A Polícia Federal acredita que um contrato de R$ 8 milhões entre o grupo de varejo Casino e a empresa do jornalista Mário Rosa seja “ideologicamente falso” para justificar pagamentos à jornalista Carolina Oliveira, mulher do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT). As suspeitas foram levantadas a partir de relatórios da Operação Acrônimo, que tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Nas últimas duas décadas, Mário Rosa tem sido um dos mais ativos consultores de imagem e “gerenciadores de crise” de políticos e empresas. Na residência da mulher do governador petista a PF encontrou uma planilha que indicava R$ 362 mil como “valores recebidos do Casino”.
O jornal “Folha de S. Paulo” apurou que a empresa de Carolina, a Oli Comunicação, que tem apenas um funcionário registrado, recebeu, de fato, R$ 2,98 milhões da empresa de Rosa, a MR Consultoria, relativos ao contrato com o Casino, que vigorou de 2011 a 2014.
A primeira-dama de Minas Gerais recebeu pagamentos mensais que oscilaram de R$ 65 mil a R$ 183 mil entre 2012 e 2014. Para a PF, os pagamentos têm relação com a gestão de Pimentel à frente do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), pasta que chefiou de 2011 a 2014 e à qual está vinculado o BNDES.
“Acredita-se que Mário Rosa tenha ‘contratado’ Carolina para facilitar o lobby que teria feito junto ao MDIC/BNDES, obter o benefício solicitado ao Casino e que parte desse pagamento indevido seria repassado para Carolina”, destacou a PF em relatório.
Enquanto isso, a defesa do Casino declarou à PF que os pagamentos à MR estão relacionados a “uma verdadeira guerra” entre o Casino e o seu então parceiro no Grupo Pão de Açúcar, Abílio Diniz, e que não houve benefício do BNDES ao grupo empresarial francês.
Diniz tentou fazer uma fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour com recursos do BNDES, em 2011. Entretanto, o Casino atuou “combatendo veementemente essa proposta”, de acordo com a petição entregue pelo Casino à PF. Em julho do mesmo ano, o BNDES desistiu da operação. Isso permitiu que o Casino assumisse, em 2013, o controle acionário do Pão de Açúcar.
Na época, Pimentel era ministro e Carolina trabalhava como assessora no BNDES. O Casino ressalta que, como contratou a MR após a decisão do banco, não faz sentido ser colocado sob suspeita de ter buscado benesses no governo.
Os jornalistas Mário Rosa e Carolina Oliveira e o Grupo Casino negaram quaisquer irregularidades nos pagamentos realizados pelo grupo varejista à MR Consultoria, assim como declararam que foram prestados os serviços de comunicação e gerenciamento de crise previstos no contrato e seus aditivos.
“Fui contratado como consultor de comunicação de uma das maiores empresas privadas do país para atuar em assunto que foi resolvido no âmbito privado, sem nenhuma interferência do governo”, disse Rosa. “Quando fui contratado, esse assunto do BNDES já havia sido resolvido”, afirmou o jornalista.
Já o defensor de Carolina Oliveira, Pierpaolo Bottini, afirmou que ela, a convite de Rosa, prestou “serviços de comunicação” ao Casino, auxiliando Rosa em “gestão de crise” e que serão apresentadas à Justiça provas da afirmação.
O advogado disse ainda que a suspeita de que os pagamentos sejam uma fachada “é uma ideia extremamente injusta”. “Carolina tem e-mails demonstrando que trabalhou para esses clientes e trabalhou bastante. Nem ela nem Pimentel tinham qualquer ingerência sobre decisões do BNDES”, ressaltou.
Em nota, o Grupo Casino afirmou que os contratos com a MR, relacionados à disputa com Abílio Diniz, a partir de julho de 2011, “contemplaram todos os requisitos exigidos por lei e seus termos seguiram padrões de mercado, consistentes com aqueles firmados pelo Grupo Casino com outros profissionais no mesmo ramo de atuação”. E acrescenta: “Os serviços prestados pela MR Consultoria foram comprovados às autoridades competentes e são de conhecimento público. O Grupo Casino reafirma que jamais contratou Carolina Pimentel ou qualquer de suas empresas”.