Personificação da farsa, Sérgio Moro faz acordo com base de Lula para escapar de constrangimento

(Dida Sampaio - Estadão)

 
Quando levou às autoridades o detalhamento do esquema de corrupção que ficou conhecido como “Petrolão”, o editor do UCHO.INFO lembrou que as investigações deveriam respeitar os limites da lei, evitando dessa forma a anulação dos processos, a exemplo do que aconteceu no âmbito das operações Castelo de Areia e Satiagraha.

No momento em que o então juiz Sérgio Moro foi designado para acompanhar as ações penais decorrentes da Operação Lava-Jato, estava claro que em algum momento o trabalho da Justiça sairia do controle. Isso porque, anos antes, no escopo do escândalo do Banestado, Moro foi enganado pelo doleiro Alberto Youssef, que aderiu à delação premiada e desrespeitou o combinado.

Sérgio Moro se valeu dos momentos de notoriedade, em especial por ter condenado Lula ao arrepio da lei, para impulsionar seu projeto político, algo que ganhou a simpatia de parte da população. Inicialmente pretendendo concorrer à Presidência da República, Moro acabou eleito senador pelo Paraná, não sem antes ter corrido o risco de disputar uma vaga na Câmara dos Deputados.

Com os dados da “Vaza-Jato” e as muitas denúncias sobre a obtenção de acordo de delação premiada com base em chantagens e ameaças, Moro e seu parceiro de empreitada, Deltan Dallagnol, agora deputado cassado, acabaram na vala do descrédito.

Depois de servir ao golpista Jair Bolsonaro como ministro da Justiça, Moro cometeu a bizarrice de se associar à empresa Alvarez & Marsal, responsável pela recuperação da Odebrecht, empreiteira que o então juiz condenou nos processos da Lava-Jato. Em suma, Moro não tem escrúpulos.

 
A falta de escrúpulos de Sérgio Moro, o “Don Quixote de camelô”, veio à tona nesta quarta-feira (14), quando o agora senador fez um acordo com a base de apoio ao governo Lula para evitar a realização de audiência pública na Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle (CTFC) do Senado com a presença de Rodrigo Tacla Duran e Tony Garcia. Ambos fizeram graves denúncias de excessos na Lava-Jato, como, por exemplo, cobrança de propina para que Duran não fosse preso.

Proposta pelos senadores Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), Otto Alencar (PSD-BA) e Renan Calheiros (MDB-AL), a audiência tinha por objetivo constranger Moro com a presença de Duran e Garcia. O ex-juiz é membro titular da CTFC.

Para quem se apresentou ao eleitorado como a derradeira salvação do País e veementemente contra Lula e o Partido dos Trabalhadores, Sérgio Moro é o que se pode chamar de fulanização do embuste.

Para escapar do constrangimento de estar diante de Tacla Duran e Tony Garcia – este último atuou como infiltrado do ex-juiz –, Moro aceitou retirar de pauta requerimento de convocação do petista Jorge Viana, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), para prestar esclarecimentos. Viana ignorou regra crucial para comandar a Apex: ter fluência em inglês. Na verdade, o ex-governador do Acre sequer pode ser chamado de neófito na seara da língua inglesa.

Mas foi além o acordo para evitar que Moro enfrentasse uma “saia justa” na CTFC: o senador Eduardo Girão (Podemos-CE) aceitou transformar um requerimento de convocação para ouvir o ministro Rui Costa (Casa Civil) em convite. O parlamentar cearense também retirou de pauta requerimento para realização de audiência com o ministro das Cidades, Jader Filho, para tratar do decreto do saneamento.

Nas muitas vezes em que afirmamos ser o exercício da política, em especial no Congresso Nacional, um jogo bruto e sujo, não foi simples figura de linguagem. O bastidor do Parlamento é nauseante e atenta contra os interesses dos brasileiros. Resumindo, para finalizar, Sérgio Moro é uma farsa.


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