Em evento patético, Jair Bolsonaro destila falso bom-mocismo e se complica ainda mais

 
A conivência de setores da imprensa brasileira com o golpismo liderado por Jair Bolsonaro é criminosa e nauseante. Algumas figuras de destaque do jornalismo estão exaltando o ato convocado por Bolsonaro e que aconteceu no domingo (25), na Avenida Paulista, em São Paulo.

Alguns profissionais da imprensa preferiram exaltar a força política de Bolsonaro, enquanto outros insistem em afirmar que o golpista mandou um recado para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. É difícil saber o que é mais absurdo entre as duas colocações.

Quem, no domingo, circulou pelas imediações da Avenida Paulista logo após o fim do evento pode perceber o quão patéticos são os que foram ao ato organizado por Silas Malafaia, o pastor de aluguel de Bolsonaro. Dezenas de milhares de pessoas que viveram as agruras da ditadura militar compareceram ao ato em defesa do golpe. Algo que só pode ser classificado como surreal.

Jair Bolsonaro disse que usaria o evento para se defender das acusações de tentativa de golpe, fartamente comprovadas, mas, como sempre, conseguiu ser patético. Na verdade, o ex-presidente deu mais munição aos investigadores ao discursar aos apoiadores que, mais uma vez, sequestraram as cores verde e amarelo para dar guarida ao golpismo.

Intimado para depor à Polícia Federal na última quinta-feira (22), no âmbito da Operação Tempus Veritatis, Bolsonaro alegou, através dos advogados, que não teve acesso ao conteúdo das investigações, por essa razão permaneceu em silêncio. Ao reconhecer a existência da minuta do golpe, o ex-presidente demonstrou ter ciência do conteúdo das investigações.


 
Além disso, o golpista fracassado reforçou a não existência de qualquer tipo de perseguição por parte dos investigadores, que continuarão firmes na busca de mais provas para condenar os responsáveis pela tentativa de implosão da democracia.

O discurso de Bolsonaro foi tão delirante, que ele chegou a pedir anistia aos condenados e presos por conta dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, ou seja, reconheceu que todos os que participaram do quebra-quebra em Brasília são culpados. E ninguém é culpado por algo que não praticou. Apenas em regimes ditatoriais isso acontece.

A afirmação de que deseja pacificar o País, depois de passar quatro anos ameaçando a democracia e fermentando a polarização e a discórdia, agora Bolsonaro diz que a eleição de 2022 é “página virada” e quer “passar a borracha” no passado para seguir adiante, como se não tivesse cometido crimes em série enquanto chefe do Executivo federal.

“O que é golpe? É tanque na rua, é arma, conspiração. Nada disso foi feito no Brasil. Agora o golpe é porque tem uma minuta do decreto de Estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Tenha paciência”, disse aos fanáticos seguidores.

“O que eu busco é a pacificação, é passar uma borracha no passado. É buscar maneiras de nós vivermos em paz. É não continuarmos sobressaltados. É por parte do Parlamento brasileiro (…) uma anistia para aqueles pobres coitados que estão presos em Brasília”, completou.

Uma das hipóteses aventadas na órbita do plano golpista era a decretação de Estado de sítio, que Bolsonaro confundiu, em seu discurso, com Estado de defesa, duas situações distintas. O Estado de defesa tem prazo de trinta dias. Ao passo que o Estado de sítio não tem prazo.

“Deixo claro que Estado de sítio começa com o presidente da República convocando os conselhos da República e da defesa. Isso foi feito? Não. Apesar de não ser golpe, o Estado de sítio não foi convocado por ninguém dos conselhos da República e da Defesa para se tramar ou para se botar no papel a proposta do decreto do Estado de sítio”, afirmou.

“O segundo passo do decreto do Estado de sítio, após o presidente ouvir os conselhos, ele manda uma proposta para o parlamento e essa proposta é analisada pelo parlamento e é o parlamento quem decide se o presidente pode ou não editar um decreto de Estado de sítio. O Estado de defesa é semelhante. Ou seja, agora querem entubar a todos nós que um golpe usando dispositivo da Constituição, cuja palavra final quem dá é o parlamento brasileiro, estava em gestação”, emendou.

O bom-mocismo de ocasião de Bolsonaro provoca engulhos, mas é certo que uma condenação, seguida de prisão, está a caminho. O ex-presidente tenta passar ao Supremo Tribunal Federal (STF) a falsa ideia de que está em nova fase. Esse movimento tem por objetivo amainar a situação junto aos ministros do STF, que não darão um só passo atrás no terreno da tentativa de golpe.

Se a ideia de Bolsonaro e sua turba era mandar ao STF o recado de que sua eventual prisão poderá deflagrar uma guerra civil, o melhor que o ex-presidente pode fazer, depois do ato na Avenida Paulista, é deixar pronto o embornal a ser levado para a prisão.


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