Em recuperação judicial, empresa de telefonia Oi foi vítima de fraudes praticadas por franqueados

 
As autoridades que acompanham o processo de recuperação judicial da empresa de telefonia Oi, assim como seus dirigentes e acionistas, talvez desconheçam o esquema de fraude operado por diversos franqueados.

Os donos das franquias vendiam vários planos de telefonia celular para uma mesma pessoa (mesmo CPF), manobra espúria que, por contrato com a franqueadora, garantia o recebimento de comissão pela venda. Muitos dos supostos novos clientes da Oi sequer tinham condições financeiras de arcar com o custo mensal de uma linha de celular, mas, enganados, acabavam com várias linhas de celular no nome.

Consumada a fraude, os mesmos franqueados, após o recebimento das respectivas comissões pelas vendas, acionavam um criminoso esquema que funcionava dentro da empresa para baixar as faturas dos clientes que foram enganados e saíram da loja da Oi com diversos planos de telefonia celular, sem saber que foram vítimas de um golpe.

A operação criminosa não era de graça, ou seja, os envolvidos no processo de baixa das faturas recebiam parte do valor pago aos franqueados pelas vendas ilícitas. O processo que violava o sistema da Oi era operado por um funcionário da empresa, conhecido pela alcunha de “Negão”.

Para tanto, o tal funcionário recebia parte do valor das comissões relativas à venda das linhas. A distribuição dos valores se dava por um engenhoso esquema “triangulação”, talvez para apagar o rastro do dinheiro. Em um dos vértices da “triangulação financeira” tinha uma empresa de telefonia instalada em movimentado centro comercial localizado no bairro da Lapa, Zona Oeste da capital paulista.

Em outro vértice do triângulo existia uma empresa de terminais de cartões de crédito (as famosas maquininhas de cartão) com clientes espalhados por todo o Brasil. A tal empresa tem sede em importante cidade do interior de São Paulo. A ousadia dos proprietários da empresa de cartão de crédito é tamanha, que chegaram ao ponto de usar imagem do cantor e compositor Chico Buarque de Holanda em postagem nas redes sociais.

O UCHO.INFO contatou, através do WhatsApp, alguns filiados a uma associação dos franqueados da Oi, que tem sede em Brasília. Nosso objetivo era saber se os associados tinham conhecimento do esquema criminoso. Alguns negaram conhecer o esquema, enquanto outros sequer responderam às nossas mensagens.

Como contraponto às manifestações de alguns associados, o UCHO.INFO tem cópias de recibos de transferências bancárias (via PIX) para os envolvidos na fraude. As referidas transferências referem-se ao pagamento de “propina” para viabilizar a baixa das faturas.

A Oi, como se sabe, não trilhou os caminhos mais ortodoxos do capitalismo, mas nenhuma empresa consegue sobreviver tendo franqueados agindo nos subterrâneos para auferir lucro indevido. Os documentos em nossa posse em breve serão enviados ao Judiciário fluminense, onde tramita o processo de recuperação judicial da Oi, ao Ministério Público Federal e a Polícia Federal, já devidamente contatados.

Resumindo, não sem antes recorrer a cabíveis metáforas, a Oi poderia ter evitado o esquema fraudulento se tivesse olho Vivo. Ameaças certamente virão, mas o cipoal de provas em nosso poder levará ao silêncio dos envolvidos.


 
Paraíso das fraudes

Desde a época do descobrimento, quando o Brasil era Pindorama, o País foi transformado em palco para fraudes das mais diversas, na maioria das vezes bilionárias. Nos idos de 1500, os indígenas foram alvo de fraude por parte dos aventureiros que singraram as águas do Atlântico, trocando quinquilharias por recursos naturais, como minério e madeira, entre outros produtos.

Os anos se passaram e as fraudes foram aprimoradas, emprestando a seus artífices doses de notoriedade. Para não voltar muito na linha do tempo, citamos alguns escândalos envolvendo instituições financeiras: Banco Comind, Grupo Coroa-Brastel, Caderneta de Poupança Delfin, Banco Bamerindus, Banco Marka e Banco Fontecindam, Banco Panamericano, Banco Santos. Na seara do varejo, merecem destaque os casos Mappin, Lojas Arapuã e Mesbla.

Há no setor de fraudes financeiras o rumoroso caso do Banco Sulbrasileiro (fundiu-se com o Banco Habitasul), que, vencidas as turbulências, deu origem ao Banco Meridional, posteriormente adquirido pelo gaúcho Júlio Bozano e pelo economista Mário Henrique Simonsen, que após a conclusão do negócio criaram o Banco Bozano Simonsen. Com a morte de Simonsen, em 1997, a instituição passou a operar com o nome de Banco Bozano. Em 2000, Júlio Bozano vendeu o banco ao grupo Santander.

O mais recente escândalo contábil tem na proa a Lojas Americanas, controlada por um trio de investidores que até recentemente era idolatrado por nove entre dez profissionais do mercado financeiro: Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. A fraude contábil da Americanas teve como nascedouro uma modalidade de crédito conhecida como “risco sacado”, operação que resultou em mais de R$ 50 bilhões em dívidas.

Em processo de recuperação judicial, a Americanas tem deixado os credores preocupados, pois as propostas apresentadas pela empresa reduzem substancialmente os valores dos créditos. A fraude contábil da Americanas custou a bancos e instituições financeiras a fortuna de R$ 14,2 bilhões.

É importante mencionar o caso do grupo 123 Milhas, acusado de maquiar a contabilidade para esconder um rombo financeiro que hoje é estimado em R$ 2,3 bilhões. A 123 Milhas está em processo de recuperação judicial.


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