Calheiros deveria voltar no tempo, acionar a alavanca da coerência e repensar o ataque a Arthur Lira

 
Gostem ou não os políticos e autoridades, o UCHO.INFO continuará cobrando coerência de cada um, mesmo que nossos alvos deixem de cumprir com o mínimo que se espera de integrantes dos Poderes. Na edição de segunda-feira, 29 de maio, afirmamos que o banditismo político empurra o Brasil para um perigoso caminho sem volta. A sequência de fatos mostra de forma inequívoca que estamos certos ao fazer tal alerta.

Na segunda-feira, usando sua conta no Twitter, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) atacou seu desafeto político, Arthur Lira (PP-AL), o presidente da Câmara dos Deputados. Em postagem que movimentou o meio político, Renan repercutiu informações publicadas no dia anterior no jornal “O Globo” sobre ação de cobrança de que é alvo Arthur Lira.

De acordo com o jornal carioca, o empresário Ricardo Dantas cobra de Lira uma dívida no valor de R$ 1,8 milhão. De acordo com Dantas, o deputado alagoano recebeu, em 2018, cheque no valor de R$ 900 mil como garantia da compra de bezerros, sem que até o momento tenha recebido os animais.

No Twitter, Renan Calheiros escreveu: “Triste exemplo: Lira é caloteiro, costuma não pagar o que deve. Pior, desvia dinheiro público e bate em mulher – deu uma surra de 2h em Jullyene, a ex-esposa e mãe de seus filhos. Confesso que aprovei a Lei Maria da Penha pensando em punir meliantes como ele.”

Com o objetivo de fustigar ainda mais o adversário, Renan voltou ao Twitter nesta terça-feira e disparou mais uma vez contra Lira: “Os podres de Lira vão acumulando. Desvios, chantagens, achaques, golpismo, agressão contra a mãe dos filhos. Não é a inteligência artificial do ChatGPT que diz. É a própria vítima da covardia, Julyene Lins, que amplia as denúncias contra o caloteiro. Faltam 580 dias para ele sair”.

Renan fez nova postagem contra Lira com base em publicação da própria Jullyenne Lins, que usou o Twitter para pedir a interferência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) nos processos envolvendo o presidente da Câmara dos Deputados.

 
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Amante, propina e gado

Que Renan e Lira travam ferrenha briga pelo poder em Alagoas todos sabem, mas o senador deveria voltar no tempo e repensar os ataques que agora faz ao adversário. Não é novidade que políticos e criminosos do “colarinho branco” usam rebanhos para justificar as estripulias financeiras. Essa é uma prática que vem de longe e não acabará tão cedo.

Em 2007, quando veio à tona o escândalo envolvendo Mônica Veloso, amante com quem Renan Calheiros teve uma filha fora do casamento, o emedebista usou dinheiro recebido de Cláudio Gontijo, lobista da empreiteira Mendes Júnior, para pagar as despesas da filha e da amante.

Com o imbróglio avançando nos tribunais, Renan alegou que usou dinheiro da venda de 2.200 cabeças de gado para custear as despesas de Mônica Veloso e da filha. O parlamentar alagoano junto ao processo nota fiscal de venda de gado, cuja autenticidade foi contestada pela Polícia Federal. Para a PF, a alegada venda de gado apresentou discrepância entre o declarado pelo senador, as notas fiscais e recibos apresentados e as guias de transportes de animais (GTAs).

Em 2016, Renan Calheiros foi denunciado por peculato pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que acusou o parlamentar de ter utilizado recursos da verba de gabinete para custear as despesas da amante. Em setembro de 2018, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) absolveu o senador.

Resumindo, em que pese o fato de Arthur Lira estar a anos-luz de ser candidato a processo de canonização, Renan Calheiros nao é a pessoa mais indicada para criticar um adversário político, principalmente quando o cardápio é a venda de gado.


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