Viagem de Lula ao Egito em avião de empresário não é crime, mas não custa lembrar da mulher de César

 
Eleito para um terceiro mandato como presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva é politicamente inteligente a ponto de saber o que é permitido a uma figura pública. A decisão de viajar ao Egito, onde acontece a 27ª edição da Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 27), a bordo de jato executivo de propriedade do empresário José Seripieri Filho (Qualicorp) foi um erro político de Lula.

Opiniões das mais diversas surgiram nos últimos dias, inclusive na imprensa, mas é preciso analisar os fatos com a devida parcimônia. Lula venceu a eleição presidencial, mas ainda não foi empossado no cargo, situação que o deixa fora do alcance de qualquer infração penal.

Apesar de não ter violado a lei, o presidente eleito sabe que fatos como o que envolve a viagem à cidade egípcia de Sharm el-Sheikh devem ser evitados para inviabilizar eventuais críticas. Não configura crime, sequer pecado, viajar a bordo do avião de Seripieri Filho, porém, se mais adiante o empresário for beneficiado por alguma medida do futuro governo, surgirá um terreno fértil para suspeitas de toda ordem.

Para quem foi alvo dos desdobramentos da Operação Lava-Jato – mesmo levando em conta a anulação de ações penais, julgamentos e condenações –, Lula deveria ser mais cauteloso. Considerando que o Brasil vive preocupante momento em relação à democracia, com direito a pedidos de intervenção militar por parte da súcia bolsonarista, que se recusa a aceitar o resultado da eleição, dar munição aos golpistas é sinal de irresponsabilidade.

Por mais que alguns mais aguerridos tentem minimizar a carona oferecida a Lula, não se deve ignorar uma famosa e popular frase que remota ao período do Império Romano: “A mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta”.

 
Paralisações, protestos e clamor por golpe

Aproveitamos o ensejo para resgatar recente denúncia feita pelo UCHO.INFO, que levou a horda bolsonarista a reações descabidas: empresários que apoiam o ainda presidente Jair Bolsonaro financiaram a interrupção do trânsito nas estradas brasileiras, movimento que, dizem, foi organizado por caminhoneiros (sic).

Quando alertamos para o fato, bolsonaristas reagiram descontrolada, como sempre, na tentativa de transformar em inverdade um fato comprovado, agora também pelas autoridades. É importante que as investigações avancem e os responsáveis sejam punidos, já que o ordenamento jurídico nacional classifica como crime qualquer ameaça à democracia.

Não bastassem as paralisações nas estradas, encerradas cinco dias após a divulgação do resultado da eleição presidencial, manifestantes estão acampados diante de quarteis em várias cidades brasileiras, cobrando dos militares um golpe de Estado. Em meio à crise econômica, nenhum cidadão se dispõe a colocar a mão no bolso para clamar por uma ditadura militar. O movimento golpista tem financiamento de empresários ligados a Bolsonaro.

Todo cuidado é pouco

Em 2005, ao desembarcar no aeroporto de Brasília, o editor do UCHO.INFO recusou carona oferecida por um amigo, que à época ocupava o cargo de chefe de gabinete de Gilberto Gil, então ministro da Cultura.

Ambos, o editor e seu amigo, tinham como destino o mesmo endereço, mas a carona seria em carro oficial do Ministério. A justificativa ara a recusa foi clara e objetiva: é contraditório criticar o governo e se beneficiar da estrutura oficial. O editor foi de táxi!


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