Medo de ser mulher no século XXI

(*) Gisele Leite

Os exemplos explícitos deixados por casos como os de Daniel Alves e Robinho expõem o problema da violência sexual contra as mulheres. Aliás, afirmam as mais recentes estatísticas que uma em cada seis mulheres tiveram a saúde mental afetada pelo medo de ser vítima de algum crime sexual, conforme a pesquisa da Organização Think Olga, iniciativa premiada pela ONU.

Lembremos que tanto Daniel Alves como Robinho eram atletas de sucesso, com projeção internacional e com as carreiras amplamente reconhecidas.

Atualmente, Daniel Alves conseguiu o direito de pagar uma fiança que corresponde a uma fortuna para deixar a cadeia mesmo depois de ser condenado por estupro.

Já, a seu turno, Robinho fora condenado na Itália por participar de estupro coletivo e, o STJ homologou a sentença italiana que transitou em 2022 e, ainda, decidiu que deverá cumprir pena no Brasil. Portanto, o noticiário acena com evidentes amostras de violência sexual que se repete diariamente e, que traduzem em gatilhos emocionais para as mulheres, constituindo traumas e perigos constantes de serem vítimas.

Nós, mulheres, ainda que não sendo vítimas dessa violência, se reconhecem em situações tais como: Ter medo de ser assediada ou violada ao andar na rua sozinha. Ser olhada de forma desrespeitosa ou ouvir comentários sexuais. Ser tocada por alguém mesmo sem a sua permissão.

Enfim, esse terror nos impacta e nos questiona como nos vestimos, como nos comportamos e, até mesmo sobre os lugares frequentados

O que impõe um viver sob constante vigilância por medo de ser vítima de algum abuso. Infelizmente, são estratégias para culpar a vítima pelo abuso sofrido. Não podemos compactuar com isso.

Sobre a saúde mental de gênero, percebemos que a violência de gênero é questão relevante dentro do desenvolvimento de doenças tais como depressão e ansiedade. E, os estudos publicados em 2018 revelam que as mulheres vítimas de violência têm maior chance de desenvolver transtornos mentais.

Maíra Linguori, presidente da Think Olga, ainda explica que os acontecimentos noticiados fartamente na mídia representam perigosos gatilhos que nos aterrorizam sendo risco constante a que estão submetidas as mulheres.

Segundo o Ministério da Justiça, em nosso país, cinco mulheres são estupradas a cada hora, e o estupro tem sido um crime em ascensão nos últimos anos. E, as variações delitivas que vão desde o assédio até o estupro nos aflige e, nos obriga a viver sob constante vigilância sobre nosso corpo, comportamento ou sensualidade.

Anteriormente, os agressores, principalmente, quando famosos eram protegidos pelo silêncio envergonhado das vítimas, mas doravante as mulheres passaram a ter a coragem e a obstinação de fazer a denúncia. Mas, mesmo assim, sofrem nova agressão, pois, por vezes, o agressor sai impune.

Mesmo com os progressos galgados pelo feminismo no mundo, ainda não conseguiu esclarecer e fazer compreender a visibilidade da violência sexual sofrida pelas mulheres.

Em pleno século XXI os direitos das mulheres não estão garantidos, ainda estão em disputa. Temos nossos direitos questionados, e nossa liberdade questionada e posta sob suspeição.

Confesso: apesar de estarmos exaustas, precisamos continuar a lutar e não consolidar o medo de ser mulher hoje.

Deixo uma questão: por que pessoas de grandes habilidades físicas e técnicas não possuem a maturidade suficiente para não praticar violência sexual, num tempo de liberdade sexual?

(*) Gisele Leite – Mestre e Doutora em Direito, é professora universitária.

As informações e opiniões contidas no texto são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo obrigatoriamente o pensamento e a linha editorial deste site de notícias.


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