Participação de Flávio Bolsonaro na CPI do Crime Organizado é sarcasmo desmedido

O Senado Federal instalou, nesta terça-feira (4), Comissão Parlamentar de Inquérito que investigará o crime organizado, incluindo milícias e facções que se dedicam ao tráfico de entorpecentes e outros delitos.

A presidência da CPI ficará sob a responsabilidade do senador Fabiano Contarato (PT-SP), enquanto a relatoria caberá ao senador Alessandro Vieira (MDB-SE), autor do requerimento de criação da comissão, que terá 120 dias para investigar o crescimento das facções e milícias no País.

A instalação da CPI foi anunciada na última quinta-feira (30), dois dias após a megaoperação policial que deixou 121 mortos nos Complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro.

No rol dos integrantes da CPI do Crime Organizado consta o nome do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). A participação do filho “01” do ex-presidente e golpista Jair Bolsonaro é um escancarado deboche, se considerados fatos de passado recente.

Flávio Bolsonaro venceu a disputa para o Senado, no ano de 2018, em praticamente todas as seções eleitorais da favela de Rio das Pedras, reduto da milícia mais antiga da cidade do Rio de Janeiro.

Em 30 de junho de 2020, a Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu, no âmbito da Operação Tânatos, dois irmãos acusados de um assassinato em março de 2018, Leandro (“Mad”) e Leonardo (“Tonhão”) Gouvêa da Silva. A dupla integra, de acordo com o Ministério Público (MP) fluminense, um grupo com “ligação estreita” com o ex-capitão da PM Adriano Magalhães da Nóbrega, miliciano morto em 9 de fevereiro de 2020 na Bahia, e seu Escritório do Crime.

Nóbrega era o alvo principal da Operação Intocáveis, realizada em janeiro de 2019 contra a milícia de Rio das Pedras, comunidade na zona oeste da capital fluminense onde Flávio e Jair Bolsonaro lideraram as votações.

Valdenice de Oliveira Meliga, irmã dos policiais militares e milicianos presos, Alan e Alex Rodrigues de Oliveira, assinava cheques em nome de Flávio Bolsonaro e foi sua tesoureira na campanha ao Senado, em 2018.

Enquanto deputado estadual, Flávio Bolsonaro empregou em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) a mãe e a mulher de Adriano da Nóbrega, cujo Escritório do Crime foi acusado de envolvimento na morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

Adriano era ligado a Fabrício Queiroz, motorista e segurança de Flávio e amigo de Jair Bolsonaro pai há pelo menos três décadas. Queiroz foi acusado de ser o responsável pelo recolhimento de parte dos salários dos assessores lotados no gabinete do filho “01” na Alerj. Os valores recolhidos eram encaminhados posteriormente à família de Flávio Bolsonaro por meio do pagamento de boletos de planos de saúde e escolas particulares.

Queiroz teria utilizado contas bancárias de Adriano da Nóbrega para “esquentar” o dinheiro repassado pelos assessores parlamentares. Entre a movimentação suspeita, consta um cheque de Queiroz no valor de R$ 24 mil destinado à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

De acordo com o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Fabrício Queiroz movimentou R$ 7 milhões em três anos. Não por acaso, em 2019, Queiroz pagou em dinheiro vivo ao Hospital Albert Einstein, em São Paulo, as despesas (R$ 133 mil) de internação e de cirurgia para a retirada de um tumor no intestino.

Resumindo, a participação do senador Flávio Bolsonaro na CPI do Crime Organizado é semelhante à raposa que toma conta do galinheiro.