(*) Marli Gonçalves
Setembro é lindo. Setembro é quente. Florido e colorido, que lá vem a primavera. E previsível por aqui, como há muito andam as coisas, sem sossego, para o país sempre obrigado a perder tempo. Bem, sempre tem espaço para alguma novidade que o Brasil não é mesmo para principiantes
Já devo ter contado que durante um tempo – e há décadas – fui também Yazodarah, um dos pseudônimos que mais gostei entre tantos outros que utilizei para escrever em uma publicação que, digamos, não tinha muitos colaboradores, embora parecesse, tantas eram as páginas, os assuntos cobertos. Não recordo exatamente como cheguei nesse nome, mas certamente o foi com a colaboração e aprovação do genial Antonio Bivar, com quem dividia à época o trabalho de edição.
Você deve saber que pseudônimo é um nome inventado, atrás do qual a gente “se esconde” ou quando não podemos ou quando não queremos assinar com o verdadeiro o que escrevemos; ou mesmo para, como no caso, dar asas à imaginação em outros temas, assumindo como que uma personalidade inteiramente diferente. Yazodarah era mesmo quase um heterônimo, como os tantos consagrados por Fernando Pessoa. A diferença entre pseudônimo e heterônimo é relativamente simples: quando o assumimos, formamos toda uma outra personalidade. Yazodarah, na minha criação, buscava e detinha conhecimentos esotéricos, astrológicos e de previsões. Me sentia com um turbante na cabeça, visão aguçada e preparada que podia até ler uma bola de cristal ou as cartas de um tarot.
Nyoka, Princesinha da Selva, que hoje uso para o nome de minha gata, era uma personagem punk mal-humorada, crítica, pegava pesado, aparecia quando falávamos mal de algo que não gostávamos, mas não podíamos perder os anúncios, nem a amizade dos alvos retratados. Melissa Manchester era uma boazinha, que via tudo cor de rosa, e que aparecia especialmente quando era praticamente obrigada – sim, acontece – a falar muito bem de algo. Tinha outras. Quando sentávamos para escrever com estes nomes éramos mesmo outras pessoas. O gênero não fazia diferença, como transformistas. Podíamos praticamente nos ver diferentes nos espelhos, como atores e atrizes, creio, fazem em seus espetáculos teatrais, área na qual Bivar, inesquecível como Aurore Jordan, mais um ser maravilhoso entre os que perdemos na maldita pandemia, se consagrou, premiado. Um marco em minha vida esse conhecimento usado muitas vezes nem só para escrever, mas para lidar melhor diante de algumas situações.
Mas falávamos de setembro. Chegou, e a gente já sabe – não precisa nem ter desenvolvido qualquer tipo de mediunidade – que vamos diariamente ver cintilar o desenrolar do caso das joias com seus diamantes, rubis e muitas outras histórias mal contadas que poderão, enfim, com mais essa, e como se precisasse, provar o quanto passamos por poucas e boas com o ex-grupo do poder, que tanto pensou em nele se perpetuar até pela força com a qual se entranhou na população, encharcada em negacionismos, patriotismos e outros ismos.
Aliás, não vai ser pouca coisa também o que deve chegar vindo do atual grupo que voltou lá do início do século, mas não atualizou o modelo; só trocou um farol aqui, outro ali. Com comunicação impressionantemente problemática, ouviremos mais falas descontroladas, explicações absurdas, negociações esquisitas como moedas. Da área da Suprema Corte que hoje decide, impõe, restringe ou assegura mínimos detalhes ficaremos pasmos com os votos monocráticos. E com as opiniões do pálido, o mais novo e conservador agora ministro, agraciado com questionáveis louvores pelo grupo do presidente. O que não dá para entender é porque é que agora eles estão tão surpresos e indignados com os votos onde já se mostra. Exatamente o que era, sempre foi e será.
Aqui em São Paulo, o governador “Penélope” continuará a fazer de dia e desfazer à noite, ou vice-versa, anúncios, promessas, planos e garantias, tentando lidar com a corda bamba de ser ou não ser ligado que já foi a tudo quanto é lado. Seus secretários também marcam pontos de ruindade, prontos a ir para a prancha da demissão, vide o tal da Educação que já está na hora extra, socorro!
Ainda bem que esse mês tem também celebração da Independência, Dia do Irmão, Dia do Sexo, do Frevo, do Cerrado, tantos outros. E de Cosme e Damião quando todos podemos virar crianças e recordar a época que nos lixávamos para o que o futuro traria.
(*) Marli Gonçalves – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Site Chumbo Gordo, autora de “Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também”, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.
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