Na semana que marca os 100 dias do segundo mandato de Donald Trump, o governo do Estados Unidos anunciou, nesta quarta-feira (30), que a economia americana retraiu a uma taxa anual de 0,3% no primeiro trimestre de 2025, o maior recuo desde 2022.
A bolsa americana despencou, e Trump foi rápido em tentar colocar a culpa do resultado frustrante em seu antecessor, Joe Biden, fazendo pouco caso do início caótico de seu segundo mandato, com guerra tarifária, mudanças bruscas em políticas e demissões em massa no governo.
“Este é o mercado de ações de Biden, não o de Trump”, afirmou o presidente, em sua rede social. Os dados mostram, contudo, que no último trimestre de 2024 – saideira de Biden –, a economia americana apresentou um crescimento de 2,4%.
“As tarifas logo começarão a ser aplicadas, e as empresas estão começando a se mudar para os EUA em números recordes. Nosso país vai crescer, mas temos que nos livrar do ‘excesso’ de Biden. Isso vai demorar um pouco, não tem nada a ver com tarifas”, defendeu Trump.
Os dados do primeiro trimestre divulgados pelo BEA (sigla em inglês para Escritório de Análise Econômica), apesar de serem de fato um retrato da economia antes do tarifaço de Trump, anunciado em 2 de abril, refletem as incertezas geradas pela política econômica do republicano.
Mesmo com sinais positivos de aumento do consumo interno, os efeitos da escalada da guerra comercial, com direito a tarifas que por fim totalizam 145% sobre bens vindos da China, foram suficientes para anular esse desempenho.
Consumidores correram para comprar bens, como carros, antes das tarifas de Trump entrarem em vigor. As empresas fizeram o mesmo, estocando equipamentos, peças e matérias-primas vindas de fora.
Assim, as importações cresceram 41,3%, enquanto as exportações expandiram 1,8% no primeiro quarto do ano. Esse descompasso comercial foi uma das principais razões para o resultado negativo do PIB americano, pois as importações são subtraídas do cálculo da atividade econômica.
Recessão no horizonte?
O anúncio desta quarta deu aos democratas munição para afirmar que as políticas de Trump podem empurrar a economia americana para uma recessão.
“Trump está no cargo há apenas 100 dias, e os custos, o caos e a corrupção já estão aumentando”, disse o senador democrata Jeff Merkley.
“A economia está desacelerando, os preços estão subindo e as famílias de classe média estão se sentindo prejudicadas.”
Peter Navarro, conselheiro comercial da Casa Branca e arquiteto da política comercial do governo, afirmou que a queda do PIB foi um “negócio único” devido ao aumento das importações, e disse que os cortes no imposto de renda de pessoas físicas e jurídicas planejados por Trump ajudariam o crescimento nos próximos meses.
“Tudo o que estamos vendo são notícias boas e fortes”, disse Navarro. “Portanto, a ideia de que há uma recessão chegando deve ser fortemente descartada.”
Riscos de estagflação
O Departamento de Comércio informou recentemente que a inflação subiu 2,3% em março, abaixo dos 2,7% de fevereiro, mas ainda acima da meta de 2% do Federal Reserve.
“Isso coloca o Fed em uma posição desconfortável: os riscos de inflação estão aumentando mesmo com a desaceleração do crescimento, receita perfeita para estagflação”, disse Christopher Boucher, diretor de investimentos da ABN AMRO Investment Solutions.
Estagflação é um jargão econômico que descreve a combinação de três problemas: crescimento econômico nulo (estagnação), alta inflação (preços subindo) e alto desemprego.
A situação é desafiadora porque as soluções para um problema agravam os outros. Para conter a inflação, por exemplo, normalmente eleva-se as taxas de juro, o que desestimula o consumo e o investimento, impactando a estagnação e o desemprego.
Realidade paralela
Tão logo Donald Trump adotou medidas temerosas e irresponsáveis, afirmamos que a cúpula da Casa Branca decidira viver uma realidade paralela, com direito a alucinações várias, como se fosse um cenário de esquizofrenia política.
Alertamos os nossos leitores para o fato de que a aventura de Trump – deflagrada para agradar eleitores, apoiadores e financiadores de campanha –, em algum momento provocaria efeitos colaterais graves na economia americana. Não esperávamos que isso pudesse acontecer de forma tão rápida.
Para uma economia que tem como principal propulsor o consumo interno (70% do PIB), uma contração econômica de 0,3% representa grave sinal de alerta. A título de comparação, no último trimestre de 2024, final do governo Joe Biden, o PIB americano cresceu 2,4%.
A guerra comercial, iniciada com o malfadado tarifaço, contribuiu para o encolhimento do PIB americano, revelando a irresponsabilidade de medida adotada.
Se você chegou até aqui é porque tem interesse em jornalismo profissional, responsável e independente. Assim é o jornalismo do UCHO.INFO, que nos últimos 20 anos teve participação importante em momentos decisivos do País. Não temos preferência política ou partidária, apenas um compromisso inviolável com a ética e a verdade dos fatos. Nossas análises políticas, que compõem as matérias jornalísticas, são balizadas e certeiras. Isso é fruto da experiência de décadas do nosso editor em jornalismo político e investigativo. Além disso, nosso time de articulistas é de primeiríssima qualidade. Para seguir adiante e continuar defendendo a democracia, os direitos do cidadão e ajudando o Brasil a mudar, o UCHO.INFO precisa da sua contribuição mensal. Desse modo conseguiremos manter a independência e melhorar cada vez mais a qualidade de um jornalismo que conquistou a confiança e o respeito de muitos. Clique e contribua agora através do PayPal. É rápido e seguro! Nós, do UCHO.INFO, agradecemos por seu apoio.