Hamas e Israel dão início à trégua de quatro dias

 
Israel e o Hamas deram início nesta sexta-feira (24) a uma trégua de quatro dias no conflito iniciado em 7 de outubro. Caminhões levando ajuda humanitária já começaram a entrar na Faixa de Gaza; a libertação do primeiro grupo de reféns israelenses ocorreu na tarde de hoje (horário local).

Os dois lados concordaram com a trégua, iniciada com um dia de atraso em relação ao originalmente anunciado, para que 50 reféns mulheres e menores de 19 anos em poder do Hamas sejam libertados em troca da soltura de 150 mulheres e adolescentes palestinos detidos em Israel.

Os 50 reféns em poder do Hamas estão entre as cerca de 240 pessoas sequestradas durante o ataque de 7 de outubro contra Israel e deverão ser libertados em grupos durante a trégua de quatro dias.

Um primeiro grupo de 39 crianças e mulheres palestinas de prisões israelenses será colocado em liberdade nesta sexta-feira, enquanto o Hamas libertará um grupo de 13 reféns, segundo informações da televisão estatal egípcia Al Qahera News.

A troca está em conformidade com a proporção acordada de três palestinos liberados para cada refém liberto pelo Hamas, o que foi confirmado na quinta-feira pelas Brigadas al-Qasam, o braço armado do Hamas.

As partes do acordo qualificaram a interrupção das hostilidades como “uma pausa humanitária”. Israel afirmou que a trégua será prorrogada por um dia a cada lote adicional de 10 reféns libertados.

O Hamas, que é considerado um grupo terrorista por União Europeia, Estados Unidos, Alemanha e outros países, disse que Israel concordou em interromper o tráfego aéreo no norte de Gaza, das 10h às 16h (horário local) em cada dia da trégua, e suspender todo o tráfego aéreo sobre o sul do enclave durante todo o período.

O grupo disse ainda que Israel concordou em não atacar ou prender qualquer pessoa em Gaza e que as pessoas poderão circular livremente ao longo da Salah al-Din, principal via usada pelos palestinos para fugirem do norte de Gaza, onde Israel lançou a sua invasão terrestre.

 
Horário de início

A trégua entre Israel e o Hamas teve início às 7 horas (2 horas no horário de Brasília) desta sexta-feira, com um primeiro grupo de reféns que deve ser libertado às 16h (11h de Brasília), de acordo com um porta-voz do Ministério do Exterior do Qatar.

O governo do Qatar informou que as listas de todos os civis que seriam libertados de Gaza tinham sido acordadas e que o país espera poder negociar um acordo subsequente para libertar reféns adicionais de Gaza até o quarto dia da trégua.

Implementação do acordo

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha trabalhará na Faixa de Gaza para facilitar a libertação dos reféns, informou o Qatar. Espera-se que os reféns sejam transportados através do Egito, o único país, além de Israel, a partilhar fronteira com Gaza.

Durante a trégua, caminhões carregados com ajuda e combustível atravessarão a fronteira para Gaza, onde 2,3 milhões de pessoas sofrem com escassez de comida e muitos hospitais fecharam parcialmente porque já não têm combustível para os geradores.

O Qatar disse que o cessar-fogo permitiria que um “maior número de comboios humanitários e ajuda humanitária” entre em Gaza, incluindo combustível, mas não deu detalhes sobre as quantidades.

Israel cortou todas as importações de combustível para Gaza no início do conflito, causando um apagão em todo o território e deixando casas e hospitais dependentes de geradores.

O braço armado do Hamas informou na quinta-feira que 200 caminhões com ajuda humanitária e quatro com combustível entrariam diariamente na Faixa de Gaza durante a trégua.

 
Reféns libertados

O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou na quinta-feira que Israel recebeu uma lista inicial de reféns a serem libertados de Gaza.

Entre as 50 mulheres e menores de 19 anos a serem libertados pelo Hamas estão três cidadãos norte-americanos, incluindo uma menina que completa 4 anos nesta sexta-feira, informou uma autoridade dos Estados Unidos.

Além de civis e soldados israelenses capturados em 7 de outubro, mais da metade dos cerca de 240 reféns é de estrangeiros com dupla nacionalidade, originários de aproximadamente 40 países, incluindo Argentina, Reino Unido, Chile, França, Alemanha, Portugal, Espanha, Tailândia e EUA, segundo o governo de Israel.

O regresso dos reféns poderá levar trazer alívio a Israel, onde é grande a preocupação com o destino dos sequestrados. Famílias dos reféns vêm organizando manifestações em massa para pressionar o governo a trazê-los de volta para casa.

Palestinos libertados

Israel forneceu uma lista de cerca de 300 prisioneiros palestinos que poderiam ser libertados – o dobro do número de mulheres e menores que havia concordado inicialmente em libertar – e sugeriu que espera que mais de 50 reféns em Gaza sejam libertados sob o acordo.

A Sociedade de Prisioneiros Palestinos disse que na quarta-feira 7.200 prisioneiros estavam detidos por Israel, entre eles 88 mulheres e 250 adolescentes de até 17 anos.

A maioria das pessoas na lista divulgada por Tel Aviv é da Cisjordânia ocupada por Israel e de Jerusalém, detida por incidentes como tentativa de esfaqueamento, atirar pedras contra soldados israelenses, fazer explosivos, danificar propriedades e ter contato com organizações hostis. Nenhum é acusado de assassinato. Muitos foram mantidos sob detenção administrativa, o que significa que foram detidos sem julgamento.

Os prisioneiros libertados poderiam primeiramente ser levados de ônibus para a sede presidencial da Autoridade Palestina, como ocorreu em libertações passadas, embora o presidente palestino, Mahmoud Abbas, não tenha tido qualquer papel nestas negociações de trégua, segundo a Autoridade Palestina, grupo palestino que é rival do Hamas.

 
Quem negociou o acordo?

O Qatar desempenha importante papel de mediação. Se por um lado o Hamas tem escritório político em Doha, por outro o governo do Qatar manteve canais de comunicação abertos com Israel, embora, ao contrário de outros países árabes do Golfo, não tenha normalizado os laços com Tel Aviv.

Os Estados Unidos também têm papel crucial, com o presidente norte-americano, Joe Biden, tendo conversado com o emir do Qatar, Hamad bin Khalifa al-Thani, e Netanyahu nas semanas que antecederam o acordo. A Casa Branca percebeu que continuar apoiado Israel contra os palestinos da Faixa de Gaza produziria estragos políticos e diplomáticos, além de colocar o país sob o risco de atentados terroristas.

O Egito, o primeiro Estado árabe a assinar um acordo de paz com Israel e que há muito desempenha um papel de mediação ao longo das décadas de conflito entre Israel e palestinos, também esteve envolvido.

Demora na negociação

O acordo foi anunciado 46 dias após o início do conflito, um dos mais violentos que eclodiram entre ambas as partes. Radicais do Hamas mataram 1.200 pessoas quando lançaram ataque contra Israel, o maior número de vítimas em único dia em solo israelense desde a criação do país, em 1948. Segundo autoridades de saúde de Gaza ligadas ao Hamas, mais de 13 mil pessoas foram mortas em ataques retaliatórios israelenses e nas incursões terrestres em Gaza.

As negociações iniciais para um acordo entre Israel e o Hamas começou poucos dias depois do ataque de 7 de outubro, mas o progresso foi lento. Isso ocorreu em parte porque as comunicações entre as partes em conflito tinham de passar por Doha ou pelo Cairo e voltar, para que cada detalhe fosse acertado, como garantir uma lista completa do Hamas com aqueles que serão libertados, segundo autoridades dos EUA.

Mesmo com um acordo em vigor, o cessar-fogo é temporário. O Hamas disse que durante toda a trégua “seus dedos permanecem no gatilho”. Israel disse que o conflito continuará até que todos os reféns sejam libertados e o Hamas, eliminado.

Em 2014, quando Israel lançou pela última vez uma grande invasão terrestre em Gaza, foram necessários 49 dias para ambos os lados chegarem a um acordo de cessar-fogo, mas isso pôs fim a grandes combates durante vários anos. (Com Deutsche Welle e agências internacionais)


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