Na edição de 18 de novembro passado, em matéria sobre a equipe de transição, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva precisava com urgência desfazer o que chamamos de “arca de Noé”, como forma de acalmar o mercado financeiro em relação à composição do próximo governo.
O Partido dos trabalhadores, legenda de Lula, entrou para a história como protagonista e fiador do maior escândalo de corrupção da política nacional, o Petrolão, esquema criminoso que teve sua existência antecipada pelo UCHO.INFO em agosto de 2005. Ao editor coube a missão de denunciar ao Ministério Público Federal o esquema de corrupção.
Em que pese o fato de Lula ter sido justa e legalmente beneficiado pela anulação das ações penais decorrentes do Petrolão, o PT não conseguirá se livrar da mácula deixada pelo esquema que, esvaziando os cofres da Petrobras e de outras estatais, garantiu apoio parlamentar aos governos da legenda.
Após Lula ter conquistado um novo mandato presidencial, em 30 de outubro, o PT enxergou rapidamente uma oportunidade de se reerguer como partido às custas do dinheiro público. A maneira como o partido avançou sobre os principais postos da equipe ministerial não deixa dúvida a respeito da questionável intenção.
Não se trata de negar o direito do PT de ocupar os principais cargos na Esplanada dos Ministérios, mas é importante salientar que o Brasil enfrenta profunda e múltipla crise, situação que exige o máximo de competência por parte do novo governo.
Ex-presidente da República e prestes a iniciar o terceiro mandato, Lula foi eleito na esteira de ampla coalizão partidária, o que exige a entrega de cargos às legendas que o apoiaram, mas não se pode fechar os olhos para a importância da competência de cada um dos indicados.
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. Lula precisa acalmar o mercado e desfazer a imagem de arca de Noé que emoldura a equipe de transição
A disputa por cargos ocorrida recentemente mostra de maneira inequívoca que, mesmo sem a estreia do novo governo, políticos já miram a próxima eleição. Isso explica a busca pelo comando de ministérios que proporcionem visibilidade política, em especial os que se dedicam a políticas sociais. Em suma, a crise que tira o sono dos brasileiros parece não ser importante aos que lotearam o próximo governo.
Nomes reconhecidos foram sondados para comandar importantes ministérios, mas a prudência prevaleceu diante da voracidade com que o PT brigou pelos principais cargos. Beira o incompreensível alguém eleito recentemente para um mandato legislativo aceitar convite para ocupar esse ou aquele ministério. É fato que a própria existência humana é um ato político por si só, mas tudo o que o Brasil menos precisa no momento é de politicagem.
Reconhecemos a importância de se preservar a democracia, fartamente ameaçada pelo agora fugitivo Jair Bolsonaro, da mesma forma que entendemos a necessidade de uma frente ampla para que isso fosse possível, mas há uma enorme distância entre dar a devida contrapartida aos apoiadores e tirar o Brasil da crise.
Um governo com 37 ministérios, que serve para acomodar petistas e seus aliados, não tem como mirar a excelência. Além disso, alguns nomes anunciados por Lula na quinta-feira (29) comprovam que, muito longe do chamado presidencialismo de coalizão, a nova equipe ministerial é uma questionável colcha de retalhos, costurada com a linha do escambo político.
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