(*) Gisele Leite
A célebre frase “para inglês ver” tem como significado primordial fingir que fez algo, ou fazer malfeito. Surgiu na primeira metade do século XIX, quando a Inglaterra, por conta de seus interesses econômicos, tentou abolir a escravidão no mundo. Em sua lista situava-se o Brasil, que tinha nos escravos a base de sua economia.
A tese mais aceita sobre a origem da dita expressão é do filólogo João Ribeiro em sua obra intitulada “A Língua Nacional”, que retratou que no tempo do Império as autoridades brasileiras, fingindo que cediam às pressões da Inglaterra, tomaram algumas providências aparentes para combater o tráfico de escravos.
Já Antenor Nascentes enumerou outras teses, e uma destas foi ao tipo de linho que os ingleses usavam em Pernambuco, diferentes da casimira preferida pela população local, o que levava certos gozadores, sempre que viam um nativo trajando livro, a dizer, que só se vestia assim “para inglês ver”.
Ressalte-se que entre as teses enumeradas por Nascentes, a mais detalhada e até mais crível, conforme anotou que Gilberto Freyre e Afonso Arinos lhe deram crédito, foi a apresentada por Pereira da Costa em seu “Vocabulário Pernambuco”.
O atual Presidente da República além de fazer uso inadequado da palavra “genocídio”, e tanto se preocupar com o conflito na Faixa de Gaza, olvidou o conflito grave entre a Guiana e Venezuela que envolve cerca de setenta e cinco por cento do território da Guiana.
Sem esquecer que a proximidade do conflito do território brasileiro também é preocupante e, certamente, a possível onda de imigratória que poderá acarretar. Infelizmente, com um cenário bonito do Caribe, o atual Presidente da República já afirmou que não discutirá a questão de Essequibo, em seu discurso apenas reforçou a posição brasileira pela paz na América do Sul.
Lembremos que para os venezuelanos o único instrumento legal válido sobre a questão da fronteira é o Acordo de Genebra de 1966, assinado meses antes da independência da Guiana, entre Venezuela e o antigo poder colonial. O documento internacional prevê também que os dois países busquem alternativas pacíficas previstas na Carta da ONU para resolver a controvérsia.
Até as nações que compõem o Mercosul, que inclui Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, além de países associados como Chile, Colômbia, Equador e Peru. “Os Estados Partes do Mercosul manifestam sua profunda preocupação com a elevação das tensões entre a República Bolivariana da Venezuela e a República Cooperativa da Guiana.
A América Latina deve ser um território de paz e, no presente caso, trabalhar com todas as ferramentas de sua longa tradição de diálogo.
Em dezembro de 2023, a Corte Internacional de Justiça, órgão judiciário da ONU decidiu que a Venezuela não poderá anexar Guiana. A propósito, a disputa existente sobre o território de Essequibo já dura mais de um século, sendo rica em petróleo e minerais, além de oferecer uma saída para o Oceano Atlântico.
Há, também, restrições descritas em relatórios da OEA (sobre a “nomeação ilegítima” do Conselho Nacional Eleitoral por uma Assembleia Nacional ilegítima) e da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (de outubro de 2022, de novembro de 2022 e de março de 2023).
Enquanto nos preocupamos tanto com a guerra entre palestinos e israelenses, ignoramos peremptoriamente o conflito entre Venezuela e Guiana e, a propósito, a recente fotografia (a pleno sorriso) do atual Presidente da República brasileira e Nicolás Maduro, um autocrata venezuelano, não condiz com nossa tradição democrática e nossos repúdios em face de ditaduras e governos autocráticos. Enfim, tudo não passa de uma estratégia “para inglês ver” …
(*) Gisele Leite – Mestre e Doutora em Direito, é professora universitária.
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