Lula não é Caco Antibes, mas cada um tem a Magda que merece

(*) Ucho Haddad

Não é a primeira vez que afirmo não ter a mais rasa simpatia por Rosângela Lula da Silva, a Janja. Também não é a primeira vez que admito que Ruth Cardoso deixou saudade. Em relação a Janja, respeito-a como primeira-dama até a página dois, porque para tudo na vida há limite. Até mesmo para ser abusado.

Dona Janja há muito ultrapassou as fronteiras do bom-senso. É preciso que alguém avise a essa senhora que primeira-dama é um papel meramente decorativo, com direito a algumas incursões na área social, de preferência, mas sem qualquer representatividade oficial. Resumindo, não cabe à primeira-dama acionar insistentemente a manivela do histrionismo.

Janja está se especializando em gafes, ao mesmo tempo em que coloca o governo Lula e o Brasil em maus lençóis. Em novembro passado, durante evento paralelo ao G20, no Rio de Janeiro, a primeira-dama alçou à mira da sua verborragia o bilionário tresloucado Elon Musk. “Acho que é o Elon Musk. Eu não tenho medo de você. Inclusive, fuck you, Elon Musk”, disparou. O repertório de gafes é extenso e não darei holofote a essa senhora.

Na China, onde Lula cumpriu agenda oficial e cujo ponto alto foi encontro com o presidente Xi Jinping, a primeira-dama brasileira não perdeu a oportunidade e lançou ao vento mais uma declaração descabida, que surpreendeu e constrangeu inclusive a comitiva brasileira.

Durante o encontro entre Lula e Xi, dona Janja pediu a palavra, algo fora do protocolo, e passou a criticar a rede social chinesa TikTok. Longe de saber o que significa o protocolo de um evento com chefes de Estado, Janja disse que o TikTok representa enorme desafio em meio ao avanço da extrema direita no Brasil. Para a primeira-dama, o algoritmo favorece a extrema direita.

Sempre cerimonioso, Xi Jinping não levou o desaforo para casa e rebateu afirmando que o Brasil pode, dentro da própria legislação, regular a rede social e, caso necessário, banir. Até a primeira-dama chinesa, Peng Liyuan, demonstrou irritação com a postura – talvez a falta de postura – de Janja no evento, que não tinha previsão de declarações.

Após a repercussão da gafe, Lula resolveu sair em defesa de Janja. O problema maior é que defender o indefensável pode se transformar em perigosa armadilha. O maridão zeloso foi além e, quando questionado por jornalistas sobre o desaire da patroa, criticou o vazamento da fala de Janja.

“A primeira coisa que acho estranho é como é que essa pergunta chegou à imprensa. Porque estavam só os meus ministros lá, o Alcolumbre e o Elmar. Alguém teve a pachorra de ligar para alguém e contar uma conversa de um juntar muito confidencial e pessoal”, declarou o comiserado Lula.

“Janja pediu a palavra para explicar o que está acontecendo no Brasil, sobretudo com as mulheres e as crianças. Foi só isso”, minimizou.

“Foi uma coisa normal e ele vai mandar uma pessoa. Isso que importa. Não sei porque alguém achou que isso era novidade e foi falar para imprensa. A pergunta foi minha e eu não me senti incomodado. O fato de a minha mulher pedir a palavra é porque ela não é cidadã de segunda classe, entende mais de rede digital do que eu”, completou o presidente brasileiro.

O argumento “mulher de segunda classe” é balela que reverbera apenas entre a companheirada. Aos que têm doses de tutano, soa como desculpa tosca e rasteira de quem tenta explicar o que não tem explicação.

Até onde sei – posso estar errado ou desatualizado –, dona Janja não tem cargo no governo e tampouco é porta-voz da Presidência. Consentir de forma deliberada com a saia justa que a primeira-dama impõe ao governo e ao Estado brasileiro aqui e acolá é no mínimo demonstração de delinquência intelectual

Janja, para infortúnio dos adeptos da coerência, enxerga o Palácio do Planalto, onde tem gabinete ao lado do de Lula, como um caramanchão do sindicato da esquina mais próxima. Se Janja quer continuar a vestir a cangalha do ativismo esquerdista – que nada de errado tem –, que faça por conta própria, jamais pegando carona nas viagens oficiais do marido para destilar abelhudices mundo afora. Aliás, o suado dinheiro do contribuinte não serve para patrocinar sua “insouciance”. De vexames internacionais bastam os protagonizados pelo golpista fracassado que já flerta com a Papuda.

O fato de Lula estar encantado com Janja, algo que confidenciou em reunião política reservadíssima e informal, antes da posse, não confere à primeira-dama o direito de fazer e dizer o que bem entender, como e quando quiser, porque de insensatez com chancela oficial o brasileiro está farto.

O Lula de hoje já não exibe a coragem e a ousadia dos tempos de sindicalismo. Corajoso e ousado ainda fosse, se espelharia em Caco Antibes, personagem de Miguel Falabella no humorístico “Sai de Baixo”. Cada um tem a Magda que merece, mas se a ordem do dia é cultivar o cipoal de estultices, o melhor é apelar para a competente Marisa Orth. Afinal, rir não tem imposto.

Relembrar o bordão de Caco Antibes é desnecessário!

(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, fotógrafo por devoção.

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