Escândalo das joias: mudança na defesa deixa Michelle Bolsonaro vulnerável a possível condenação

 
O escândalo das joias presenteadas ao governo brasileiro e vendidas ilegalmente nos Estados Unidos, a mando de Jair Bolsonaro e com a participação de assessores, avança com rapidez na direção do ex-presidente da República, que insiste em negar inocência.

Bolsonaro, ao longo dos anos, abandonou pessoas próximas, algumas prejudicadas pelo outrora “gabinete do ódio”, que funcionava no Palácio do Planalto sob o comando informal de Carlos Bolsonaro, o filho “02”, e sob as expensas do dinheiro público.

A mais recente vítima do abandono por parte de Bolsonaro é o tenente-coronel do Exército Mauro César Barbosa Cid, seu ex-ajudante de ordens, que está preso desde 3 de maio por conta da falsificação de comprovantes de vacinação contra Covid-19.

Cid ensaiou uma confissão, anunciada pelo advogado Cezar Bitencourt, mas o criminalista repentinamente mudou o discurso após conversar por telefone com o responsável pela defesa de Bolsonaro no caso das joias.

Com a propalada confissão deixada de lado, Mauro Cid, segundo seu advogado, estaria disposto a assumir a responsabilidade pela venda ilegal de um relógio Rolex cravejado de brilhantes, presenteado ao governo brasileiro por autoridades sauditas.

Ex-ministro da Secretaria de Governo na gestão Bolsonaro e alcançado pela peçonha do “gabinete do ódio”, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz desmontou a tese mambembe lançada por Bolsonaro de que o ex-ajudante de ordens tinha autonomia.

 
Em entrevista ao portal UOL, Santos Cruz afirmou: “É muito difícil um subordinado tomar determinadas iniciativas sem conhecimento ou sensação de que está sendo aprovado pelo chefe. Ele não tem essa liberdade para tomar essas medidas, como estamos assistindo”.

Com os muitos desdobramentos do escândalo, que têm surgido com celeridade, Bolsonaro decidiu unificar a defesa no caso das joias, ou seja, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro será defendida pelo mesmo advogado que cuida da defesa do ex-chefe do Executivo, o criminalista Paulo Cunha Bueno.

Até a manhã desta terça-feira (22), Michelle era defendida no âmbito do escândalo das joias pelo criminalista Daniel Bialski, que deixou o caso alegando “divergências” com a defesa de Bolsonaro. Bialski ficou pouco mais de uma semana como advogado da ex-primeira-dama.

Bolsonaro alega inocência e afirma que jamais se beneficiou da venda das joias, o que não é verdade, o fato de o defensor de Michelle Bolsonaro ter deixado o caso é no mínimo curioso. Isso significa que Bolsonaro está preocupado com os novos capítulos do escândalo, os quais podem levá-lo à prisão. Na verdade, o caso das joias é o que reúne mais condições para mandar o ex-presidente para atrás das grades.

Com a decisão anunciada na manhã desta terça-feira, Bolsonaro tenta arrastar Michelle para o centro do escândalo. Essa estratégia contraria declarações do próprio ex-presidente, que em dado momento tratou isentar a ex-primeira-dama de alguma responsabilidade no caso.

A única forma de Michelle se livrar da responsabilidade decorrente do escândalo depende de Bolsonaro assumir que partiu dele a ordem para Mauro Cid cuidar da venda das joias. Como essa hipótese está fora do radar da defesa do ex-presidente, Michelle corre o risco de ser condenada e perder a elegibilidade. Em suma, Bolsonaro está preocupado em salvar a própria pele, enquanto atira a esposa aos dragões.


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