A manifestação convocada por Jair Bolsonaro, realizada no domingo (25), em São Paulo, continua provocando devaneios. Apoiadores do ex-presidente afirmam que 750 mil pessoas compareceram à Avenida Paulista. Quem participou do ato contra a então presidente Dilma Rousseff, em 2016, quando 500 mil pessoas foram à principal via da cidade de São Paulo, sabe que o ato bolsonarista sequer chegou a esse patamar.
O Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) calculou que 185 mil pessoas foram ao ato convocado por Bolsonaro, que em vez de se defender acabou se autoincriminando na seara do fracassado plano de golpe de Estado. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) – leia-se governo do bolsonarista Tarcísio de Freitas – informou que 600 mil pessoas compareceram ao ato.
A informação de que a manifestação recebeu 750 mil apoiadores partiu da SSP, que considerou as pessoas que estavam nas ruas perpendiculares à Avenida Paulista. Resumindo, os bolsonaristas foram ao evento para não ver o golpista e permanecer nas travessas.
Os pesquisadores da USP utilizaram imagens aéreas da Avenida Paulista no espaço ocupado pelos apoiadores de Bolsonaro, sem sobreposição das fotos, e submeteram o material a um software específico. Considerando as margens de erro, na melhor das hipóteses a manifestação contou com 200 mil pessoas.
A questão em termos numéricos é simples. Tomemos por base a capacidade total do Estádio Mário Filho, o lendário Maracanã, que é de 78 mil espectadores. Ultrapassa os limites da irresponsabilidade imaginar que “dez Maracanãs” estavam na Avenida Paulista para apoiar Bolsonaro. Não se trata de minimizar o contingente de pessoas que o apoiam, mas é necessário ter doses mínimas de coerência.
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Outra informação distorcida acerca do evento ganhou espaço em veículos de imprensa. Importantes portais de notícias afirmaram que Jair Bolsonaro tem metade da população a seu favor, o que não é verdade.
Em 30 de outubro de 2022, por ocasião do segundo turno da disputa presidencial, o Brasil tinha 156.454.011 eleitores aptos a votarem. Bolsonaro teve 49,10% dos votos válidos, contra 50,90% do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não se pode confundir votos válidos com uma parcela da população brasileira. Sendo realista, o número de eleitores que votaram em Jair Bolsonaro naquele ano corresponde a menos de 30% da população total. De acordo com o Censo 2022, naquele ano o Brasil tinha 203 milhões de habitantes.
Muitos dos eleitores votaram em Bolsonaro por intolerância ao PT, ao passo que outros tantos votaram em Lula porque têm apreço pela democracia e abominam golpistas. Esse cenário explica a polarização que marcou a campanha presidencial de 2022.
Reunir 200 mil em meio a acusações de tentativa de golpe não é tarefa fácil, mesmo sabendo que o chamado “bolsonarismo-raiz” nega a realidade dos fatos, não sem antes recorrer às teorias da conspiração para justificar o injustificável.
A manifestação do domingo mostrou que a força política de Jair Bolsonaro está encolhendo, ficando cada vez mais restrita ao bolsonarismo. Fossem verdadeiras as informações de alguns veículos de comunicação, a Avenida Paulista teria recebido número muito maior de manifestantes. Considerando a população da cidade de São Paulo, que é de 11,4 milhões de habitantes (Censo 2022), a Avenida Paulista recebeu o equivalente a menos de 2% do contingente de moradores da capital paulista.
A manifestação continuará na mira de polêmicas e controvérsias, mas os números não mentem jamais. Por outro lado, não será surpresa se os bolsonaristas, assim como fizeram em relação às urnas eletrônicas, passarem a exigir manifestações auditáveis e com certificado de participação impresso.
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