O discurso oportunista de Mourão, os generais que sonham em liderar a direita e a sabujice de Ciro Nogueira

 
Ex-vice-presidente da República e senador eleito pelo Rio Grande do Sul, o general da reserva Antônio Hamilton Martins Mourão percebeu na fuga de Jair Bolsonaro uma oportunidade para disputar a liderança da direita, até mesmo da extrema-direita.

No apagar das luzes de 2022, na condição de presidente da República em exercício, uma vez que Bolsonaro abandonou o posto, Mourão fez um pronunciamento à nação em que criticou o agora ex-presidente, acusando-o de forma inominada de ter deixado a conta do golpismo para as Forças Armadas. Por razões óbvias o general da reserva foi atacado nas redes sociais, a começar pelos filhos de Bolsonaro.

“Lideranças que deveriam tranquilizar e unir a nação em torno de um projeto de país deixaram com que o silêncio ou o protagonismo inoportuno e deletério criassem um clima de caos e de desagregação social e de forma irresponsável deixaram que as Forças Armadas de todos os brasileiros pagassem a conta, para alguns por inação e para outros por fomentar um pretenso golpe”, disse Mourão no pronunciamento.

A reboque do pensamento tosco que acompanha alguns integrantes da caserna, em especial as “viúvas da ditadura”, Hamilton Mourão não precisou de muito tempo para criticar o novo governo. Disse o senador eleito, em entrevista à “Folha de S.Paulo”, que Lula chegou com “espírito de revanche”, como se Bolsonaro tivesse se comportado como verdadeiro estadista ao longo dos quatro anos de mandato.

“Chegou com espírito de revanche e sem entender que venceu uma eleição no photochart, portanto sem um apoio francamente majoritário”, afirmou o general da reserva, em clara demonstração de que sonha em liderar a direita.

Mourão tem direito à livre manifestação do pensamento, mas Bolsonaro, no afã de turbinar a maledicência dos apoiadores mais radicais, referiu-se a Lula usando termos como “ex-presidiário”, “cachaceiro” e “descondenado”. Apesar de ter repetido de maneira cansativa e modorrenta que jogava “dentro das quatro linhas da Constituição”, o ex-presidente é um incompetente que interpreta a lei de acordo com os próprios interesses e não aceita ser contrariado, perfil típico de aprendiz de ditador.

Mesmo assim, Mourão tem dificuldade para reconhecer que fez parte de um governo pífio, populista e que por diversas vezes ameaçou a democracia. Tivesse coragem de admitir o óbvio e inegável, Mourão talvez conseguisse atrair a atenção dos que se identificam com a direita e não flertam com o golpismo. Contudo, os chamados conservadores não podem esperar muito de alguém que foi desautorizado e humilhado anos a fio, desde a campanha presidencial de 2018.

Enquanto usa o termo revanche para criticar as decisões do novo governo, que tem desmontado a “Torre de Babel” autoritária montada por Bolsonaro, o senador eleito prefere ignorar que assessores de Lula encontraram trancadas muitas das salas do gabinete presidencial, sendo necessário chamar um chaveiro para abri-las (a informação é da jornalista Natuza Nery). Em suma, se há revanchismo na atual cena política brasileira, por certo é resquício da era Bolsonaro.

 
Generais de olho na direita

No contraponto da cobiça política de Mourão, os também generais da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz (ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência detonado por Carlos Bolsonaro) e Paulo Chagas se movimentam para eventualmente liderar a parcela da direita que votou no fugitivo Bolsonaro.

Militar preparado e coerente, Santos Cruz não poupa adjetivos quando faz referência a Jair Bolsonaro. “É preciso se livrar de Bolsonaro e do bolsonarismo. O ex-presidente não tem condições de ser líder da direita. Ele não é de direita. É um extremista populista que só prejudicou e acarretou desgastes à direita. É um dos destruidores da direita e transferiu sua responsabilidade política para os militares”, disse o general da reserva, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”.

Na opinião de Santos Cruz, a direita terá de “se recompor com liderança de qualidade, e não com um fanfarrão”. “A liderança da direita precisa ser capaz de atrair o centro, se livrar do extremismo populista-bolsonarista”.

Ciro Nogueira, o sabujo de plantão

Ex-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, senador pelo Piauí e um dos próceres do malfadado Centrão, saiu em defesa do ex-presidente após as críticas de Santos Cruz. O parlamentar, que dedica a Bolsonaro fidelidade estranha, chamou Santos Cruz de “general de pijama”.

“Quem prejudica a direita, general de pijama, é quem se traveste de porta-voz utilitário da esquerda fantasiado de conservador, mas nunca teve UM voto…” escreveu Ciro em rede social. “Reconheça sua insignificância ao falar de líderes de milhões no Brasil…”, completou.

Representante do que há de pior na política nacional, Ciro Nogueira não tem moral para atacar Santos Cruz, um dos bons nomes do Exército brasileiro. O senador deveria voltar na linha do tempo e admitir que, à sombra de interesses espúrios, serviu a um militar que deixou a caserna pela porta dos fundos por mau comportamento, além de ser um adorador confesso de torturadores. Ciro Nogueira e Jair Bolsonaro se merecem, mas a sabujice do congressista é no mínimo estranha.


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