Quando o eleitor vai às urnas, a expectativa é de que os eleitos, no exercício dos respectivos mandatos, atuem em defesa dos interesses da sociedade. No Brasil, infelizmente, assim como em muitos países, a política é um imundo balcão de negócios, onde prevalece o escambo criminoso.
O País vive uma grave e preocupante crise econômica e social, mas os brasileiros preferem assistir ao escárnio que brota do Congresso Nacional sem esboçar qualquer reação. O mínimo que os cidadãos deveriam fazer é protestar de forma contundente, pois do contrário permaneceremos à beira do abismo.
Em matéria publicada na edição de 29 de maio, afirmamos que o banditismo político coloca o Brasil em um caminho perigoso e sem volta. As últimas decisões tomadas pelos deputados federais, sob a batuta do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mostram que nossos alertas são procedentes. Aliás, ao longo dos mais de vinte anos temos destacado a importância de o brasileiro se interessar por política.
A aprovação do marco temporal para a demarcação de terras indígenas, por 283 votos a 155, foi não apenas uma derrota do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas um exemplo claro de que o proxenetismo político corre solto na Câmara dos Deputados.
A questão vai além das ideologias direitistas e esquerdistas, atropelando os interesses do País e os direitos dos povos originários. Enquanto conservadores e ruralistas comemoram a decisão que poderá ser revisada no Senado, o Brasil perde protagonismo internacional no campo dos temas ambientais, muitos dos quais relacionados às exportações brasileiras.
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Outro ponto sensível é a Medida Provisória que trata da restruturação do governo. Faltando apenas um dia para a MP perder a validade, o governo Lula corre o sério risco de ver sua estrutura ruir, sendo obrigado a voltar à configuração do governo golpista de Jair Bolsonaro.
Um dos caciques do chamado Centrão, o que há de pior na política nacional, Arthur Lira deixou para esta quarta-feira (30) a votação da MP, obrigando o governo a abrir os cofres e distribuir cargos. Em suma, roubalheira pura e simples, praticada com a desfaçatez de sempre.
Lira foi além e exigiu que o presidente Lula demita o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB-AL). Isso porque o presidente da Câmara trava insana disputa por poder político em Alagoas. Nas últimas horas, Renan Calheiros usou as redes sociais para atacar Lira, acusando de violência doméstica, abuso de poder e calote em venda de gado.
Também em matéria recente, afirmamos ser impossível confiar em um governo cuja articulação política está a cargo de Alexandre Padilha, ministro de Relações Institucionais, e Rui Costa, chefe da Casa Civil. Para piorar o cenário, o líder do governo na Câmara é ninguém menos que José Guimarães (PT-CE). Há na estrutura do governo nomes de conhecida competência no campo da articulação política.
Lula, em recente declaração, disse que Padilha é o que há de melhor em termos de articulação política. A profecia do presidente não se sustenta, já que assessores palacianos admitiram nesta quarta-feira que só uma saída para evitar ovas derrotas no Congresso, mais precisamente na Câmara: ceder à pressão bandoleira dos deputados.
Em análise anterior, destacamos, sem medo de errar, que o governo Lula, a continuar no ritmo atual, corre o sério risco de não chegar até em 31 de dezembro de 2026. Considerando a possibilidade de Lula ceder à pressão de Arthur Lira e demitir Renan Filho, o governo terá decretado o seu final, cabendo esperar apenas pela notícia do velório.
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