Operação da PM em Guarujá foi vingança, mas Derrite diz ser mentirosa “narrativa de que houve tortura”

 
Em matéria anterior, publicada nesta terça-feira (1), o UCHO.INFO afirmou que o resultado da ação deflagrada pela Polícia Militar de São Paulo em Guarujá, aponta na direção do que se conhece como “operação vingança”. Os policiais estariam se vingando da morte do soldado Patrick Bastos Reis, que fazia um patrulhamento na comunidade de Vila Zilda, na cidade do litoral paulista.

Como destacaram os jornalistas Marco Antônio Carvalho e Marcio Dolzan, em matéria publicada no Estadão, “estudos sobre a dinâmica das mortes cometidas pelas polícias já identificaram reiteradas vezes o funcionamento das chamadas ‘operações vingança’. Essas ações são caracterizadas por mortes em série cometidas em supostos confrontos na esteira de ocorrências letais contra agentes de segurança pública”.

O governador Tarcísio de Freitas insiste em defender a legalidade da operação policial, afirmando que não houve excesso por parte da Polícia Militar. Autoridades do governo justificam que a ação policial foi necessária para enfrentar o crime organizado e proporcional confrontos no local.

No contraponto, a Ouvidoria da Polícia, que tem posicionamento distinto acerca do episódio, cobra apuração rigorosa do caso, já que há relatos de moradores sobre tortura e execução de pessoas inocentes. O governo nega.

Secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, ex-comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), corporação responsável pela matança em Guarujá, disse em entrevista à Jovem Pan News ser mentirosa a narrativa de que houve tortura por parte dos policiais. O secretário afirmou que os mortos já identificados “tinham vasta ficha” de antecedentes criminais, o que não é verdade, pois morreram pessoas inocentes.

“Tem muita gente falando besteira sem saber o que está acontecendo no litoral. Depois que o indivíduo troca tiros com a polícia, ele vira um exemplo a ser seguido pela sociedade. Todos que foram identificados, dos 12 indivíduos, possuem vasta ficha criminal. Eu só estou desmistificando essa narrativa. […] Nossa ouvidoria em São Paulo levantou essa narrativa de que indivíduos foram torturados… mentira. O laudo do IML ainda não saiu, mas já saiu uma preliminar. Essa era uma preocupação minha. Se houvesse indícios de tortura dos indivíduos, era uma preocupação. Não estamos aqui para instituir um tribunal de exceção e executar pessoas. Estamos aqui para enfrentar o crime organizado”, declarou Derrite.

 
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Em outro trecho da entrevista, Derrite rebateu as acusações de que a ação dos policiais foi desproporcional. O secretário afirmou que muitos desconhecem a realidade vivida pelos policiais e que o Estado defenderá a população da maneira correta. Em outras palavras, o Estado está disposto a promover matanças em nome de suposta segurança.

“Essa afirmação de que parece proporcional a ação, realmente não parece proporcional por parte do crime organizado. Toda vez que o crime organizado atentar contra as forças do Estado, em São Paulo, nós vamos defender a população e encarar o crime organizado como ele tem que ser encarado. […] Esse pessoal que fala, fala sem saber o que está falando. Eles não conhecem a realidade de entrar em um morro e ser hostilizado. Toda vez que um policial entra em uma comunidade dominada pelo crime organizado, ele recebe disparos de fuzis. Quem está achando desproporcional é porque não conhece”, continuou o secretário. “O crime organizado está sem limite e a resposta vai ser dada. Nós não temos objetivo de realizar o confronto. Só que, se o criminoso estiver armado com fuzil atirando contra policiais, nós vamos reagir na proporção devida”, declarou

Como já mencionamos anteriormente, o resultado da Operação Escudo não poderia ser diferente, assim como as declarações do secretário, considerando que Derrite já comandou a Rota, corporação historicamente conhecida pela forma violenta de atuação. É importante lembrar que a Rota foi responsável pelo Massacre do Carandiru, em 1992, quando foram mortos (tratou-se de execução), oficialmente, 111 detentos. Na verdade, o número de presos mortos naquela tragédia passou de 300, sendo que muitos corpos foram retirados do local em caminhões de lixo.

Que nenhuma autoridade ou amante do autoritarismo e da truculência ouse contestar a nossa afirmação, pois temos o depoimento de um agente penitenciário que estava de plantão no complexo prisional do Carandiru no dia do massacre.

O governador Tarcísio de Freitas avança no perigoso terreno em que prevalece a tese esdrúxula e canibal de que “bando bom é bandido morto”. Pelo que se sabe, levando-se em conta o contínuo avanço da tecnologia, o crime organizado precisa ser combatido com inteligência policial, jamais na esteira da barbárie.


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