Em meio a declarações descabidas, alguns ministros de Lula defendem o óbvio e são elogiados

     
    Na sexta-feira (6), o presidente Luiz Inácio da Silva fará a primeira reunião ministerial, cujo objetivo é alinhar os discursos dos ministros e evitar controvérsias e polêmicas que têm levado a desconfianças. A ordem a ser passada aos ministros durante o encontro é que todo anúncio deva passar pelo crivo de Lula.

    Desde a estreia do governo, em 2 de janeiro, muitas polêmicas surgiram a partir de declarações de ministros que parecem preocupados em fazer política, ao invés de se debruçar sobre os muitos problemas que tiram o sono dos brasileiros.

    Ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa disse na segunda-feira (2), durante entrevista aos jornalistas do programa “Roda Viva”, da TV Cultura, disse que Lula poderá ser candidato à reeleição em 2026. Em matéria publicada na edição de quarta-feira (4), o UCHO.INFO classificou como irresponsável a declaração de Costa.

    Ministro da Previdência, Carlos Lupi declarou que pretende promover uma antirreforma para desfazer as mudanças decorrentes da reforma previdenciária, aprovada pelo Congresso Nacional durante o governo de Jair Bolsonaro, que fugiu para os Estados Unidos.

    Ministro da Fazenda, o petista Fernando Haddad havia combinado com o antecessor, Paulo Guedes, a prorrogação da desoneração dos combustíveis, mas voltou atrás após determinação de Lula. Para evitar um desgaste político logo no início do governo, o presidente da República mudou de ideia e prorrogou a desoneração por 60 dias.

    Cotado para assumir a presidência da Petrobras, o senador petista Jean Paulo Prates (RN) acenou com possível intervenção do governo nos preços dos combustíveis. O mercado financeiro reagiu mal diante da declaração e as ações da petrolífera despencaram. Prates voltou à cena e declarou que “nunca ninguém falou em intervenção”.

     
    Apesar de estar batendo cabeça em alguns setores, o governo Lula pode comemorar os discursos de posse de alguns ministros, elogiados por todos. À frente do Ministério de Direitos Humanos, Silvio Almeida foi aplaudidíssimo durante a cerimonia de posse. E não poderia ser diferente. Em discurso longo e marcado pela coerência, Almeida falou o óbvio, algo que perdeu terreno na gestão Bolsonaro. O ministro defendeu a existência de um país no qual todos sejam respeitados e tenham os direitos garantidos, sem exceção. “Vocês existem e são valiosos para nós”, disse. “Um país que coloca a vida e dignidade em primeiro lugar”, completou.

    Silvio Almeida não está sozinho nesse naco de coerência do novo governo. Ministra da Saúde, Nísia Trindade, ex-presidente da Fiocruz, defendeu em seu discurso de posse uma gestão pautada pela ciência. Um discurso óbvio, como o de Silvio Almeida, mas que no governo anterior foi devorado pelo negacionismo criminoso dos contrários à vacinação.

    Marina Silva, que depois de 20 anos volta a comandar o Ministério do Meio Ambiente, disse na cerimônia de posse o que todos esperavam da reconhecida ambientalista: “Boiadas passaram por onde deveria passar apenas proteção”. Foi uma referência inominada à fala desastrada e criminosa de Ricardo Salles, proferida na fatídica reunião ministerial de 22 de abril de 2020.

    Ministra do Esporte, a ex-jogadora de vôlei Ana Moser também pautou seu discurso de posse pelo óbvio, que, como se sabe, foi covardemente abandonado pelo governo anterior. Moser disse: “Vamos buscar estratégia e parcerias necessárias para implementar a prática de esporte em todas as camadas da população”.

    “A gente tem que buscar onde está o orçamento da criança, do adulto, do idoso, porque esse indivíduo tem direito ao esporte. (..) O desafio é fazer esse desenho estratégico para que também tenha acesso ao esporte, e o dinheiro está aí e nós vamos atrás”, prometeu Ana Moser.

     
    Aparecida Gonçalves, a Cidinha, que assumiu o Ministério das Mulheres, também discursou à sombra do óbvio. “Neste projeto de destruição [do governo anterior], a mulher, como sujeito de direitos, só foi vista e pensada dentro de uma construção determinada de família, patriarcal, como se houvesse apenas um tipo de mulher e um tipo de família a ser atendida pelas políticas públicas”, disse.

    Sem citar o nome da antecessora, Damares Alves, mera despachante dos delírios autoritários de Bolsonaro, a nova ministra afirmou que na gestão anterior a pasta usurpou as bandeiras e “não cuidou nem das mulheres nem das famílias nem dos direitos humanos”. “Muito pelo contrário. A destruição dos direitos das mulheres no último governo não foi um acaso, mas um projeto. Um projeto político de invisibilização e sujeição da mulher”, destacou Aparecida Gonçalves.

    Negociador habilidoso, José Múcio Monteiro, que em diversas ocasiões recebeu nossos elogios, assumiu o Ministério da Defesa e no discurso de posse falou em sentimento de responsabilidade. “O segundo sentimento é de responsabilidade. Responsabilidade pela condução equilibrada do espírito conciliador, cooperativo e agregador que vejo permear todas as relações profissionais e pessoais no âmbito deste Ministério e das Forças Armadas que o integram”, declarou.

    Vice-presidente da República, Geraldo Alckmin tomou posse como ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Com bom trânsito no setor produtivo, Alckmin defendeu a retomada do processo de reindustralização. Na década de 80, a indústria era responsável por 30% do Produto Interno Bruto (PIB), mas hoje sequer chega a 12%. Se nada for feito, esse percentual tende a diminuir de forma progressiva.

    Tomando por base as falas absurdas e os recuos de alguns afoitos e as declarações de ministros que se pautaram pela coerência e falaram o óbvio – algo novo depois de quatro anos de negacionismo –, conclui-se que o Brasil precisa de ação, não de políticos que só estão preocupados com as próximas eleições.


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