Afastamento de Ibaneis Rocha evitou prisão e livrou Lula do fardo político de intervenção ampla no DF

 
Quem não conhece os bastidores da política sequer imagina como se dá a sequência dos fatos. Nessa seara inexiste espaço para coincidências, já que tudo acontece de maneira premeditada e em consonância com interesses múltiplos. A criminosa conivência – talvez omissão de encomenda – do governo do Distrito Federal com os atos terroristas que tomaram conta da Praça dos Três Poderes era caso para prisão do governador Ibaneis Rocha (MDB).

Diante do caos que se instalou em Brasília, após policiais militares facilitarem de forma deliberada a entrada dos terroristas na Esplanada dos Ministérios, decisão que resultou na invasão e depredação do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional, Ibaneis às pressas anunciou a exoneração de Anderson Torres, bolsonarista que comandava a Secretaria de Segurança Pública do DF, e divulgou um vídeo em que pediu desculpas ao presidente Luz Inácio Lula da Silva e aos chefes dos outros Poderes da República.

A estratégia de Ibaneis fracassou, pois de pronto o presidente Lula anunciou publicamente que não aceitaria as desculpas do governador. Entre a invasão das sedes dos três Poderes e a retirada dos terroristas bolsonaristas dos respectivos prédios houve tempo suficiente para que as autoridades dialogassem nas coxias do poder com o intuito de encontrar uma solução jurídica para a crise.

A expectativa era de intervenção no Distrito Federal, como o próprio presidente Lula deu a entender ao anunciar a medida enquanto estava em Araraquara, cidade do interior paulista. Instantes depois, integrantes do governo, esclarecendo os fatos, informaram que a intervenção federal alcançava apenas a Segurança Pública do DF, até 31 de janeiro. Não se deve descartar a possibilidade de a intenção inicial de Lula ter sofrido alterações por recomendação da equipe jurídica do governo.

Lula rumou imediatamente a Brasília, onde, assim que chegou, foi inspecionar a destruição provocada pelos terroristas no Palácio do Planalto. Em seguida, o chefe do Executivo foi à sede do STF, onde foi recebido pela ministra Rosa Weber, presidente da Corte, e pelos ministros Luís Roberto Barroso e Dias Toffoli.

Enquanto Lula voava para Brasília, a Advocacia-Geral da União e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), futuro líder do governo no Senado, protocolaram no STF pedido de afastamento de Ibaneis Rocha do cargo de governador do DF.

 
Caso o STF concordasse com o pedido de afastamento de Ibaneis, cujo relator é o ministro Alexandre de Moraes, pois foi protocolado no âmbito do inquérito dos atos antidemocráticos, Lula se livraria do peso político de intervir no governo do Distrito Federal. No começo da madrugada deste segunda-feira (9), Alexandre de Moraes determinou o afastamento de Ibaneis pelo período de 90 dias.

A Suprema Corte analisava a possibilidade de decretar a prisão de Ibaneis Rocha. Contudo, entre um fato e outro e com o passar das horas, o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, entrou em cena e, a reboque do seu prestígio, convenceu os ministros da Corte de que seria uma medida excessiva a decretação da prisão do governador do DF.

Não por acaso, horas depois do anúncio do afastamento, o governador do DF afirmou que acatava a decisão do Supremo Tribunal Federal e confia na Justiça. Ibaneis Rocha tentou salvar a trajetória política, mas não contava que os golpistas apoiadores de Bolsonaro agiriam com tamanha violência.

A solução encontrada atendeu aos interesses de todos, mas uma questão precisa ser lembrada. A vice-governadora do DF, Celina Leão (PP), que interinamente responde pelo governo do DF, é bolsonarista conhecida e próxima de Michelle Bolsonaro e Damares Alves, a senadora eleita que pediu para Jesus descer da goiabeira.

Secretário-executivo do Ministério da Justiça, o jornalista Ricardo Capelli recebeu do ministro Flávio Dino a desafiadora missão de atuar como interventor na Segurança Pública do DF, ou seja, terá de dar ordens e tomar decisões que certamente vão contra os policiais bolsonaristas que facilitaram a ação dos terroristas.

O governo do presidente Lula precisava responder firme e rapidamente às ações dos terroristas que atentaram contra a democracia e o Estado de Direito, mas o que se viu foi um acordo costurado nos bastidores por quem não treme diante do tabuleiro político.


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