se Jair Bolsonaro e Paulo Guedes preferem fechar os olhos para a tragédia que se abate sobre os brasileiros, é chegada a hora de promover uma mudança. Até porque, em 2018, Bolsonaro afirmou em um dos debates entre presidenciáveis ser o único capaz de resolver os muitos problemas nacionais. O tempo passou e a situação piorou. Que ninguém surja em cena tentando transferir a responsabilidade para a pandemia e a guerra na Ucrânia.


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