(*) Lêda Lacerda
Sempre é tempo de falar de amor!
Aqui, lembro da música Travessia, de Milton Nascimento e Fernando Brandt, onde todo o processo de perda, dor e renascimento são cantados.
Quem algum dia não sentiu que “Quando você foi embora, fez-se noite em meu viver…” e rolou lágrimas desconsoladas? Mesmo que tenha sido você a autora do merecido pé no derrière do dito?
“Forte eu sou, mas não tem jeito, hoje eu tenho que chorar…” permite a letra… E lá vamos nós… pranto desenfreado.
O lamento “minha casa não é minha, e nem é meu este lugar” marcou-me em tantas fases da adolescência à maturidade, que a usaria sem dúvida como trilha sonora de muitos episódios da minha vida. Acredito que muitas pessoas, como eu, já se sentiram neste limbo, com a sensação, diga-se a verdade – horrorosa e inglória, de não ter ou pertencer a algum lugar. E aqui não falo de moradia. Mas de ocupar espaço. De nos sentirmos em nosso lugar de direito. Ocupando sem culpas cada centímetro pisado.
E como não bastasse, vem a frase: “estou só e não existo, muito tenho para falar…” Isso é cruel. E dá-lhe a sensação de abandono, de ser ignorado e poder sequer falar.
Mas depois de um “caminho de pedras”, que não deixa sequer sonhar, vem o “vento fechar o pranto” e a decisão de querer se matar. Vamos aqui esclarecer que “se matar” não significa pulsos cortados, sangue por todos os lados, afogar-se na banheira ou encher-se de medicamentos. Para mim sempre foi algo mais sutil, mais relacionado a encerrar uma fase, aquele momento em que dizemos basta!
Mas o que sempre me emocionou nesta música é a beleza da volta por cima. Depois da noite eterna, depois de perder o espaço e a localização, vem a proposta de cicatrizar as feridas: “Vou seguindo pela vida, me esquecendo de você. Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver” Ufa!! Faxina geral! Cremação de todos os esqueletos guardados no peito. Tirar o mofo, arejar os cantos…abrir espaço.
“Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer…” Nada de antecipar sofrimentos. E se der certo?
E aqui eu mudaria: e o “Já não sonho”? Eu diria: Claro que sonho! E finalizaria, quebrando a rima e sem saber como colocar na melodia, dizendo ao invés de: “Hoje faço, com meu braço o meu viver!” Diria: O meu viver faço com o coração. E não vou desistir de amar. De novo!
(*) Lêda Lacerda – paulistana, estudou no Colégio Rio Branco e formou-se em enfermagem pela USP. Sempre se interessou por moda e nas horas vagas por escrever sobre experiências de vida. Anos mais tarde, ingressou profissionalmente no universo da moda, tendo também se dedicado à formação de modelos e atores. A paixão pela escrita permanece até hoje, hobby que usa para traduzir em letras a emoção e o amor que marcam seu cotidiano.
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