Desde que voltou ao poder, em 20 de janeiro, Donald Trump reiterou a proposta de tirar os palestinos da Faixa Gaza em várias ocasiões, insistindo que Jordânia e Egito deveriam aceitar mais refugiados palestinos do enclave, ideia rejeitada categoricamente por ambos os países, assim como por Emirados Árabes Unidos, Qatar, Arábia Saudita, Autoridade Palestina e Liga Árabe.
Contudo, foi a primeira vez que Trump. Tomado por delírio contínuo, sugeriu o reassentamento de palestinos como solução permanente e afirmou que os EUA deveriam assumir o controle do enclave.
Estapafúrdia, a proposta do republicano soa como endosso ao genocídio promovido por Benjamin Netanyahu, o criminoso primeiro-ministro de Israel, e pelos fundamentalistas que o mantêm no poder. Netanyahu insiste exterminar os palestinos como forma de escapar da prisão, pois é processado por corrupção, suborno e tráfico de influência.
Afundando cada vez mais na vala dos devaneios, Trump precisa ser contido rapidamente, antes que a história seja distorcida e alterada com o apoio de lunáticos, como, por exemplo, Elon Musk e outros extremistas da direita americana. A limpeza étnica sugerida pelo presidente dos EUA reforça a tese de que a Faixa de Gaza é palco de um novo Holocausto, concordem ou não os judeus.
‘Ideia é capaz de incendiar a região’
A proposta foi imediatamente rechaçada por opositores americanos e diversos países da comunidade internacional que defendem uma solução de dois Estados para o conflito israelo-palestino, incluindo China, Austrália e Arábia Saudita.
Jordânia, Egito e a Liga Árabe, que reúne 22 nações, também têm se posicionado contra qualquer tentativa de retirar palestinos de suas terras. Defensores dos direitos humanos consideram esta proposta como uma tentativa de limpeza étnica. Qualquer deslocamento forçado provavelmente violaria a lei internacional.
O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, rejeitou a proposta do presidente dos Estados Unidos e ressaltou que o enclave é uma “parte integral” do Estado palestino. “Não permitiremos que os direitos do nosso povo, pelos quais lutamos há décadas e pelos quais fizemos grandes sacrifícios, sejam violados”, disse Abbas em uma mensagem.
O oficial do Hamas, grupo palestino considerado uma organização terrorista pela União Europeia e os EUA, Sami Zuhri, chamou os comentários de Trump de “ridículos e absurdos”. “Qualquer ideia desse tipo é capaz de incendiar a região”, disse.
Em reação à declaração de Trump, o Ministério do Exterior da Arábia Saudita disse nesta quarta-feira que não estabelecerá relações diplomáticas com Israel a menos que haja um Estado palestino independente e afirmou que o país se opõe “firmemente” a qualquer violação dos direitos legítimos do povo palestino, incluindo “tentativas de deslocá-los de suas terras”.
A chancelaria saudita enfatizou que sua posição é “inegociável” e que alcançar uma “paz justa e duradoura” é “impossível sem que o povo palestino obtenha seus direitos legítimos de acordo com as resoluções internacionais”, como, segundo ressaltou, “comunicou ao governo anterior dos EUA e ao atual”.
Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a postura de Trump “não tem sentido”. “Os Estados Unidos participaram do incentivo a tudo que Israel fez na Faixa de Gaza. Então não tem sentido se reunir com Netanyahu e dizer vamos ocupar Gaza, recuperar Gaza e morar em Gaza. E os palestinos vão para onde? Onde eles vão viver? Qual é o país deles? É uma coisa incompreensível. As pessoas precisam parar de falar o que lhes vem na cabeça e precisam começar a falar o que é razoável”, afirmou em entrevista a rádios de Minas Gerais na manhã desta quarta-feira.
Contra a solução de dois Estados
A sugestão de Trump parece descartar uma solução de dois Estados, em favor de algum tipo de novo paradigma que envolva os EUA atuando como um tampão na região.
O Hamas chegou ao poder na Faixa de Gaza em 2007, depois que os soldados e colonos israelenses se retiraram em 2005, mas o local ainda é considerado território ocupado por Israel pelas Nações Unidas. Hoje, Israel e Egito controlam todo o acesso a Gaza, inclusive o marítimo.
Contudo, a Organização das Nações Unidas e os Estados Unidos há muito endossam a visão de que uma solução de dois Estados vivendo lado a lado dentro de fronteiras seguras e reconhecidas seria a mais viável. Os palestinos querem ser reconhecidos como um país cujos territórios se distribuem na Cisjordânia, em Jerusalém Oriental e na Faixa de Gaza.
A posição de Trump indica um rompimento desta tradição diplomática. Questionado se é favorável a reconhecer a Palestina como um Estado, o americano disse que sua sugestão “não significa nada sobre dois Estados, um Estado ou qualquer outro Estado”.
Jon Alterman, ex-funcionário do Departamento de Estado que agora dirige o programa do Oriente Médio no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington acredita ser improvável que os habitantes de Gaza deixem a região voluntariamente.
“Muitos habitantes de Gaza descendem de palestinos que fugiram de partes da atual Israel e nunca puderam voltar para suas casas anteriores. Estou cético de que muitos estariam dispostos a deixar até mesmo uma cidade destruída. É difícil para mim imaginar um final feliz para a reconstrução maciça de uma Gaza despovoada.”
Os palestinos são, há muito tempo, assombrados pelo que chamam de Nakba, êxodo durante e após a guerra árabe-israelense de 1948. Estima-se que cerca de 700 mil pessoas tenham fugido ou sido forçadas a deixar suas casas no que hoje é Israel e nos territórios palestinos. Nakba lembra ainda que muitos refugiados palestinos no exterior permanecem apátridas até hoje.
Milhares foram expulsos ou fugiram para países árabes vizinhos, incluindo Jordânia, Síria e Líbano, onde muitos ainda vivem em campos de refugiados. Outros se deslocaram para Gaza.
Depois do início do atual conflito em Gaza, muitos habitantes da região se recusaram a deixar o enclave por temer que isso pudesse levar a outro deslocamento permanente como ocorreu em 1948. O Egito e outras nações árabes se opõem a qualquer tentativa de deslocar os palestinos. (Com agências internacionais)
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