Não foi por acaso que o UCHO.INFO afirmou que a conversa entre Dilma Rousseff e o vice Michel Temer rendeu uma nota pífia por parte da presidente da República. Horas após o encontro, ocorrido na noite da última quarta-feira (9), no Palácio do Planalto, Dilma ignorou as próprias palavras e partiu para o ataque. Durante a reunião palaciana, Temer pediu à presidente para não interferir em questões do PMDB, mas a petista não compreendeu. Tanto é assim, que Dilma manteve suas investidas e retomou a operação para reconduzir o deputado federal Leonardo Picciani (PMDB-RJ) à liderança da legenda na Câmara.
Picciani foi despejado do cargo por negociar diretamente com o governo, em especial durante a reforma ministerial, o que foi considerado uma traição pela cúpula do partido. Ciente de que o fantasma do impeachment vem crescendo e que Leonardo Picciani é um aliado e de fácil negociação, a presidente não tem poupado esforço para dar o troco em Michel Temer, que a ela endereçou carta contundente e polêmica, e em Eduardo Cunha, que aceitou o pedido de impedimento.
Essa manobra palaciana tem todos os ingredientes para se transformar em mais um tiro no pé de Dilma Rousseff, já que a chance de a ala pró-impeachment crescer no PMDB aumenta à medida que cresce a investida do governo contra o partido. E tudo o que Dilma não pode pensar é que Michel Temer e Eduardo Cunha são amadores na política.
Derradeiro porto seguro do governo no caso do impeachment, o Senado também passou a ser alvo da artilharia de Dilma, que agora tenta deixar o PMDB em situação de constrangimento. Temendo uma derrota no Senado, o que lhe custaria o cargo, a presidente escolheu o ex-ministro Ciro Gomes para articular um movimento de senadores contra o impedimento.
Acontece que Ciro Gomes é visceral adversário político do senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), líder do partido no Senado Federal. Eunício, outro profissional nas hostes peemedebistas, já disse que nem mesmo em sonho aceitará a tutela de Ciro Gomes, um destemperado conhecido que abusa da soberba. Isso significa que Dilma está trabalhando contra ela mesma, pois suas investidas acontecem na contramão da lógica política, se é que isso existe em seara tão complexa.
Esse movimento do Palácio do Planalto contra o PMDB é suicida e já levou o presidente nacional da legenda, Michel Temer, a tomar medidas drásticas no âmbito partidário para barrar as pretensões da presidente da República, que a qualquer preço tenta escapar do impeachment.
Há nesse imbróglio um detalhe que muitos ainda desconsideram: ao enviar a polêmica carta à presidente, Michel Temer estava consciente e já tinha feito todas as contas possíveis para calcular a extensão do caminho que pode levá-lo ao principal gabinete do Palácio do Planalto.