Futebol afetivo

(*) Gisele Leite

A paixão do brasileiro pelo futebol é explicável por muitas razões. Históricas, políticas, sociais e, principalmente, psicológicas. Não há como não se identificar com o biotipo dos jogadores, com seu palavreado engraçado e sua juventude irreverente. Somos realmente o que Nelson Rodrigues chamou de “pátria de chuteiras”.

Somos também o país eternamente em desenvolvimento, de políticas públicas claudicantes, mas os passes no futebol durante a copa do mundo, ou fora dela, são mágicos, o voleio, a desenvoltura corporal que supera padrões de altura, de massa muscular e, a “ginga”? Aquele molejo que é uma mistura de Saci Pererê, Cuca e Caipora…

É mais do que um mero jogo de futebol. É um símbolo cultural que extrapola os limites da visão e da literatura. Milhões de pessoas de todas as idades, de todas as raças, de todas as classes sociais, credos e, paixões se reúnem e vibram.

E, durante jogo há de tudo, há arte, há esporte, há agressões injustificadas, há gritos e dores. Mas, sobretudo, há a alma de um povo que vê naquele momento, a razão de ser alegre, efusivo e, até patriota.

Depois dos gols, temos a merecida redenção. Perdoamos a todos, as injustiças, as injúrias, as manias e até ignorância travestida de bravura ou de estilo. Em euforia vibramos, prontamente, esquecemos a inflação, o fiasco do atual governo federal, a burocracia fundamental e diária que nos torna escravos ou vassalos de procedimentos sem lógica alguma. Enquanto fomos campeões em Copas do mundo, muitos fatos aconteceram, um regime militar totalitário, índices inflacionários altíssimos e, uma economia capenga.

Não é surpresa que o futebol seja o esporte mais valorizado e divulgado e tão merecedor de altos investimentos. E, para realização das copas do mundo, muitos estádios foram construídos, muitas realidades foram alteradas.

Somos a eterna pátria de chuteiras a driblar a história pesarosa que nos faz ainda errar muitas vezes, nem conseguimos driblar os desenganos e, trazer, finalmente, a vitória sobre as adversidades contemporâneas. No fundo, jogamos um futebol afetivo e, vencemos no campo racional e pragmático traçado nas quatro linhas imaginárias.

(*) Gisele Leite – Mestre e Doutora em Direito, é professora universitária.

As informações e opiniões contidas no texto são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo obrigatoriamente o pensamento e a linha editorial deste site de notícias.


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