(*) Lêda Lacerda
Afinal passei boa parte da minha vida, trabalhando em agências de modelos, até que resolvi abrir a minha.
Sempre fui chamada, principalmente pelos “scooters”, para dar palestras sobre a vida de modelo.
A maioria das vezes, olhando a plateia, me deparava com rostinhos jovens, na sua maioria garotas entre 14 e 16 anos.
O sonho faz parte do desejo dessas meninas em se tornar uma “supermodelo”. Tarefa difícil essa, onde os sacrifícios são imensos para tão pouca idade.
Sem dúvida os requisitos passam por um rosto interessante, nem sempre dentro dos padrões de beleza que a maioria de nós aprendemos a considerar.
É preciso ser fotogênica, ter altura entre 1,75 m e 1,78 m, pele e cabelos perfeitos e agora vem o que me leva a escrever sobre esse tema: ser magra.
E aí começam os verdadeiros problemas.
O mercado não aceita garotas fora do “padrão”.
Gordo não tem vez, visibilidade etc.
De quem é a culpa? Da modelo? Do mercado, certamente.
Podem gritar, ter faniquito e fazer boneco de vodu, que não adianta.
A culpa é dos estilistas que exigem modelos magras e retas, que não “entortam” as roupas.
Dessa forma as meninas para se encaixarem no padrão começam com os inibidores de apetite e o vômito escondido, não só dos pais, mas de todos.
A modelo então sai das passarelas para também se tornarem capas das grandes revistas de moda, nacionais e internacionais.
Comecei a escrever esse texto em memória da modelo de 21 anos que morreu, quem sabe de fome.
Ao contrário das crianças carentes, ela passou fome para se adaptar a esse mundinho magro de amor. Enfim, a modelo Carolina Reston foi enterrada; sua mãe passa tardes em prantos, alertando outras mães.
Carolina precisou morrer de fome para ser capa de todas as revistas importantes do país.
(*) Lêda Lacerda – paulistana, estudou no Colégio Rio Branco e formou-se em enfermagem pela USP. Sempre se interessou por moda e nas horas vagas por escrever sobre experiências de vida. Anos mais tarde, ingressou profissionalmente no universo da moda, tendo também se dedicado à formação de modelos e atores. A paixão pela escrita permanece até hoje, hobby que usa para traduzir em letras a emoção e o amor que marcam seu cotidiano.
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