Preocupado com a possibilidade crescente de ser derrotado no primeiro turno da eleição presidencial, Jair Bolsonaro mais uma vez mostra-se como “mais do mesmo”, recorrendo a um festival de mentiras que chega a ser nauseante.
Em transmissão pela internet, Bolsonaro novamente atacou o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, a quem culpou pelo suposto vazamento de informações do caso envolvendo seu ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid.
Alvo de investigação sobre o vazamento do inquérito sigiloso que apura invasão aos computadores do TSE nas eleições de 2018, Cid teve o telefone celular apreendido em operação da Polícia Federal autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Policiais federais detectaram no celular troca de mensagens que levantaram suspeitas sobre transações financeiras feitas no gabinete da Presidência da República.
De acordo com os investigadores, no equipamento foram encontradas trocas de mensagens por escrito, fotos e áudios com outros funcionários da Presidência que apontam na direção de depósitos fracionados e saques em dinheiro.
O material analisado pela PF indica que as movimentações financeiras tinham como objetivo o pagamento de contas pessoais da família do presidente de pessoas próximas da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Como o caso tramita em sigilo, Alexandre de Moraes abriu investigação para apurar o vazamento. Os dados foram objeto de matéria do jornal “Folha de S.Paulo” e a quebra do sigilo de Mauro Cid irritaram sobremaneira o presidente da República.
Na mencionada live, Bolsonaro atacou o presidente do TSE, afirmando que o ministro “ultrapassou todos os limites”. ““Foi o Alexandre de Moraes que vazou. Não vem com papinho que foi a PF não, porque esse pessoal da PF, Alexandre de Moraes, come na sua mão, então foi você que vazou. Vazou para quê? Para criar um clima”, acusou Bolsonaro, sem apresentar provas.
O chefe do Executivo afirmou que o suposto vazamento dos dados objetiva criar situação de constrangimento para ele próprio, seu auxiliar e outros militares que prestam apoio à Presidência da República.
De acordo com Bolsonaro, as movimentações nas contas dos auxiliares giraram em torno de R$ 12 mil e serviam para pagar despesas como a escola da filha e uma tia de Michelle que cuidava da menina. O presidente afirmou disse que não houve qualquer uso do cartão corporativo para pagar as despesas pessoais.
“Senhor Alexandre de Moraes, tem um detalhe: sabe quanto eu saquei desse cartão corporativo meu desde janeiro de 2019? Zero! Nunca usei um centavo desse cartão corporativo, então não existe isso de pagar isso por suprimento de fundo. Essa grana poderia pagar o cabeleireiro da Michelle? Zero, zero!”, disse, exaltado.
“Alexandre, você mexer comigo é uma coisa. Você mexer com a minha esposa, você ultrapassou todos os limites Alexandre de Moraes, todos os limites. Está pensando o que da vida? Que você pode tudo e tudo bem? Que um dia você vai dar uma canetada e me prender? É uma covardia”, protestou.
Bolsonaro deveria se pautar pelo dito popular que remonta à época do império romano e trata da honestidade de Pompeia Sula, esposa do então imperador Júlio César. “À mulher de César não basta ser honesta, mas parecer honesta”, prega o adágio.
Considerando que a família presidencial é atormentada por dinheiro vivo e Bolsonaro decreta sigilo de 100 anos até mesmo para assuntos relacionados à primeira-dama, a reação destemperada do presidente da República é no mínimo estapafúrdia e serve para alimentar o discurso de ódio que brota da turba de apoiadores.
Além disso, Bolsonaro precisa provar que o vazamento para a Folha partiu do ministro Alexandre de Moraes. Acusar o magistrado a esmo para criar um factoide a poucos dias das eleições é no mínimo oportunismo barato.
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