Avesso a críticas ao genocídio em Gaza, Israel declara o presidente Lula “persona non grata”

 
O conflito na Faixa de Gaza, que teve início em 7 de outubro de 2023 com um ataque de extremistas do Hamas ao Estado de Israel, provocou divergência de opiniões. De um lado estão os que defendem o politicamente correto, ou seja, é preciso excesso de diplomacia ao tratar do assunto, do outro, os que são contra o genocídio de palestinos que vivem no enclave.

Israel tenta impor à população global a ideia de que a matança indiscriminada na Faixa de Gaza é justificável por conta da investida do Hamas, que deixou 1.200 mortos e 240 israelenses sequestrados. Uma situação na justifica a outra e vice-versa. Há uma abissal diferença entre combater os radicais do Hamas e dizimar o povo palestino.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, usa o massacre do povo palestino para esticar sua permanência no cargo, já que ações judiciais por corrupção, suborno e abuso de poder têm potencial para apeá-lo do posto.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista coletiva concedida em Adis Abeba, capital da Etiópia, comparou o genocídio em Gaza aos crimes cometidos pelo nazista Adolf Hitler contra os judeus.

“O que está acontecendo em Gaza não aconteceu em nenhum outro momento histórico, só quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse Lula. O presidente brasileiro também criticou Israel ao afirmar que Tel-Aviv não obedece a nenhuma decisão da ONU e afirmou que defende a criação de um Estado palestino. Para Lula, o conflito “não é uma guerra entre soldados e soldados, é uma guerra entre um Exército altamente preparado e mulheres e crianças. Não é uma guerra, é um genocídio”, disse Lula.

Foi o bastante para o governo de Israel e a comunidade judaica global se rebelar contra o mandatário brasileiro, que nesta segunda-feira (19) foi rotulado como “persona non grata”.


 
“Esta manhã eu convidei o embaixador brasileiro em Israel para as proximidades do Yad Vashem, o museu do Holocausto, que mostra mais do que qualquer coisa o que os nazistas e Hitler fizeram com os judeus, incluindo com membros da minha família. A comparação do presidente Lula entre a justa guerra de Israel contra o Hamas e as ações de Hitler e dos nazistas, que mataram 6 milhões de judeus e um sério ataque antissemita que desrespeita a memória daqueles que morreram no Holocausto. Não vamos perdoar e nem esquecer, em nome dos cidadãos de Israel, eu informei o presidente Lula que ele não é bem-vindo em Israel até que ele se desculpe e retrate suas palavras”, escreveu o ministro de Relações Exteriores israelense, Israel Katz, em rede social.

No domingo, Netanyahu condenou a declaração de Lula. “Comparar Israel ao Holocausto nazista e Hitler é cruzar uma linha vermelha. As palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e sérias. São sobre banalizar o Holocausto e tentar ferir o povo judeu e o direito Israelense de se defender”, afirmou.

É importante ressaltar que em regimes democráticos o direito à livre manifestação do pensamento é garantido e por essa razão não é preciso concordar com o que pensa o governo de Israel, que classifica um genocídio inconteste como “justa guerra”. Não se pode esquecer que muitos israelenses e judeus se manifestaram a favor de Lula e contra o governo de Tel Aviv.

O gabinete de Benjamin Netanyahu, frequentado por extremistas de direita, condena a comparação feita por Lula apenas porque insiste em pasteurizar a ideia de que o genocídio na Faixa de Gaza é necessário para garantir a segurança dos israelenses. A solução do problema que se arrasta há décadas está na criação e no reconhecimento de um Estado palestino, algo que Tel Aviv discorda.


 
Censura e perseguição

Fato é que Israel e os judeus não aceitam opiniões divergentes. Prova disso é o movimento da Confederação Israelita do Brasil (Conib) para calar o jornalista Breno Altman, de descendência judaica, que em postagens nas redes sociais comparou os israelenses e judeus a ratos.

É preciso reconhecer que Altman, responsável pelo site Opera Mundi, ao condenar o massacre contra os palestinos de Gaza exagerou nas palavras, mas não se pode compactuar com ações genocidas, como a que acontece no enclave palestino.

“São 7 os processos da Conib contra mim: seis cíveis e um criminal. Minhas redes estão intactas, mas ocorreram decisões liminares, portanto provisórias, de juízes da primeira instância ordenando a retirada de determinados posts das minhas redes sociais. Paira ainda uma série de decisões que a Justiça tem que tomar, especialmente da última iniciativa da Confederação Israelita do Brasil, que é essa de censura total. Ou seja, não apenas pedindo a suspensão de todas as minhas redes sociais, mas querendo proibir de me manifestar de qualquer forma sobre o tema Palestina. Isso ainda não foi apreciado pelo juiz”, explica Breno Altman.

“O sionismo não é igual ao judaísmo, ao contrário do que as entidades sionistas e o estado de Israel querem fazer crer. O sionismo é apenas uma corrente político-ideológica surgida no final do século XIX e que, a partir da metade do século XX, se constituiu na corrente majoritária entre os judeus, particularmente no que era a Palestina. Essa corrente tem dois princípios fundamentais: a criação de um estado étnico, que é o estado judeu, o estado de Israel, um estado étnico de supremacia racial; e que esse estado fosse construído na Palestina, terra ancestral dos judeus”, destacou Altman, em janeiro passado.

No final de 2023, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) defendeu em nota o fundador do Opera Mundi. De acordo com a ABI, a determinação do Ministério Público Federal para instauração de processo investigatório foi iniciada é fruto de queixa feita “de forma enviesada”. A entidade afirmou que confundir as posições antissionistas de Altman com crime de antissemitismo é fazer o jogo dos defensores do genocídio cometido por Israel na Palestina.

Há clara dicotomia no discurso judaico, que para censurar opiniões divergentes defende a ocupação de um território que há muito deveria estar fraternalmente dividido. O UCHO.INFO é contra a violência e defende o diálogo permanente em busca da paz, sem privilégio para qualquer uma das partes.

Combater o Hamas é muito diferente de uma investida genocida. Por trás desse massacre existe um plano para que colonos israelenses ocupem a Faixa de Gaza. É preciso defender a paz no Oriente Médio, algo que exige a incondicional criação de um Estado palestino. Nenhum povo é melhor do que outro.


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