Maurício Macri, de 56 anos, assume nesta quinta-feira (10) a presidência da Argentina como primeiro líder da direita liberal a chegar ao poder pelas urnas. A promessa de Macri é mudar o modelo econômico adotado em doze anos de governos (peronistas) de centro-esquerda.
O presidente eleito fará o juramento no Congresso, mas sem a presença da atual presidente, Cristina Elisabet Fernández de Kirchner. Ela desistiu de comparecer à cerimônia depois de um pedido judicial de Macri para que seu mandato terminasse à meia-noite de quarta-feira e não no momento da posse, como estabelece a Constituição.
Macri recorreu à Justiça para dirimir uma disputa protocolar com Kirchner sobre o modo e o local da cerimônia de transferência. A disputa cerimonial aprofundou o confronto. “Vem uma mudança de época”, declarou Macri em 22 de novembro, quando derrotou no segundo turno o peronista de centro Daniel Scioli, apoiado por Cristina.
O papel estratégico do Estado, a substituição de importações e os subsídios sociais foram o eixo da política kirchnerista.
Desde a vitória, o líder da “Frente Mudemos”, que tem como aliada a União Cívica Radical (UCR), ressaltou seu rumo ideológico. Ele é defensor do livre mercado e dos investimentos estrangeiros, pretende recompor as relações com os Estados Unidos, abaladas durante o kirchnerismo.
Macri ainda designou para o gabinete ex-executivos da companhia aérea LAN, Deutsche Bank, Shell, Hewlett Packard, HSBC, Monsanto e Fundo Pegasus, entre outros.
Alfonso Prat-Gay, ex-diretor do JP Morgan, será ministro da Fazenda. Susana Malcorra, que trabalhou na Telecom e IBM, antes de ser chefe de gabinete do secretário-geral da ONU Ban Ki-moon, será a chanceler.
Maurício Macri é um engenheiro nascido em uma família de imigrantes italianos, donos de um império de negócios. Ele estudou no exclusivo Colégio Cardenal Newman e graduou-se na influente Universidade Católica, foi executivo do Citibank e estudou em universidades dos Estados Unidos.
É casado com a empresária Juliana Awada, 41 anos, e tem três filhos do primeiro casamento, nenhum do segundo e uma filha pequena de seu matrimônio com Awada. Entrou para a política depois de presidir o Boca Juniors, um dos clubes mais populares da Argentina, em um período de muitos títulos da equipe.
A eleição de Maurício Macri estabeleceu um marco, pois na história argentina as eleições livres haviam registrado como vencedores candidatos do campo peronista ou radical social-democrata.
A discórdia
No dia 24 de novembro, Macri se reuniu com Cristina Kirchner na residência dos Olivos e anunciou que a transferência de poder aconteceria no Congresso. Porém, aliados do presidente eleito começou a suspeitar que as mobilizações nas ruas de apoio a Cristina poderiam resultar em atos hostis ou agressões.
A Constituição argentina estabelece que o presidente assume ao prestar juramento ante a Assembleia Legislativa no Congresso. Contudo, Macri pediu a atual presidente que entregasse o bastão, faixa presidencial e partitura da marcha militar “Ituzaingó”, atributos de comando, na Casa Rosada. Ela se negou e os dois chegaram a discutir por telefone.
Cristina disse que o presidente eleito faltou com o respeito a uma mulher. E, por fim, sua ausência da cerimônia foi confirmada.
Antes da era kirchnerista em 2003, as transferências de poder aconteceram na Casa Rosada, seguindo uma tradição histórica.
Enquanto essas brigas de bastidores acontecem, foi adiada a reativação de um mercado único de câmbios. “Acontecerá quando existirem as condições”, revelou Prat-Gay.
A venda de dólares é restrita. Acabar com o chamado ‘cepo cambiário’ foi uma promessa de Maurício Macri para 11 de dezembro, mas o Banco Central perdeu reservas de quase 10 bilhões de dólares desde setembro por pagamentos da dívida e compras de pequenos poupadores.
O presidente eleito afirma que o maior problema do país é a inflação, de 20% a 30% ao ano. O poder aquisitivo do salário foi mantido graças a uma lei de negociações sindicatos-empresas com reajustes de valor igual ou maior que a inflação.
O novo modelo de Prat-Gay é um acordo geral de preços e salários. Outra negociação acontecerá com o mediador judicial Dan Pollack em Nova York, pela disputa com os fundos especulativos (abutres). A Justiça de NY decidiu contra Buenos Aires no pleito por 1,6 bilhão de dólares. Prat-Gay considera que é indispensável uma solução para retornar ao mercado financeiro global.
Malcorra ainda defende uma mudança ao pragmatismo na política externa. Ela admitiu que a Argentina poderia vender trigo ao Irã, apesar de Macri rejeitar qualquer acordo com Teerã. Ex-funcionários do governo iraniano são acusados por um violento atentado contra o centro judaico AMIA em Buenos Aires em 1994.