Escândalo das joias: recuo da defesa de Mauro Cid justifica pedido de prisão preventiva de Bolsonaro

 
Nada como um dia após o outro e uma madrugada no meio para disparar ameaças. Essa máxima, adaptada da sabedoria popular, serve milimetricamente para o recuo do criminalista Cezar Bitencourt, responsável pela defesa de Mauro César Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens do golpista Jair Bolsonaro, que está no centro do escândalo das joias desviadas do patrimônio da União e vendidas ilegalmente nos Estados Unidos.

Na quinta-feira (17), como noticiou a revista Veja em matéria de capa da edição já disponível, Bitencourt afirmou em entrevista que o tenente-coronel confessaria à Justiça ter participado da venda ilegal das joias presenteadas ao governo por autoridades estrangeiras, agindo sob ordens de Bolsonaro.

A decisão de Mauro Barbosa Cid tinha como objetivo não apenas reduzir o período na prisão, já que está detido desde 3 de maio por falsificar comprovantes de vacinação conterá Covid-19, mas para livrar o pai, general da reserva Mauro César Lourena Cid, que fez parte do grupo que viabilizou a venda das joias e colaborou para que os recursos obtidos com o crime chegassem às mãos de Jair Bolsonaro.

Na noite de quinta-feira, após a matéria de Veja ser disponibilizada na internet, Bolsonaro classificou a decisão de Mauro Cid como um ato ‘kamikaze”. Para quem conhece as catacumbas da política e o submundo em que muitos operadores de “rachadinhas” transitam, a fala do ex-presidente foi um recado para o tenente-coronel.

Desmoronando em termos políticos desde os atos golpistas de 8 de janeiro, Bolsonaro tenta escapar de todas as maneiras de mais um imbróglio judicial, mas é importante ressaltar que a estratégia da sua defesa pode ser um “tiro no pé”. Isso porque a revista Veja não publicaria uma matéria dessa natureza sem estar de posse da gravação da entrevista.

A repentina e inesperada mudança no discurso de Cezar Bitencourt aconteceu após um telefonema, durante a madrugada desta sexta-feira (18), do também advogado Paulo Cunha Bueno, que na conversa disse ser responsável pela defesa de Bolsonaro e manifestou interesse em agendar encontro para tratar do assunto.

 
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Nesta sexta-feira, Bolsonaro, questionado por jornalistas do “Estadão”, disse que Mauro Cid tinha autonomia. Um ajudante de ordens que tem autonomia é algo desconexo, pois o cargo remete ao entendimento de que o ocupante do posto só age provocado por alguém hierarquicamente superior, no caso o golpista Bolsonaro.

Considerando como verdadeira a aludida autonomia de Mauro Cid, ele responderá criminalmente por ter se apossado de um bem do patrimônio da União e vendê-lo no exterior. Além disso, será alvo de investigações dos Estados Unidos por contrabando de mercadoria de valor e lavagem de dinheiro, pelo menos.

Não obstante, urge saber o destino do valor proveniente da venda do relógio Rolex. De chofre foi informado que o valor foi entregue a Bolsonaro. Na sequência, Bitencourt disse que pode ter sido repassado a Michelle Bolsonaro. O advogado Frederick Wassef foi responsável por recomprar o relógio por um valor maior que o da venda. Wassef disse que na transação de recompra usou recursos próprios, depositados em banco de Miami.

Longe de duvidar da lisura profissional do defensor de Jair Bolsonaro, alguém se encarregou de fazer as costumeiras ameaças, antes do repentino recuo de Bitencourt e Mauro Cid. Só depois o advogado entrou em cena para combinar o novo roteiro do crime.

Independentemente da farsa em curso, já há elementos suficientes para decretar a prisão preventiva de Jair Bolsonaro, que de forma flagrante e destemida agiu para atrapalhar as investigações, pressionando testemunha.

A Polícia Federal deveria, com a necessária urgência, encaminhar tal pedido ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em outro vértice do escândalo, caso de fato assuma isoladamente a autoria do crime, Mauro Barbosa Cid deverá ser expulso do Exército. A conferir!


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