(*) Gisele Leite
Usam gorros pretos em suas operações, o que deu origem ao apelido. Fazem parte da elite de combate do Exército e atuaram nas maquinações golpistas. Um de seus lemas é: “em qualquer missão, em qualquer lugar, a qualquer hora e de qualquer maneira”. Registre-se que Bolsonaro sempre desejou ser um kid preto, fez prova duas vezes, sem êxito.
Mesmo assim, sempre se cercou das forças especiais do Exército, tanto que sua equipe contava com pelo menos vinte e seis kids pretos. Com sua derrota nas eleições presenciais, sua equipe não o abandonou. Entre dezembro e janeiro de 2022, a capital da República brasileira foi palco de pelo menos dois eventos de natureza golpista. Eventos protagonizados por bolsonaristas acampados em frente ao quartel-general de Brasília.
Finalmente, em 8 de janeiro, deu-se a intentona golpista que trouxe muito prejuízo, alguns desses completamente irreparáveis, como obras históricas que não puderam ser restauradas. Os kids pretos compõem somente 0,25% da tropa, mas gozam de altíssimo preparo estratégico e bélico. Sua indignação com a derrota do então presidente, na época, gerou um evento disparador para propiciar a “virada de mesa”.
Em março de 2018, por exemplo, o general Luiz Eduardo Ramos participava de um jantar com outros militares brasileiros quando resolveu telefonar para o então deputado federal Jair Bolsonaro.
Depois de uma rápida conversa, Ramos desligou o telefone e confidenciou aos presentes: “Estão vendo? Esse cara está nas nossas mãos. Se ele for eleito, a gente vai governar por ele.” Coube ao general Ramos a articulação para que Bolsonaro colocasse no comando do Exército o general Freire Gomes, outro kid preto.
O nome do plano se chamava “Punhal Verde e Amarelo” e previa a execução literal de lideranças políticas e a criação de gabinete golpista, segundo a Polícia Federal. Tal planejamento começou a ser colocado em prática em 15 de dezembro de 2022, e começaria com os homicídios de Lula e Alckmim, além o do Ministro Alexandre de Moraes. O referido planejamento incluía também estratégias avançadas com o uso de técnicas operacionais e também a criação de Gabinete Institucional de Crise, para administrar os conflitos decorrentes.
No entanto, apesar de todas as pressões realizadas, o general Freire Gomes e a maioria do Alto Comando do Exército mantiveram a posição institucional, não aderindo ao golpe de Estado.
Tal fato não gerou confiança suficiente para o grupo criminoso avançar na consumação do ato final e, por isso, o então presidente da República (…) estar com o decreto pronto, não o assinou. Com isso, a ação clandestina para prender/executar ministro Alexandre de Moraes foi “abortada”.
A Polícia Federal encontrou documentos detalhados que descrevem o planejamento estratégico de um golpe de Estado no Brasil em um pendrive apreendido com o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, mais um integrante da tropa de elite conhecida como “Kids Pretos”, em Goiânia.
O material está nas investigações da Operação Luneta, cujo sigilo caiu nesta semana, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Quando ele determinou o fim do sigilo do relatório que indicia 37 pessoas por golpe de Estado – dentre elas, o ex-presidente Jair Bolsonaro – retirou o sigilo de investigações correlatas.
Outra peça importante da investigação é uma carta de quatro páginas encontrada em fevereiro deste ano no gabinete de Jair Bolsonaro, na sede do Partido Liberal (PL). O texto faz duras críticas ao STF e apresenta argumentos para justificar a convocação das Forças Armadas. Em um dos trechos finais, está escrito:
“Afinal, diante de todo o exposto e para assegurar a necessária restauração do Estado Democrático de Direito no Brasil, jogando de forma incondicional dentro das quatro linhas, com base em disposições expressas da Constituição Federal de 1988, declaro o Estado de sítio; e, como ato contínuo, decreto Operação de Garantia da Lei e da Ordem”.
Enfim, o relatório da Polícia Federal detalhado e anexando provas cabais, não deixa sombra de dúvida da participação e culpabilidade nos ilícitos praticados, onde a vítima principal é o Estado Democrático de Direito. Assim, não há razão para tolerar, anistiar ou, simplesmente, acreditar que a iminência do golpe de Estado cessou.
Urge que se suspenda o recesso do Judiciário e se prossiga os procedimentos processuais para, enfim, preservar nossa jovem democracia, que precisa ser protegida dos golpistas insanos e muito pretos.
(*) Gisele Leite – Mestre e Doutora em Direito, é professora universitária.
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