Mortos pela Polícia Militar de SP na Baixada Santista foram levados a hospitais para evitar perícia

 
Nesta quinta-feira (7), o Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial (Gaesp), do Ministério Público de São Paulo, iniciou investigação para apurar denúncias de funcionários da Saúde da cidade de Santos, no litoral paulista, de que corpos de mortos na Operação Verão da PM na Baixada Santista são levados como vivos para hospitais. As denúncias foram reveladas pelo portal G1 e pela TV Globo.

Os promotores verificarão os prontuários médicos para identificar os socorristas e saber como ocorreu o transporte dos alvos a PM. O Gaesp também oficiou a Secretaria de Santos para obter informações sobre eventual instauração de sindicância interna.

Quando um corpo é retirado do local do crime, o trabalho da perícia fica prejudicado e é difícil constatar, por exemplo, se ocorreu um homicídio ou Morte Decorrente de Intervenção Policial (MDIP) – quando alguém é baleado em confronto com a polícia.

De acordo com promotores e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a retirada dos corpos, se for confirmada, pode ser enquadrada como crime de fraude processual. A pena prevista na lei é de três meses a dois anos de detenção, além de multa.

Em dez boletins de ocorrência que se referem a 17 das 39 mortes ocorridas durante a operação da PM, a polícia alega que os mortos eram criminosos e foram baleados por estarem armados. No caso de 12 pessoas mortas, há a informação de que foram socorridas e levadas com vida ao pronto-socorro, onde teriam morrido.

A informação que consta nos boletins, com algumas pequenas variações, é que “os policiais foram recebidos a tiros e houve confronto. Um suspeito foi atingido e levado ao Pronto-Socorro, mas não resistiu”. Relatos de funcionários do sistema de saúde de Santos, no entanto, diferem do que está escrito nos boletins de ocorrência.


 
Secretário é adepto do extermínio

Tal procedimento, se comprovado, não causa surpresa, pois o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, já defendeu o extermínio de criminosos por parte de policiais militares. Ex-comandante da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), Derrite disse em gravação de áudio, divulgada nas redes sociais, ser vergonhoso para um policial “não matar nem três pessoas em cinco anos”.

Derrite foi convidado a deixar a Rota, tropa de elite da PM paulista, devido ao grande número de confrontos e de pessoas mortas em serviço.

“A real? Porque eu matei muito ladrão”, disse o capitão da reserva, em entrevista, ao ser questionado sobre o motivo que o levou a deixar a Rota.

“A real é essa, simples. Pá! Tive muita ocorrência de troca de tiro, eu ia para cima. Quem vai para cima, está sujeito. Troquei tiro várias vezes, uma atrás da outra e isso acabou incomodando, não sei quem, mas veio a ordem de cima para baixo, questão política: ‘tira o Derrite da Rota’. E fui convidado a me retirar”, declarou.

Faz-se necessário lembrar que a Rota foi responsável pelo massacre do Carandiru (1992), quando mais de 300 presos foram cruelmente assassinados por integrantes da corporação. Dados oficiais apontam que 111 presos foram mortos, mas informações exclusivas obtidas pelo UCHO.INFO com um agente penitenciário que estava trabalhando no dia da matança respaldam a nossa afirmação. Há quem garanta que quase 500 presos foram mortos naquele dia, sendo que a maioria dos corpos foi retirada em caminhões de lixo.

Vale ressaltar que, recentemente, Derrite, com a anuência do governador Tarcísio de Freitas, mudou a cúpula da Secretaria de Segurança, agora composta apenas por ex-integrantes da Rota. Não é difícil imaginar o que teremos pela frente.


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