Lula em Portugal: “Quem crê em solução militar luta contra a História”

 
Em discurso na Assembleia da República de Portugal nesta terça-feira (25), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a condenar a violação da integridade territorial da Ucrânia e a defender o diálogo para o fim da guerra no país europeu. O evento foi marcado por tumulto e protestos de parlamentares da extrema direita contra o petista.

“O Brasil compreende a apreensão causada pelo retorno da guerra à Europa. Condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia. Acreditamos em uma ordem internacional fundada no respeito ao Direito Internacional e na preservação das soberanias nacionais”, afirmou Lula, destacando que a “solução duradoura” para o conflito deve ser baseada “no diálogo e na negociação política”.

“Quem acredita em soluções militares para os problemas atuais luta contra os ventos da História”, declarou.

“As crises alimentar e energética são problemas de todo o mundo. Todos nós fomos afetados, de alguma forma, pelas consequências da guerra. É preciso falar da paz. Para chegar a esse objetivo, é indispensável trilhar o caminho pelo diálogo e pela diplomacia”, acrescentou.

A fala no Parlamento português ocorre dias depois de o presidente ter causado atrito com os Estados Unidos e a União Europeia (UE) ao afirmar que essas potências contribuem para prolongar o conflito em solo ucraniano. Bruxelas e a Casa Branca rebateram a declaração do brasileiro. Após as críticas, Lula já havia se manifestado condenando a violação do território ucraniano e desde que chegou a Lisboa vem adotando um tom mais brando em seu discurso sobre a guerra, dizendo que nunca igualou a Ucrânia à Rússia no contexto do conflito.

 
Conselho da ONU e acordo comercial

Durante seu discurso, Lula defendeu a ampliação do Conselho de Segurança da ONU para torná-lo mais representativo com a participação de todas as regiões. “O Conselho de Segurança das Nações Unidas encontra-se praticamente paralisado. Isso ocorre porque sua composição, determinada ao fim da Segunda Guerra Mundial, 78 anos atrás, não representa a correlação de forças do mundo contemporâneo”, disse.

Lula também reiterou o compromisso para destravar o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia e mencionou a Revolução dos Cravos, que culminou com o fim da ditadura em Portugal. Nesta terça-feira, o movimento completou 49 anos.

“O 25 de Abril permitiu que Portugal desse um verdadeiro salto para o futuro. O movimento iniciado pelos Capitães de Abril há exatos 49 anos reconquistou as liberdades civis, a participação política dos cidadãos, a democratização política, os direitos trabalhistas e a livre organização sindical, criando as bases para o desenvolvimento econômico com justiça social”, afirmou Lula, no evento de encerramento de sua viagem a Portugal.

O presidente, porém, não participou da sessão solene na Assembleia para marcar a data. Depois do ato de boas-vindas, Lula deixou o local para seguir viagem à Espanha.

Sessão marcada por tumulto

O discurso de Lula foi marcado por protestos de 12 deputados da bancada do partido de extrema direita português Chega, que ficaram de pé e seguraram bandeiras da Ucrânia e cartazes com os dizeres “chega de corrupção”. O líder da legenda, André Ventura, é apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ao iniciar sua fala, Lula arrancou aplausos da maioria dos deputados, enquanto os deputados do Chega batiam nas mesas e vaiavam. Diante do comportamento dos extremistas, o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, precisou intervir e disse que se os parlamentares quisessem continuar na sessão deveriam se comportar com educação.

 
Lula aproveitou ainda o discurso para criticar golpistas. “A democracia no Brasil viveu recentemente momentos de grave ameaça. Saudosos do autoritarismo tentaram atrasar nosso relógio em 50 anos e reverter as liberdades que conquistamos desde a transição democrática. Os ataques foram constantes. Os irmãos portugueses assistiram a tudo, preocupados com a possibilidade de que o Brasil desse as costas ao mundo”, salientou.

No final do discurso, Santos Silva pediu desculpa a Lula em nome do Parlamento português e lhe agradeceu pela “coragem e educação”. Nesse momento, o brasileiro foi aplaudido pelo presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa.

Protestos do lado de fora

Do lado de fora, cerca de 300 militantes do partido “Chega” e brasileiros do Movimento Brasil Portugal protestaram contra Lula. O grupo levava cartazes com os dizeres “Lula, ladrão, o teu lugar é na prisão” e “Tolerância zero à corrupção”.

De acordo com a agência de notícias Lusa, o protesto contou com a presença do dirigente neonazista Mário Machado. Fundador do movimento nacionalista Nova Ordem Social, da Frente Nacional e antigo membro do grupo Hammerskins Portugal, ele já foi preso por posse ilegal de arma e está envolvido em processos ligados a violência e crimes de ódio contra estrangeiros.

Ao mesmo tempo, apoiadores de Lula organizaram um contraprotesto que reuniu centenas de brasileiros e portugueses. Os manifestantes defenderam a democracia e empunharam cartazes com dizeres como “25 de abril sempre, fascismo nunca mais” e “Amor Lula”.

Após a sessão solene no Parlamento português, Lula comentou a jornalistas as manifestações de deputados do “Chega” durante o seu discurso. “Quem faz política está habituado a isso. Eu acho que essas pessoas quando voltarem para casa e deitarem a cabeça no travesseiro vão falar: que papelão nós fizemos”, disse. (Com agências internacionais)


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