Farra oficial: políticos e autoridades utilizaram dinheiro público para participar de casamento em SP

 
Dono de humor invejável e dono de críticas certeiras, o jornalista José Simão (Folha de S.Paulo de BandNews FM) é responsável pela máxima “O Brasil é o país da piada pronta”. A frase seria cômica se não fosse triste, pois traduz a dura realidade em que vivemos.

O casamento de Bruno Dantas, presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), em São Paulo, reuniu políticos, celebridades, empresários e autoridades de todos os naipes, na esteira de uma festa que há muito não se via na capital paulista.

Dantas casou-se com Camila Camargo, CEO do Grupo Esfera e filha do empresário João Camargo (CEO da CNN Brasil e acionista grupo Camargo GC2, proprietário de rádios com Alpha FM, 89 Rádio Rock, Nativa e Disney e sócio da BandNewsFM).

O evento, no badalado e exclusivo Centro Hípico de Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, reuniu 700 convidados, incluindo 13 ministros do governo Lula. Como noticiou o jornalista Tárcio Lorran, de “O Estado de S. Paulo”, muitos utilizaram recursos públicos para viajar à capital paulista, como se desconhecessem a máxima que reverberou no Império Romano à época de Júlio César: “A mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta”.

O ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinícius Marques de Carvalho, usou dinheiro público para custear as passagens, com base em benesse incluída na legislação há pouco mais de um mês, a pedido do governo Lula, que permite o pagamento de passagens pela União a magistrados e ministros de Estado que desejam viajar para as cidades onde moram, mesmo não tendo uma agenda de trabalho no local.


 
Carvalho viajou para São Paulo na última sexta-feira (2), participou da festa no sábado e, no domingo, 4, retornou a Brasília. A CGU confirmou que as passagens foram pagas com dinheiro público e que Carvalho não tinha agenda oficial no Estado. Até 31 de dezembro de 2023, essa prática espúria era considerada irregularidade.

Além de Vinícius Marques de Carvalho, marcaram compareceram à festa o vice-presidente Geraldo Alckmin (ministro do Desenvolvimento e Indústria), Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Alexandre Silveira (Minas e Energia), Renan Filho (Transportes), Carlos Fávaro (Agricultura), Esther Dweck (Gestão e Inovação), Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), Fernando Haddad (Fazenda), Jorge Messias (Advocacia-Geral da União), Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), José Múcio (Defesa) e Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública).

Parte dos convidados aproveitou uma agenda com o presidente Lula para viajar de carona no avião presidencial. São os casos de Fernando Haddad, Alexandre Padilha e Simone Tebet. Na sexta-feira (2), Lula participou de evento a em comemoração aos 132 anos do Porto de Santos e do anúncio das obras do túnel entre Santos ao Guarujá.

Nem todos avançaram sobre os cofres públicos para custear a ida a São Paulo. Silvio Costa Filho participou dos compromissos presidenciais, mas bancou a viagem com recursos próprios. Renan Filho participou de outros eventos em SP e custeou com recursos próprios a viagem de ida. A volta foi custeada pelo Ministério dos Transportes.

José Múcio, ministro da Defesa, estava em Recife, na sexta-feira, quando pediu uma aeronave da FAB para ir a São Paulo. Na capital paulista ele participou de agenda na manhã de sábado com o comandante militar do Sudeste, general de Exército Guido Amin Naves. Mais tarde, ele participou da festa de casamento acompanhado da esposa, Vera Brennand.


 
A farra com aviões oficiais já foi objeto de investigação durante o primeiro governo do presidente Lula, quando o escândalo agitou os bastidores do Congresso Nacional. Como sempre acontece no Brasil, o famoso “paraíso do faz de conta”, a investigação não produziu resultados práticos.

Se desde o começo do ano a prática de utilizar aviões da FAB para compromissos pessoais encontra respaldo na lei, é preciso ressaltar que trata-se de uma imoralidade em um país que tem, em números oficiais, 227 mil pessoas em situação de rua. O montante certamente é maior. Somente na cidade de São Paulo, mais de 52 mil pessoas vivem em situação de rua.

A desfaçatez é ainda maior se considerado o fato de que o mal uso do dinheiro público ocorreu na órbita do casamento do presidente de um tribunal que tem o dever de fiscalizar os gastos oficiais. No caso de o escândalo ser contestado por alguém e chegar ao TCU, Dantas terá de ficar à margem do imbróglio.

Outro escândalo na esfera federal envolve as passagens aéreas disponibilizadas por deputados e senadores. Utilizando voos comerciais, os parlamentares acumulam milhas, sempre utilizadas em viagens de férias das respectivas famílias, muitas vezes para o exterior.

O UCHO.INFO já propôs que as milhas correspondentes a essas passagens fossem reunidas pelas companhias aéreas e disponibilizadas ao Ministério da Saúde para o transporte de pessoas que necessitam de tratamento médico em grandes centros urbanos. O editor por pouco não foi massacrado por aqueles que dizem defender os interesses da população.


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