Pacote econômico do ultrarradical e populista Javier Milei deixa argentinos apreensivos

 
O novo governo da Argentina anunciou, na terça-feira (12), um pacote de medidas econômicas drásticas que incluem substancial desvalorização da moeda do país. O peso, enfraquecido em mais de 50%, passa a valer 800 por dólar, disse o novo ministro da Economia, Luis Caputo.

No mercado paralelo, o chamado “dólar blue”, que antes da posse de Javier Milei estava cotado a 1.000 pesos, deve seguir o mesmo caminho do oficial. Nesta quarta-feira (13), a moeda norte-americana era vendida no mercado paralelo, em Buenos Aires, por 1.150 pesos.

“Durante alguns meses, estaremos piores do que antes das medidas”, disse Caputo em pronunciamento televisivo, dois dias após o ultraliberal populista Javier Milei tomar posse como presidente da segunda maior economia da América do Sul.

As medidas chegam em um momento em que a taxa de inflação anual da Argentina chega a 143%, a moeda despenca e 40% dos argentinos vivem na pobreza. Economistas apostam que em pouco tempo a inflação argentina baterá na casa de 200% ao ano.

Para se ter ideia do que virá pela frente, do último dia 10 até a noite de terça-feira (12), os preços na Argentina subiram em média 25%. Os empresários argentinos estão receosos em relação aos efeitos das medidas adotadas pelo novo governo.

Na cerimônia de posse, Milei prometeu uma nova era para o país, mas alertou sobre dolorosas e duras ações. “A questão é que não temos alternativa à austeridade e ao tratamento de choque”, disse o presidente argentino no fim de semana.

Não se pode esquecer que, durante a corrida à Casa Rosada, o populista Milei afirmou que cortaria os dois braços caso aumentasse os impostos. Três dias após ser empossado, o novo presidente argentino anunciou o aumento da carga tributária para o setor de exportação, assim como a desvalorização do peso frete ao dólar em 2% ao mês. Outras promessas descumpridas por Milei são o fechamento do Banco Central e a dolarização da economia.

Na terça-feira, o ministro da Economia também disse que haveria cortes nos generosos subsídios estatais aos combustíveis e aos transportes.

De acordo com Caputo, os políticos há muito apoiam os subsídios para “enganar as pessoas, fazendo-as acreditar que estão colocando dinheiro nos bolsos. Mas, como todos os argentinos já devem ter percebido, esses subsídios não são gratuitos, mas são pagos com a inflação”.

O ministro ainda informou que a Argentina precisa lidar com um enorme déficit fiscal, que estima em 5,5% do PIB, acrescentando que o país teve um déficit fiscal durante 113 dos últimos 123 anos, o que causou a crise econômica.

“Estamos aqui para cortar o mal pela raiz”, disse Caputo. “Mas para isso, precisamos resolver o nosso vício em relação ao déficit fiscal.” É importante ressaltar que não se combate a inflação apenas com equilíbrio fiscal.

Cortes de gastos do Estado

Caputo também informou que toda a publicidade estatal será suspensa por um ano, acrescentando que, em 2023, custou 34 bilhões de pesos (US$ 92 milhões) aos cofres públicos.

Além disso, “o Estado não irá aprovar novas obras públicas e vai cancelar a contratação dos concursados aprovados, que ainda não tenham assumido o posto”.

“A realidade é que não temos dinheiro para pagar mais obras públicas que, como todos os argentinos sabem, muitas vezes acaba no bolso dos políticos ou empresários de plantão”, disse.

Outro passo a ser tomado será cancelar a renovação de contratos públicos com menos de um ano. O presidente Javier Milei já cortou nove ministérios do governo, o que Caputo diz que significa um corte de 34% de todos os cargos políticos.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) considerou as medidas “ousadas” e informou em comunicado que pretende “ajudar a estabilizar a economia e estabelecer as bases para um crescimento mais sustentável e liderado pelo setor privado”, após “sérios entraves políticos” dos meses anteriores.

“Considero as medidas bem-vindas”, disse a chefe do FMI, Kristalina Georgieva, qualificando-as como “um passo importante para restaurar a estabilidade e reconstruir o potencial econômico do país”. (Com agências internacionais)


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