Hacker contratado por Zambelli diz à PF que discutiu com Bolsonaro invasão às urnas eletrônicas

 
Preso nesta quarta-feira (2) em operação da Polícia Federal (PF) que apura a inserção de dados falsos no sistema do Judiciário Federal, Walter Delgatti Neto – conhecido como o hacker da “Vaza Jato” – relatou em depoimento que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) questionou-o, em reunião no Palácio da Alvorada durante a campanha eleitoral do ano passado, se ele conseguiria invadir as urnas eletrônicas caso tivesse o código-fonte dos equipamentos.

Em vigor desde 1996, o sistema eletrônico de votação foi alvo de uma intensa campanha de descrédito patrocinada por Bolsonaro e seus apoiadores. O questionamento da legitimidade e confiabilidade da tecnologia, bem como das autoridades eleitorais, serviu de combustível aos atos golpistas de 8 de janeiro.

O encontro para tratar da urna eletrônica, intermediado pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), teria acontecido em agosto do ano passado. O objetivo de Zambelli seria “demonstrar a fragilidade do sistema da Justiça brasileira”, mas a ideia acabou não prosperando porque, segundo o hacker, o código-fonte só poderia ser acessado dentro da sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e ele “não poderia ir até lá”.

Delgatti Neto também teria dito à PF que contribuiu para um relatório das Forças Armadas sobre as urnas eletrônicas – o texto foi criticado por reforçar suspeitas quanto à segurança dos aparelhos, na medida em que os militares afirmaram não ser possível descartar eventuais vulnerabilidades da tecnologia.

Mandado falso de prisão contra Moraes

De acordo com os investigadores, Delgatti Neto teria, como alternativa à invasão das urnas e usando “credenciais falsas obtidas de forma ilícita”, inserido documentos fraudados nos bancos de dados do Judiciário Federal – incluindo um falso mandado de prisão contra o ministro do STF e ex-presidente do TSE Alexandre de Moraes.

Para a ação, entre 4 e 6 de janeiro deste ano, ele teria contado com um texto entregue pela própria Zambelli – como prova, Delgatti Neto teria apresentado extratos bancários que comprovariam repasses feitos por pessoas ligadas à deputada, totalizando ao menos R$ 13,5 mil.

No depoimento, ele também teria acusado Zambelli de pedir que ele hackeasse Moraes a fim de obter “conversas comprometedoras”.

 
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Zambelli nega participação em atos ilícitos

Autorizada por Moraes, a operação da PF deflagrada nesta quarta também incluiu mandados de busca e apreensão contra Zambelli, que teve o gabinete e o apartamento funcional revistados. À imprensa, a parlamentar negou participação em “qualquer ato ilícito” e se disse surpresa com a ação, já que “em nenhum momento” teria deixado de “cooperar com as autoridades”.

A deputada admitiu ter intermediado um encontro de Delgatti Neto com Bolsonaro, mas sustenta que a motivação do hacker seria oferecer serviços de auditoria das urnas, enquanto o ex-presidente teria apenas inquirido sobre a confiabilidade dos aparelhos.

Também sob investigação da PF, Thiago Eliezer Martins Santos, outro hacker do episódio “Vaza Jato”, teve a quebra de sigilo bancário no período de junho de 2022 a junho de 2023 autorizada por Moraes.

‘Faz o L’ constava de falso mandado de prisão contra Moraes

O mandado fraudulento de prisão contra Moraes sugeria que o ministro seria apoiador do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Expeça-se o mandado de prisão em desfavor de mim mesmo, Alexandre de Moraes. Publique-se, intime-se e faz o L”, constava do documento que teria sido inserido por Delgatti Neto no sistema da Justiça Federal a pedido de Zambelli.

Em alusão à decisão de Moraes que rejeitava o questionamento do resultado do segundo turno das eleições presidenciais pelo PL, o documento impunha ainda

Quem é Walter Delgatti Neto

Preso em 2015 por falsidade ideológica e investigado em 2017 por falsificação de documentos e estelionato, Walter Delgatti Neto ganhou fama após ser preso em julho de 2019 sob a acusação de invadir celulares de autoridades que investigavam e julgavam escândalos de corrupção no escopo da Operação Lava Jato.

O material, que foi parar na imprensa – daí o nome “Vaza Jato” –, sugeria conduta indevida do então juiz federal Sérgio Moro, que teria agido com parcialidade para prejudicar Lula – tese que acabaria confirmada anos depois no Supremo Tribunal Federal (STF), com a reabilitação do petista após a anulação das condenações da Lava-Jato.

Delgatti Netto foi solto em setembro de 2020, voltou a ser preso em junho de 2023 por descumprimento de medidas judiciais, foi solto no mês seguinte e voltou à prisão mais uma vez nesta quarta-feira. (Com agências de notícias)


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