Lobby, maracutaias da política brasileira e a perigosa falta de interesse dos brasileiros pelo tema

 
Desde a primeira edição do UCHO.INFO –chegamos nesta terça-feira (27) a 5.255 edições – alertamos para a importância de o cidadão se interessas pelas coisas da política. Ao longo desse período, em muitas ocasiões, ouvimos que política é algo chato, mas a preocupação é necessária para preservar os interesses de cada pessoa.

É um grave erro imaginar que no Brasil a democracia representativa é o melhor modelo político. Os eleitos – atentem para o fato de que são sempre os mesmos – trabalham para atender aos próprios interesses, jamais em benefício dos eleitores e daqueles que não lhes confiaram o voto.

Nossa insistência no tema se deve ao fato de setores econômicos exercem lobby pesado e criminoso para conseguir vantagens das mais diversas. Por isso os brasileiros precisam se organizar para pressionar a classe política, que enriquece cada vez mais. É preciso reconhecer que há exceções no meio, mas a maioria se locupleta sem qualquer dose de vergonha.

Entidades ligadas ao agronegócio sugeriram isenção total de impostos sobre mais de 40 itens para a nova cesta básica. A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) deve apresentar nos próximos dias a lista final dos produtos, que inclui, entre outros itens, bolos, chás, barras de cereais, creme de leite e cacau em pó.

Que ninguém pense que o agronegócio está preocupado com o cidadão, pois o interesse maior nesse movimento é manter os respectivos negócios em funcionamento e lucrar.

Garantir acesso à alimentação é mandatório, mas não se pode esquecer que muitos dos produtos sugeridos pelo setor são ultraprocessados, ou seja, em algum momento os trabalhadores bateram à porta do SUS com problemas de saúde. Há inconteste diferença entre matar a fome e ter uma alimentação minimamente saudável.

Além do cenário acima descrito, o Estado, como um todo, tem o dever de criar condições para que a renda média do cidadão cresça de forma sustentável, algo possível apenas com educação de qualidade e capacitação profissional. Não podemos fechar os olhos para a realidade e normatizar a precarização do trabalho, aceitando passivamente um quadro em que cada vez mais brasileiros proporcionam lucros absurdos às empresas de tecnologia que operam aplicativos de entrega e de transporte.


 
Há quase 20 anos, o editor do UCHO.INFO apresentou a um grupo de parlamentares proposta de isenção de IPI, PIS e Cofins sobre material escolar. Inicialmente, a ideia foi bem recebida e levada à discussão nas comissões temáticas permanentes da Câmara dos Deputados e do Senado, mas acabou abandonada por força do lobby criminoso das grandes empresas do setor que estão instaladas na Zona Franca de Manaus.

Nesses casos, lobby significa distribuição de dinheiro grosso a políticos corruptos que se elegeram com o discurso mentiroso de que defenderiam os interesses de todos os brasileiros. Isso é mera utopia, algo que a aritmética político-eleitoral explica facilmente.

Um candidato à Câmara dos Deputados, filiado a um partido de porte mediano para cima, precisa de pelo menos 100 mil votos para se eleger. Com o custo aproximado de R$ 50 por voto, uma campanha eleitoral custa R$ 5 milhões. Não é necessário ter esse montante em caixa logo de início, mas para dar a largada na campanha é preciso ter disponível pelo menos 20% desse valor, ou seja, R$ 1 milhão. O restante, com a parafernália eleitoral na rua, se consegue com muitas promessas e conversas fiadas.

No caso de conseguir se eleger à Câmara dos Deputados, por exemplo, o candidato levará para Brasília um sem-fim de promessas feitas àqueles que financiaram a campanha. Final, a política não cede espaço à benemerência, pois é um negócio espúrio e nauseante.

O mesmo candidato pode se eleger sem ter conseguido todo o valor necessário para custear a campanha, mas aterrissará em Brasília com um amontoado de dívidas, as quais deverão ser pagas ao longo do mandato. É nesse detalhe que reside o perigo maior, pois o proxenetismo político entra em campo logo nos primeiros dias do mandato.

O salário bruto de um deputado federal é de quase R$ 40 mil. Descontado o Imposto de Renda (27,5%), o valor cai para R$ 29 mil. Considerando que um mandato de deputado é de quatro anos, ao final do período o eleito terá embolsado, em valores líquidos, menos de R$ 1,4 milhão. É preciso que alguém explique essa aritmética, pois causa espécie alguém investir R$ 5 milhões em dois meses e meio de campanha para receber 30% desse valor em salários ao longo de quatro anos, caso eleito. É nesse momento que surge em cena o picadeiro para mágicas, ilusionismos e outros truques.

Tal cenário prova que é procedente o nosso apelo para que os brasileiros se interessem pelas coisas da política, algo que exige educação minimamente decente. Não somos contra a isenção de impostos sobre determinados itens da cesta básica, mas o povo também tem fome de conhecimento.


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