Empresa contratada pelo prefeito de Tucuruí recebeu R$ 36 mi em 2025; dono tem dívida de IPVA em SP

Prefeito reeleito de Tucuruí (PA), apesar de inelegível, o emedebista Alexandre França Siqueira afunda cada vez mais na lama de escândalos. Uma empresa de engenharia que tem contratos com a Prefeitura de Tucuruí é protagonista de um escárnio que certamente acabará na Justiça, talvez com direito a condenações e prisões.

A JC Construções e Transporte é o exemplo clássico dos milagres que ocorrem no Brasil. Inscrita no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas do Ministério da Fazenda sob o número 34.895.409/0001-35, a JC tem sua sede (sic) na Rua A, 48 – Bairro Santa Isabel, no município de Tucuruí. No citado endereço, o que se encontra é um terreno vazio, fechado com muro na cor cinza e a logomarca da empresa. (Foto abaixo)

Objetivando minimizar os efeitos colaterais dos escandalosos contratos firmados com a Prefeitura de Tucuruí, a JC alterou a razão social para Via Forte Construções e Transportes, nome pomposo que, à primeira vista, não causa suspeitas. O que tentam esconder os envolvidos na trama? (Foto abaixo)

Dias após a posse, Alexandre Siqueira assinou, em 10 de janeiro de 2025, aditivo ao contrato firmado com a JC (agora Via Forte) em 2024. No documento, a municipalidade citou o nome de Jhonny Conceição de Oliveira, CPF número XXX.XXX.222-20, como representante legal da empresa. (Clique)

Nos quatro primeiros meses de 2025, a Prefeitura de Tucuruí pagou à JC a bagatela de R$ 36 milhões por serviços diversos, muitos dos quais ainda não prestados. Em Tucuruí, nada funciona: saúde, educação, transporte e geração de empregos. Não por acaso, nos últimos quatro anos mais de 30 mil moradores deixaram a cidade em busca de oportunidades de trabalho e vida digna. (Clique)

Pregão eletrônico datado de 10 de janeiro de 2024, em que a JC Construções saiu vencedora, a Prefeitura contratou a locação de equipamentos diversos, como, por exemplo, caminhão basculante, caminhão limpa fossa, trator de esteira, pá carregadeira, escavadeira hidráulica, motoniveladora, vibro acabadora de asfalto, rolo compactador, trator de pneus, retroescavadeira, caminhão guincho, entre outros. Valor da locação: R$ 24.139.440,00. O proprietário da JC precisa vir a público para explicar como consegue guardar tantos equipamentos pesados em um terreno pequeno, vazio e abandonado. (Clique)

Em 9 de janeiro de 2024, a Prefeitura de Tucuruí homologou o pregão eletrônico número 054/2023, realizado em novembro do ano anterior. No melhor estilo cartas marcadas, a JC Construções e transporte saiu vencedora. Os valores ofertados pela JC foram menores do que os apresentados pelos concorrentes, em muitos casos com diferença de centavos. (Clique)

Pesquisa rápida na internet revela que a JC Construções e Transporte também presta serviço de guincho, mas o endereço é diferente do que consta no cartão de CNPJ da empresa – Rua Alcobaca, 31, Casa B – Terra Prometida – Tucuruí – PA.

No citado endereço, as instalações nem de longe sugerem que no local funciona uma empresa de guincho. Considerando que a sede da empresa (Rua A, 48) é um terreno vazio e abandonado, o serviço de guincho segue a mesma cartilha. (Foto abaixo)

Há quem garanta que o “dono” da JC Construções é um outrora garçom que supostamente reside em Tucuruí. Caso a informação seja verdadeira, o tal garçom descobriu a receita do milagre da multiplicação das cédulas. Afinal, a JC é uma potente cornucópia que, além de dinheiro de origem duvidosa, despeja aroma alaranjado. Resta saber o destino do suado dinheiro do contribuinte tucuruiense.

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Calculadora quebrada

Não é errado concluir que navega em águas tranquilas a situação financeira do proprietário de uma empresa que por R$ 24 milhões locou à Prefeitura, em 2024, equipamentos pesados que não tem onde guardar e nos quatro primeiros meses de 2025 recebeu R$ 36 milhões por prestação de serviços. Os parágrafos a seguir mostram que há inquestionável incongruência na seara financeira.

A Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso XV, garante ao cidadão o direito à “livre locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”.

À sombra da Constituição, Jhonny Conceição de Oliveira – dono da JC Construções, agora Via Forte – expandiu seus tentáculos Brasil afora. No estado de São Paulo, Jhonny aparece como dono de um veículo com dívida de IPVA relativo ao ano de 2024. Em publicação do Diário Oficial do Estado, um débito no valor total de 2.967,19 (IPVA, juros e multa) está vinculado ao veículo de placas ARV-2G43, que tem como domicílio a cidade de Osasco, na Grande São Paulo. Trata-se de um ônibus urbano da marca Volkswagen, ano de fabricação 2009, cor laranja, modelo INDUSCAR APACHE U. O veículo está avaliado em aproximadamente R$ 80 mil.

Jhonny Conceição de Oliveira pode ter vendido o veículo e o comprador não transferiu os documentos, mas um empresário (sic) cuja empresa embolsou R$ 60 milhões em apenas dois contratos com a Prefeitura de Tucuruí não pode ser displicente a tal ponto. Se o ônibus ainda é de propriedade de Jhonny, o valor do IPVA em atraso corresponde 0,005% do montante recebido pelos dois contratos. Resumindo, o professor de matemática não foi didático o suficiente ou tem algo estranho nessa epopeia.

Anestesiando a população

Não é só de obras suspeitas que vive Tucuruí. Considerando que o descaso oficial tomou conta da cidade, certamente em benefício de uma minoria corrupta, o prefeito Alexandre Siqueira decidiu anestesiar a opinião pública local.

A Prefeitura de Tucuruí contratou, por R$ 1 milhão, com o apoio do governo do Pará (leia-se Helder Barbalho), um show da cantora Simone Mendes para encerrar o Carnaval da cidade, em março passado. A municipalidade anunciou o evento como “100% gratuito”, o que não condiz com a realidade, pois o cachê da cantora foi pago com dinheiro público. A população não tem acesso a saneamento básico, saúde e educação, mas isso é mero detalhe. (Clique)

(Imagem: Instagram Prefeitura de Tucuruí)

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