Governador do RJ declara guerra aos milicianos, que sempre tiveram apoio da família Bolsonaro

 
Há pouco mais de duas décadas, ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso, o editor do UCHO.INFO afirmou que a ausência irresponsável do Estado em distintos setores era um convite para o crime organizado, que à época avançava em muitas capitais brasileiras. Na ocasião, como de praxe, ocorreu uma saraivada de críticas, em especial por parte dos adoradores do PSDB, legenda que está à mingua.

O principal retrato do descaso oficial é o Rio de Janeiro, onde boa parte da população vive sob a tutela de traficantes e milicianos, que alguns casos se uniram para atropelar a legislação vigente e zombar das autoridades. Como se não bastasse a tragédia institucionalizada, muitos policiais estão direta e indiretamente envolvidos com os criminosos, quando não mudam de lado sem qualquer cerimônia.

A segunda-feira (23) ficou marcada na história da capital fluminense como o dia em que o caos se instalou na cidade por conta da morte do sobrinho de um miliciano que atua com desenvoltura na Zona Oeste carioca. Em represália, criminosos atearam fogo em 35 ônibus, um vagão de trem e em carros de passeio, ação que provocou pânico e deixou um prejuízo de dezenas de milhões de reais.

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, engrossou a verborragia ao afirmar que os responsáveis responderão por terrorismo. Se há nessa engrenagem criminosa uma peça fundamental, essa com certeza é o próprio governo do Rio de Janeiro, que há décadas finge que o crime organizado não existe.

Antes de declarar guerra ao crime organizado, Castro precisa tomar a bênção de seu principal padrinho político, o golpista Jair Bolsonaro, que sempre defendeu milicianos e seus penduricalhos criminosos.

 
É importante lembrar que a família Bolsonaro tem uma inegável queda pelas milícias. Em discurso na Câmara dos Deputados, em agosto de 2003, Jair Bolsonaro exaltou a atuação dos milicianos que na ocasião aterrorizavam a Bahia. Acrescentou que o esquadrão da morte teria seu apoio se resolvesse migrar para o Rio de Janeiro.

“Enquanto o Estado não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo. Se não houver espaço para ele na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro. Se depender de mim, terão todo o meu apoio”, afirmou.

Em dezembro de 2008, Bolsonaro elogiou a atuação das milícias no Rio de Janeiro. Ele criticou o relatório da CPI da Assembleia Legislativa que apurou a atuação dos grupos paramilitares. A comissão pediu o indiciamento de policiais, bombeiros e políticos que dominavam as favelas cariocas. A investigação mostrou que milicianos lucravam com a cobrança de taxas, a oferta de serviços clandestinos e a venda de apoio político.

“Querem atacar o miliciano, que passou a ser o símbolo da maldade e pior do que os traficantes. Existe miliciano que não tem nada a ver com gatonet, com venda de gás. Como ele ganha R$ 850 por mês, que é quanto ganha um soldado da PM ou do bombeiro, e tem a sua própria arma, ele organiza a segurança na sua comunidade. Nada a ver com milícia ou exploração de gatonet, venda de gás ou transporte alternativo”, disse o então deputado federal.

Em fevereiro de 2018, já como candidato à Presidência, Bolsonaro elogiou os sicários tropicais em entrevista à rádio Jovem Pan. “Tem gente que é favorável à milícia, que é a maneira que eles têm de se ver livres da violência. Naquela região onde a milícia é paga, não tem violência”, afirmou.

 
Não obstante, o clã Bolsonaro parece ter apreço desmedido por milicianos. Hoje senador da República, o debochado Flávio Bolsonaro (PL-RJ) empregou em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) a mãe e a esposa do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, que foi executado no interior da Bahia, em ferreiro de 2020, após longos meses em fuga da Justiça.

Flávio Bolsonaro e seu irmão, o vereador Carlos Bolsonaro, apresentaram requerimentos à Alerj e à Câmara Municipal do RJ para condecorar pelo menos 16 policiais denunciados pelo Ministério Público fluminense como integrantes de organizações criminosas.

Os homenageados por Flávio e Carlos foram presos e denunciados em oito das mais importantes operações de combate ao crime organizado no Rio de Janeiro, entre 2006 e 2022: Calabar, Quarto Elemento, Purificação, Intocáveis, Gladiador, Amigos S/A, Segurança S/A e Águia na Cabeça. Nesse grupo estão Adriano Nóbrega, o major Ronald Pereira e, mais recentemente, o delegado Allan Turnowski, ex-chefe da Polícia Civil.

Adriano da Nóbrega era ligado a Fabrício Queiroz, responsável pelo esquema criminoso de “rachadinhas” que funcionava no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj. Nóbrega foi um dos fundadores do grupo de matadores de aluguel conhecido como “escritório do crime” e que é investigado por participação na morte de Marielle Franco e Anderson Gomes.

Adriano da Nóbrega tinha forte influência na comunidade de Rio das Pedras, também na Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde Flávio Bolsonaro teve expressiva votação na eleição ao Senado, em 2018. Fabrício Queiroz morava na mesma comunidade.

Em suma, alguém precisa explicar ao governador Cláudio Castro o significado do ditado popular “quem pariu os maus teus que balance”. Caso o governador tenha dificuldade para compreender o dito, que lhe digam “cada um com seu cada qual”.


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