Bolsonaro retorna ao Brasil após três meses refugiado na Flórida; possibilidade de prisão adiou volta

 
Após uma estada de três meses na Flórida, o ex-presidente Jair Bolsonaro retornou nesta quinta-feira (30) ao Brasil. Seu voo pousou por volta das 6h40 no Aeroporto Internacional de Brasília, onde ele era esperado por apoiadores.

Bolsonaro havia viajado para os Estados Unidos em 30 de dezembro, quebrando a tradição democrática de transmitir a faixa presidencial ao seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva.

O ex-presidente saiu do país após ter consultado advogados sobre o risco de ter uma prisão cautelar decretada em primeira instância e sem reconhecer a lisura do processo do eleitoral e a sua derrota. Na Flórida, participou de uma conferência de ultraconservadores com o ex-presidente americano Donald Trump e o ideólogo Steve Bannon.

A Polícia Federal (PF) organizou um plano de segurança especial para a chegada de Bolsonaro e determinou que ele usasse uma saída reservada do aeroporto para evitar tumultos – o que acabou reduzindo a possibilidade de criar uma imagem de forte impacto político. De acordo com o jornal “O Estado de S. Paulo”, cerca de 600 apoiadores o aguardavam no local.

Papel na oposição

Há expectativa na direção do PL que Bolsonaro se engaje em eventos pelo país promovidos pelo partido para fortalecer a sua imagem como antípoda de Lula e evitar que esse espaço seja ocupado por outros líderes da oposição, como o ex-juiz e senador Sergio Moro (União Brasil-PR).

Espera-se também que o ex-presidente participe das articulações para fortalecer as chances de candidatos do PL nas eleições municipais do próximo ano – a imprevisibilidade no comportamento de Bolsonaro, no entanto, levanta dúvidas na oposição ao governo sobre seu engajamento efetivo nesse plano.

 
Após chegar em Brasília, Bolsonaro participou de um evento do seu partido, o PL, no centro de Brasília. Ele disse que irá se empenhar pelo sucesso do PL – cujo presidente, Valdemar da Costa Neto, chamou de “nosso chefe” – e que a meta é o PL e o PP elegeram 60% dos prefeitos em 2024.

O ex-presidente exerce atualmente o cargo de presidente de honra do PL, com um salário de R$ 39 mil da legenda, e tem um escritório próprio em Brasília. Sua esposa, Michelle Bolsonaro, tomou posse na última semana como presidente do PL Mulher e também receberá salário da sigla.

Ele também disse que o perfil da atual legislatura no Congresso – mais conservadora que a anterior – “melhorou e muito” e irá mostrar “para esse pessoal que, por ora, por pouco tempo, está no poder, eles não vão fazer o que bem querem com o futuro da nossa nação.”

Na quarta-feira, antes de embarcar em seu voo, Bolsonaro afirmou à CNN Brasil que algumas coisas do passado “são páginas viradas” e que ele pretende “rodar o Brasil”. “Uma ou duas saídas por mês, no máximo três. Para a gente conversar com os nossos simpatizantes. Afinal de contas, o PL que eu estou, detém mais de 20% da Câmara e do Senado”, disse.

Contudo, o ex-presidente também declarou que não pretende “liderar nenhuma oposição”. “Não vou liderar nenhuma oposição. Vou participar com meu partido, como uma pessoa experiente (…) para colaborar com o que eles desejarem, como a gente pode se apresentar para manter o que tiver de ser mantido e mudar o que tiver de ser mudado”.

 
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De volta ao Brasil, Bolsonaro enfrentará diversos inquéritos que correm contra ele na Justiça. Um deles refere-se a um caso que veio à tona durante sua estada na Flórida: as joias recebidas de presente por ele da Arábia Saudita e que entraram ilegalmente no Brasil.

Nesta quarta-feira, a PF intimou Bolsonaro a prestar depoimento sobre as joias no dia 5 de abril. A defesa do ex-mandatário afirmou em nota que a oitiva será “uma oportunidade para ele prestar todas as informações necessárias”.

No mesmo dia, o Tribunal de Contas de União (TCU) também determinou ao ex-presidente que devolva uma terceira caixa de joias que ele recebeu do regime saudita, com valor estimado em ao menos R$ 500 mil.

Há também pelo menos cinco inquéritos criminais no Supremo relacionados a investigações envolvendo Bolsonaro, que não foram enviados à primeira instância da Justiça.

Eles apuram a conduta do ex-presidente em casos de vazamento de dados de investigação sigilosa da PF sobre ataque cibernético ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), associação falsa entre a vacina contra a Covid-19 e o risco de contrair o vírus da Aids, tentativa de interferência indevida na PF, vínculo com organizações para difusão de fake news sobre o processo eleitoral (milícias digitais e atos antidemocráticos), e eventual conexão com os atos de depredação na Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro.

No TSE, tramitam ações que questionam o comportamento de Bolsonaro em relação à campanha e às eleições, que podem inclusive torná-lo inelegível. A principal ação é uma promovida pelo PDT que menciona a reunião com diplomatas estrangeiros no Palácio da Alvorada na qual Bolsonaro fez ataques infundados às urnas e ao TSE.

Bolsonaro é também alvo de pedidos de investigação sobre temas variados que têm sido enviados diretamente para análise da primeira instância da Justiça. (Com agências de notícias)


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