O assassinato do empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, executado na área de desembarque do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na última sexta-feira (8), confirma as denúncias feitas pelo UCHO.INFO ao longo dos anos. Nos últimos meses, afirmamos com insistência que era preciso investigar o montante da propina paga pelo crime organizado para policiais corruptos.
Nenhuma facção criminosa consegue existir e expandir os respectivos negócios ilícitos sem a conivência de parte das autoridades. Essa regra vale em qualquer parte do planeta. A principal facção criminosa em atividade no País fatura anualmente US$ 1 bilhão (equivalente a R$ 5,7 bilhões) com o tráfico internacional de drogas. No topo dessa pirâmide criminosa e milionária está a máfia calabresa ‘Ndrangheta, que movimenta 50 bilhões de euros por ano com o tráfico de entorpecentes. No Brasil, os parceiros do grupo mafioso são o Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV).
Quando afirmamos que era preciso investigar as propinas pagas a policiais coniventes com o tráfico de droga, tínhamos informações detalhadas e sigilosas sobre o funcionamento do esquema criminoso. Nossas informações coincidiram com as do setor de inteligência da Polícia Civil de São Paulo. Os policiais que identificaram e mapearam o esquema de corrupção sempre foram barrados em pretensas promoções na estrutura policial. Mesmo assim, mantiveram-se fiéis ao compromisso profissional.
A investigação sobre a execução de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, se levada a cabo, trará informações extremamente relevantes, ao mesmo tempo que fará muitos dos envolvidos perderem o sono. Isso porque as propinas, como já afirmamos anteriormente, sempre gravita na casa dos sete ou oito dígitos.
Informações obtidas com exclusividade pelo UCHO.INFO junto a policiais militares dão conta que Gritzbach não foi morto pelo PCC, que havia jurado o empresário de morte, mas por terceiros envolvidos no binômio tráfico-propina.
Gritzbach firmou acordo de colaboração premiada com o Ministério Público de São Paulo (MP-SP), mais precisamente com o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco). Nos depoimentos prestados aos promotores, o empresário acusou policiais do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), do 24º Distrito Policial (Ermelino Matarazzo) e do 30º DP (Tatuapé) de crimes de corrupção passiva, associação criminosa e concussão (vantagem indevida exigida por servidor público).
O empresário destacou, no âmbito dos depoimentos, a equipe responsável pela apuração dos assassinatos decorrentes da guerra entre membros da cúpula do PCC, disputa que envolve o controle do tráfico internacional de drogas, que, como mencionamos, movimentas cifras bilionárias. Uma das propinas pagas por um dos investigados, de acordo com Gritzbach, foi de R$ 70 milhões, ou seja, confirma nossas muitas denúncias anteriores.
Secretário de Segurança
Pela primeira vez, muito estranhamente, o governador de Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, não tomou a frente e comentou o caso, como faz com insistência em outros assuntos, impondo a seus secretários um silêncio quase obsequioso. Tal postura é explicada pelo projeto político de Tarcísio, que em 2026 pretende concorrer à Presidência da República.
Após o governador ter submergido, o secretário Guilherme Derrite, da Segurança Pública, afirmou que os policiais civis serão afastados. “Se não foram afastados (os policiais acusados por Gritzbach), tenho certeza de que serão. É o mais prudente a ser feito, sem dúvida nenhuma”, afirmou Derrite, na tarde desta segunda-feira, durante coletiva de imprensa convocada para anunciar a criação de uma força-tarefa para investigar a execução no aeroporto de Guarulhos.
Os quatro policiais militares que faziam escolta para Gritzbach também foram afastados e já são alvo de investigação. De acordo com o regimento interno, os policiais militares da ativa são proibidos de fazerem atividades externas à corporação.
“Não temos problema nenhum em apurar e depurar desvios de conduta, seja na Polícia Militar ou na Polícia Civil. Ele (Gritzbach) fala de fatos de 2021 e 2022, antes de nossa chegada aqui (a gestão Tarcísio de Freitas começou em janeiro de 2023)”, completou o secretário.
O delegado-geral da Polícia Civil, Artur Dian, por sua vez, prometeu apurar as denúncias feitas pelo empresário. “Vamos verificar o que ele disse nos três inquéritos que foram abertos na Corregedoria em razão das declarações para saber as circunstâncias e acusações. Ainda não temos esse levantamento.”
Uma apuração rigorosa do caso e das denúncias, como prometida, alcançará autoridades graduadas na estrutura policial de São Paulo. É preciso saber até que ponto quem foi escalado para investigar o caso não tem envolvimento com os denunciados por Antônio Vinícius Lopes Gritzbach.
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